Época Negócios adiciona nova personagem ao “caso Vivo”
Reportagem da revista narra desentendimento entre as ex-diretoras Cris Duclos e Heloísa Genish, esposa do CEO Amos Genish
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Meio & Mensagem
7 de outubro de 2016 - 17h02
A edição de outubro da Época Negócios, disponibilizada nesta sexta-feira, 7, traz reportagem sobre o “caso Vivo”, adicionando uma nova personagem até então não citada pela imprensa. Trata-se de Heloísa Genish, esposa do CEO da Telefônica Vivo Amos Genish, e que era diretora de gestão responsável e sustentável da empresa. A revista narra um desentendimento entre Heloísa e a ex-diretora de imagem e comunicação Cris Duclos, demitida em junho sem justa causa e com indenização.
Ex-presidente do Instituto GVT, após a incorporação pela Vivo Heloísa Genish assumiu a área de gestão responsável e sustentável, e passou a cuidar de projetos culturais – o que teria a aproximado da área de marketing. A Época Negócios conta que Heloísa chegou até a participar da equipe do anunciante que assistiu as apresentações das agências de publicidade que disputaram a concorrência pela conta no fim do ano passado.
“No início do ano tivemos problemas, quando Heloísa me comunicou que iria precisar da verba utilizada pela Vivo no patrocínio do torneio de tênis Brasil Open”, afirmou Cris à reportagem da Época Negócios. Heloísa pretendia direcionar para projetos culturais a verba de R$ 3 milhões prevista para patrocínio do evento esportivo, o que acabou acontecendo.
A revista conta ainda que Heloísa e Cris deixaram a Vivo na mesma época, com a homologação de ambas sendo feita no mesmo dia. À Época Negócios, a Vivo informou que Heloísa pediu demissão “por questões pessoais” – a revista adiciona que, oficialmente, a informação interna dava conta de um problema de saúde.
Entenda o “Caso Vivo”
No dia 9 de junho, Cris Duclos foi demitida da Vivo, onde atuava desde 2008 e ocupava o posto de diretora de imagem e comunicação. Desde o dia 21 de julho, ela e seu marido, o publicitário Ricardo Chester, atual diretor de criação na AlmapBBDO, estão envolvidos publicamente em um suposto caso de corrupção privada contra a empresa de telefonia, que teria sido praticado em conluio com agências de publicidade e outros fornecedores de marketing. Naquela data foi publicada pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real por assinatura do jornal Valor Econômico, a primeira reportagem sobre o caso, que nas semanas anteriores era um tema bastante comentado nos bastidores do mercado. Diversos blogs e outros veículos de mídia, inclusive do exterior, passaram a noticiar o assunto. Em geral, baseados em informações de fontes informais, publicaram que Cris Duclos foi demitida após o CEO da Telefônica Vivo, Amos Genish – egresso da GVT e no cargo desde maio do ano passado –, ter determinado investigação interna que teria comprovado desvios financeiros em contratos da área de marketing. Algumas reportagens, como as da rádio Jovem Pan e da TV Bandeirantes, disseram que o caso havia gerado rombo de R$ 27 milhões. Chester foi envolvido na polêmica acusado de receber propina através de seu contrato com a Africa, uma das agências que atende a conta da Vivo e onde ele atuou entre 2012 e 2014.
Apesar da repercussão, com exceção de comunicados oficiais lacônicos, nenhum diretor da Telefônica ou de qualquer outra empresa que trabalha com o anunciante falou publicamente sobre o assunto. A única manifestação pública da Telefônica foi uma resposta formal à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que, baseada em reportagem do Valor Econômico, questionou a empresa sobre a auditoria interna. Na resposta, do dia 26 de julho, a área de relações com investidores da Telefônica disse que auditorias e revisões em procedimentos e contratos são “atividades rotineiras”, mas negou qualquer procedimento em curso “com as características referidas” na reportagem do Valor. Sobre a demissão de Cris Duclos, reiterou a “prática de não comentar questões dessa natureza”. Embora o caso tenha continuado na pauta de alguns veículos da mídia, a Telefônica se restringiu ao comunicado à CVM e não quis se pronunciar mais sobre o caso. O mesmo fizeram as três agências de publicidade que atendem a conta da Vivo. Africa, DPZ&T e Y&R assinaram comunicado conjunto, distribuído no dia 29 de julho, que se limitou a repetir a declaração da Telefônica à CVM.
No dia 13 de setembro, Cris Duclos entrou com ação judicial na 33ª Vara do Trabalho de São Paulo contra a Telefônica, pedindo reintegração de seu emprego e instalação de uma sindicância interna pela empresa. No dia seguinte, ela e o marido receberam a reportagem de Meio & Mensagem – no mesmo dia também falaram a outros veículos –, se disseram vítimas de boatos que ferem a reputação de ambos e até impedem a recolocação profissional de Cris Duclos e anunciaram as medidas práticas que tomaram para tentar resolver o caso. Até então, além da executiva ter atendido a reportagem do Valor antes da publicação inicial e de um post conjunto com o marido no Facebook no dia 29 de julho, eles também não haviam falado com a imprensa sobre o caso, que, segundo eles, trata-se de uma “luta pela reputação” do casal.
No dia 29 de setembro aconteceu a primeira audiência na justiça sobre o “caso Vivo”, encerrada com a quebra de uma cláusula de sigilo que impedia a divulgação da forma da rescisão do contrato entre a Telefônica Vivo e Cris Duclos. Com isso, tornou-se público que a demissão da executiva foi feita sem justa causa e com indenização. Para Cris, foi uma primeira vitória no que ela chama de “luta pela reputação”. “Como alguém é demitido por irregularidades e não é demitido por justo motivo? Isso prova que nada fiz de errado.” Os demais pleitos nesta ação judicial serão discutidos em uma próxima audiência.
“Antes de entrar na justiça, nós tentamos negociar amigavelmente com a Vivo. Os advogados ficaram semanas conversando, para que a Vivo se pronunciasse. Pedimos simplesmente uma declaração da empresa. Como não conseguimos, entramos com um pedido de liminar. Não se trata de uma briga com a Vivo, é um pedido formal, através da justiça, para que haja uma sindicância que eu, ou alguém que o juiz determinar, possa acompanhar. Meu objetivo é que sejam abertos os documentos, para provar que eu não fiz nada errado. Se existe alguma denúncia, alguma irregularidade, eu tenho o direito de saber para o contraditório. Se não houve nada, quero que a empresa se pronuncie. Essa história não foi encerrada, fica parecendo que foi abafada. Eu quero buscar a prova da minha inocência”, explicou Cris na entrevista concedida ao Meio & Mensagem no mês passado.
Para a ex-diretora, o fato da Vivo não negar de forma mais enfática as acusações contribui para o “alastramento do boato”, prejudicando sua reputação profissional e sua recolocação no mercado – segundo ela, pelo menos dois processos seletivos nos quais estava incluída foram interrompidos após o caso. Cris disse que fez diversos contatos com diretores da Telefônica e enviou e-mails inclusive para o CEO Amos Genish, pedindo que eles se pronunciassem publicamente, o que não aconteceu. “O Valor me disse ter ouvido a informação de fontes do alto escalão da empresa”, frisa ela. “Não houve descredenciamento de nenhum fornecedor, de nenhuma agência, não só de publicidade, mas de qualquer disciplina, e não houve nenhum código de ética feito. Se tinha uma irregularidade, um desvio, teria de ter mais alguém envolvido. Só sobrou eu nessa história? Onde está a irregularidade? Com qual fornecedor? Quem da equipe participava? Eu nunca negociava valores, o que era feito pela área de compras. Qualquer contrato da empresa era assinado por dois diretores e autorizado pelo jurídico. É um processo bastante rígido”, disse Cris.
Na entrevista do mês passado ao Meio & Mensagem, o casal também falou sobre outras duas acusações contra eles. Sobre a compra de um terreno no o condomínio Fazenda Boa Vista, no interior de São Paulo, que, segundo um blog, teria custado R$ 4 milhões pagos em espécie – fato que teria gerado a desconfiança do CEO da Telefônica Vivo, Amos Genish, que possui casa no mesmo local. Segundo Cris, o casal de fato comprou um terreno de 3 mil metros no condomínio, em outubro do ano passado, por R$ 1,6 milhão pagos com cheque administrativo, e incluiu a aquisição nas respectivas declarações de imposto de renda.
Sobre a acusação de ter sido contratado pela Africa após a agência vencer uma concorrência da Vivo, por salário acima do mercado, Chester diz que quando chegou à agência a conta já estava lá há anos. “Não tive salário milionário e coloquei duas condições para ir para a Africa: que a Vivo fosse consultada para saber se havia alguma restrição, porque a última coisa que quero na vida é atrapalhar a carreira da Cris, e que eu, em hipótese alguma, trabalhasse em campanhas para a empresa”. Segundo a reportagem da revista Época Negócios, de 2013 a 2014, Chester recebeu na Africa salário mensal de R$ 75 mil.
Além do processo judicial, Cris e Chester contrataram a auditoria financeira Grant Thornton, para analisar os seus ganhos e movimentações financeiras nos últimos cinco anos. “É uma iniciativa nossa para deixar claro que não temos absolutamente nada a esconder. Que o nosso patrimônio é compatível com o de um casal que guarda dinheiro há vinte anos. Contratamos a quinta maior auditoria do País, a fim de provar que não temos o produto desse absurdo dos R$ 27 milhões. Eu e minha mulher somos vítimas de uma coisa muito cruel. Temos provas de que somos vítimas de uma armação, cujos interesses nós desconhecemos. E, mais ainda, é uma coisa absurda que tudo isso seja comentado e até hoje não exista uma denúncia oficial, não há a cara de quem está falando isso, as três agências que atendem a Vivo continuam trabalhando para o cliente, que não reclama nada. Mesmo assim, as pessoas acreditam na boataria. O veneno circula, e nós não fizemos nada. Ter que falar da própria inocência é muito doloroso. A calúnia é muito danosa, nossa vida está de ponta cabeça e nós temos medo da perspectiva de futuro”, disse Chester. “Com a auditoria, que leva 15 dias, queremos provar que não houve recebimento de nenhum dinheiro ilícito. Nem R$ 1 mil, nem R$ 27 milhões”, acrescentou Cris. O casal está sendo assessorado pela Peixoto & Cury Advogados e pela Giusti Comunicação.
Envolvidos no caso Vivo se manifestam
Caso Vivo incomoda agências e produtoras
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