Omnicom oficializa compra do ABC, via DDB
Sem dar detalhes financeiros, grupo norte-americano diz que aquisição de 100% da holding brasileira deve ser concluída no primeiro trimestre de 2016
Sem dar detalhes financeiros, grupo norte-americano diz que aquisição de 100% da holding brasileira deve ser concluída no primeiro trimestre de 2016
Alexandre Zaghi Lemos
23 de novembro de 2015 - 9h35
O Grupo Omnicom acaba de oficializar a compra de 100% do Grupo ABC, o maior conglomerado de agências de publicidade e serviços de marketing controlado até então pelo capital nacional. A aquisição será feita via DDB Worldwide, uma das principais divisões globais do Omnicom, que também controla as redes BBDO e TBWA. O comunicado oficial ressalva que a transação está sujeita à aprovação de órgãos regulatórios do Brasil, com a expectativa de que esteja concluída no primeiro trimestre de 2016 – como sempre acontece em casos de aquisição no mercado publicitário, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não deve ser empecilho.
O comunicado oficial não dá detalhes financeiros, mas reportagem publicada pelo Meio & Mensagem na sexta-feira, 20, informou que o negócio gira em torno de R$ 1 bilhão, a ser pago em cinco anos, e é o maior da história do mercado publicitário brasileiro. O balanço oficial do ABC reporta lucro de R$ 42,2 milhões em 2014. O contrato assinado com o Omnicom prevê a permanência de Guga e Nizan no comando do ABC por um prazo mínimo de cinco anos.
No anúncio oficial são citadas apenas seis agências do ABC: Africa, Loducca, CDN, Sunset e NewStyle, além da DM9DDB, que já era controlada pela rede DDB. Entretanto, o negócio envolve todas as empresas controladas pela holding brasileira e aquelas nas quais tem participação minoritária. Além das citadas, o ABC controla Tudo, Musica, Escala, Morya, Pereira & O’Dell Brasil, Salve, Rocker Heads e Mindigitall. E através da sociedade que já mantinha com o Omnicom, é responsável pela gestão não só da DM9DDB, mas também do escritório brasileiro da Interbrand, ambos já ligados à DDB.
Embora não esteja citada no comunicado oficial, a Pereira & O’Dell EUA também está incluída no negócio, mas a transferência para o Omnicom será de parte minoritária da agência. Nos últimos meses, foram concluídas negociações para diminuição na fatia do ABC na agência norte-americana. A holding vendeu 21% das ações da POD que detinha para a agência comandada por PJ Pereira e Andrew O’Dell. Assim, a participação do ABC que será repassada para o Omnicom diminuiu de 51% para 30%. Essa negociação não inclui o escritório brasileiro da POD, que se fundiu com a DM9Sul em julho, no qual o ABC tem o controle acionário (51%).
“O Grupo ABC é amplamente reconhecido como uma empresa extraordinária, com trabalho criativo impressionante e expertise em várias disciplinas. Por muitos anos, o Grupo ABC tem sido um grande parceiro do Omnicom, e seu enorme talento fortalecerá nossa capacidade de fazer negócios não apenas no Brasil, mas no mundo todo”, declara John Wren, presidente e CEO do Omnicom Group, via comunicado oficial.
Está confirmado também que Nizan Guanaes e Guga Valente, que fundaram o Grupo ABC em 2002, seguem em seus atuais papéis de comando das agências brasileiras. “Estamos num mundo de disrupção, escala e inovação, e o Omnicom vai aumentar o poder de nossas empresas de competir num momento de mudanças tecnológicas extraordinárias”, diz Guga Valente, CEO do Grupo ABC. “Omnicom tem as agências mais criativas e premiadas do mundo, e isso é muito importante para mim e para todos nós no ABC. Juntos, estaremos mais preparados para servir aos nossos clientes com todas as inovações e capacidades digitais que os negócios demandam hoje”, acrescenta Nizan – ambos via comunicado oficial.
"Essa parceria unirá ainda mais duas companhias que compartilham os mesmos valores e ambições criativas. Eu conheço Nizan e Guga há mais de uma década e admiro seu sucesso tanto no Brasil quanto no exterior. Eles são um tremendo ganho para DDB e Omnicom, e estamos muito entusiasmados com a oportunidade de combinar nossos ativos para ajudar nossos clientes a crescer”, diz Chuck Brymer, CEO da DDB Worldwide, no texto do anuncio oficial.
Leia também: Nizan Guanaes: “O jogo mudou”
A seguir, outras informações sobre a compra do ABC pelo Omnicom:
Sociedade desde 1997
O relacionamento societário de Nizan Guanaes e Guga Valente com Omnicom iniciou-se em 1997, quando a dupla vendeu para a rede DDB, integrante da holding norte-americana, o controle acionário da DM9, agência que haviam comprado de Duda Mendonça em 1989. Em 2002, a parceria aumentou com a fundação do Grupo ABC (na época, Ypy). Atualmente, o Omnicom tem participações em quatro agências administradas pelo Grupo ABC: a multinacional é majoritária na DM9DDB (60%) e no escritório local da Interbrand (60%), e detém participações minoritárias na Africa (15%) e na Loducca (9%).
Bazinho e BFerraz fora da venda
Na semana passada, Bazinho Ferraz, até então dono de cerca de 10% da holding brasileira, vendeu sua participação no Grupo ABC e recomprou o controle total da BFerraz, agência de marketing promocional que fundou em 1999 e, assim, retomou vida independente. “A holding está indo em outro rumo e, para mim, está na hora de voltar a caminhar sozinho”, disse Bazinho ao Meio & Mensagem. Também não foi incluída na venda para o Omnicom a XYZ Live, que fez spin off, se tornando independente do Grupo ABC em 2011, e na qual outros sócios do ABC e Bazinho Ferraz continuam como acionistas.
Fundos saem do negócio
O ABC tem dois sócios investidores que deixam o negócio com a venda para o Omnicom: o Icatu, presente desde o início, com cerca de 23% das ações, e Kinea, controlado pelo banco Itaú, que, no início de 2013, fez aporte próximo de R$ 170 milhões e detém participação de cerca de 26%.
Sonho não realizado
O sonho de Guga e Nizan era viabilizar a saída dos fundos através da abertura de capital do Grupo ABC, plano acalentado durante anos e que motivou grande investimento da holding na melhoria de sua governança. Entretanto, as dificuldades inerentes à oferta de ações em bolsa aliadas à difícil situação atual da economia brasileira inviabilizaram totalmente o projeto e abriram caminho para a negociação de venda para o Omnicom – beneficiada pela desvalorização do real frente ao dólar. Encerrando, assim, o projeto da dupla de formar uma "multinacional brasileira".
Fim da discrição do Omnicom
Ao contrário do WPP e do francês Publicis Groupe, que fizeram várias aquisições importantes no Brasil nos últimos anos, o Omnicom se mantinha mais discreto. Sua última compra no setor da publicidade foi a da agência Mood, no ano passado, quando também fez duas aquisições no mercado de relações públicas: parte majoritária da Ketchum e minoritária da In Press.
Ranking global
Segundo o Agency Report, publicado anualmente pelo Advertising Age, após queda de 8% em 2013, o ABC retomou o crescimento, com avanço de 9% em 2014, atingindo receita US$ 403 milhões. Apesar disso, caiu da 23ª para a 25ª posição no ranking global, liderado pelo WPP (US$ 19 bilhões), com o Omnicom (US$ 15 bilhões) em segundo. A rede DDB teve receita de US$ 2,9 bilhões. O balanço oficial do ABC reporta lucro de R$ 42,2 milhões em 2014.
Maior operação do Omnicom
Com a compra do Grupo ABC, a holding se tornará a maior operação do Omnicom no País, onde a multinacional também controla a AlmaBBDO (na qual é majoritária desde 1988), a Lew’Lara\TBWA (comprada em 2007), a Mood (em 2014), além da digital ID (que controla desde o lançamento em 2007). O Omnicom também mantém no Brasil diversas empresas ligadas à sua área Diversified Agency Services (DAS), como a Rapp (marketing direto e digital), a GMR Marketing (esportes e entretenimento) e as agências de relações públicas InPress Porter Novelli, Ketchum e FleishmanHillard.
Até então, maior grupo controlado pelo capital nacional, o ABC é controlador das agências Africa, Loducca, Pereira & O’Dell Brasil, Escala, Morya, Tudo, Musica, CDN, NewStyle, Sunset, Salve, Rocker Heads e Mindigitall. E através da sociedade que já mantinha com o Omnicom, é responsável pela gestão da DM9DDB e do escritório brasileiro da Interbrand, ambos têm a DDB como majoritária. O ABC mantém ainda joint venture com a Sodet, empresa de inovação instalada no Porto Digital, no Recife, na consultoria de negócios digitais Much More, e participação minoritária na 301, agência especializada em produzir e comprar mídia para vídeos em plataformas digitais.
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