Yellow e Mobike disputarão compartilhamento de bicicletas
Em São Paulo, a startup brasileira e a empresa chinesa deverão começar a operar quase simultaneamente, a partir deste segundo semestre
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Sergio Damasceno Silva
4 de julho de 2018 - 8h01
A partir deste mês, a cidade de São Paulo verá um volume alto de bicicletas amarelas pelas ruas. Ao todo, a startup Yellow, fundada por Renato Freitas e Ariel Lambrecht (também criadores da 99Táxi, vendida para a chinesa Didi Chixing) e Eduardo Musa (ex-Caloi), deve distribuir 20 mil bikes por várias regiões da capital paulista. Simultaneamente, deverão chegar mais duas mil bicicletas laranjas (a mesma cor das bikes do Itaú) da chinesa Mobike, que é considerada a maior empresa mundial de compartilhamento de bicicletas. As empresas não revelam a data exata de chegada por questões estratégicas: vão oferecer, basicamente, o mesmo serviço e querem chegar antes do concorrente.
A Yellow, por exemplo, tem divulgado o serviço desde abril. Em comum, além do serviço, Mobike e Yellow trabalharão com aplicativos para celular, no modelo de negócios baseado em compartilhamento de bicicleta pelas quais se pagará pelo uso. Ao contrário das estações do Itaú, por exemplo, as empresas trabalharão sob o sistema dockless, em que a bicicleta é liberada num local e entregue em outro. Não tem limitações geográficas. As unidades da Yellow ficarão presas pela roda traseira por cadeado eletrônico que, por meio de código de barras ou QR code, poderá ser liberado pelo app do usuário.
“Durante muito tempo, estudei a bike como solução efetiva para a mobilidade urbana integrar a matriz de transporte da cidade. O caso mais conhecido na cidade são as laranjinhas do Itaú, que é um sistema com estação, mas que nunca se provou como solução efetiva de mobilidade urbana. Primeiro porque o sistema está mais baseado numa operação de mídia do que de mobilidade urbana. Tem o patrocinador que quer ver sua marca com o máximo de exposição, com estações em local de alta visibilidade. Segundo, há um problema de limitação de lugares que as estações têm: se chegar dez pessoas de uma só vez, não tem bicicleta. Tem que caminhar até a outra estação que nem sempre está tão próxima. Por outro lado, na hora de devolver a bike, a estação pode estar cheia e a pessoa tem que andar até outra estação à procura de vaga”, diz o CEO da Yellow, Eduardo Musa, para explicar o modelo da startup.
As bicicletas da Yellow serão produzidas no Brasil, com especificação da empresa, sob encomenda, por fabricantes de bikes nacionais. Já as da Mobike serão, no primeiro momento, importadas da China. “Estamos nos preparando para iniciar as operações no segundo semestre. Como São Paulo não é apenas uma grande cidade, mas também um de nossos maiores mercados em potencial para compartilhamento de bicicletas, nossa base de usuários e a demanda por mais bicicletas vai aumentar de maneira rápida logo após colocarmos as primeiras bicicletas nas ruas. Estamos nos preparando para iniciar as operações com cerca de duas mil bicicletas, porém, de acordo com a demanda, estudaremos a possibilidade de aumentar, diminuir ou manter esse número. Em cidades com tamanhos similares a São Paulo, operamos milhares de bicicletas e fazemos milhões de viagens por dia. Por isso, estamos extremamente otimistas com a implementação da operação e vamos gerenciar as bicicletas de maneira a termos uma escala adequada, com um fornecimento efetivo que, por enquanto, virá da China”, explica o vice-presidente de expansão internacional da Mobike, Chris Martin.
Legislação municipal
Quanto à legislação, Musa, da Yellow, lembra que São Paulo foi uma das cidades pioneiras a se antecipar na legislação específica que já incorporava os dois modelos (de compartilhamento, como a própria Yellow, e de empréstimo, como Itaú e Bradesco Seguros). “O arcabouço jurídico legal existe. São Paulo é uma das poucas cidades a ter lançada uma legislação específica para o sistema de compartilhamento de bicicletas. Não é uma concessão, mas tem que respeitar uma série de regras e, certamente, quem começar primeiro vai aprender muito”, afirma o CEO. Para Musa, tanto São Paulo quanto outras cidades brasileiras têm condições ideais para implantar o sistema, com mais aspectos positivos do que negativos: “A maioria das cidades brasileiras são planas. O segundo ponto é que o clima ameno do País permite pedalar o ano inteiro. E, por fim, a malha do transporte público é ineficiente e insuficiente. As pessoas têm que andar quase um quilômetro, em média, entre a sua casa e o seu ponto de entrada na malha de transporte público e, depois, tem que fazer entre três ou quatro baldeações”, detalha. Martin, da Mobike, concorda e diz que São Paulo é uma das poucas cidades no mundo e a primeira no Brasil a implementar um conjunto de regulamentações para fornecedores de bicicletas compartilhadas dockless. “A cidade desenhou uma regulamentação moderna para o início das operações de todas as empresas desse segmento na cidade”, afirma.
Sobre o modelo de negócios, Mobike e Yellow, a princípio, sobreviverão do aluguel das bicicletas. “Por enquanto, nossas receitas serão provenientes dos usuários. A integração de bicicletas no dia a dia dos usuários é suficiente para gerenciar o negócio. Embora a propaganda não faça parte do modelo de negócios principal da Mobike, seu uso correto — dependendo do mercado local — é algo que continuaremos a explorar. Já testamos alguns serviços em algumas cidades em que estamos presentes e um modelo similar pode ser reproduzido no Brasil sem dificuldades”, assegura o CEO da Mobike. A empresa opera nove milhões de bicicletas inteligentes em mais de 200 cidades e 19 países. Dados da empresa informam que as bicicletas são utilizadas 30 milhões de vezes por dia. “Não descartamos a publicidade, mas nosso sistema é quase de transporte público. Os usuários vão pagar para usar. Não divulgamos ainda o sistema de pagamento porque é uma informação estratégica, mas será mais barato do que uma passagem de ônibus”, diz o CEO da Yellow.
Histórico das bikes na cidade
A chegada da Mobike e Yellow ao mercado de bicicletas deve ampliar o interesse por esses veículos na cidade. São Paulo, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET)”, tem 498,3 km de vias com tratamento cicloviário permanente (dos quais 468 km são de ciclovias/ciclofaixas e 30,3 km de ciclorrotas). O ciclista paulistano tem 6.149 vagas em bicicletários públicos e 121 paraciclos públicos instalados nos terminais de ônibus e nas estações de trem e metrô. A ciclovia é uma pista de uso exclusivo de bicicletas e outros ciclos, com segregação física do tráfego motorizado ou não motorizado. A ciclofaixa é uma faixa de rolamento de uso exclusivo à circulação de ciclos, com segregação visual do tráfego e a ciclorrota tem sinalização cicloviária específica em pista de rolamento compartilhada com os demais veículos, onde as características de volume e velocidade do trânsito na via possibilitam o uso de vários modos de transporte sem a necessidade de segregação.
Quanto aos demais projetos existentes na cidade, a diferença está no modelo e, sobretudo, na estação: enquanto Mobike e Yellow chegam com compartilhamento (pago) e dockless, Itaú e Bradesco Seguros oferecem empréstimo (gratuito na primeira meia hora e depois pago por hora adicional) de bicicletas que têm que ser retornadas à estação. O projeto do Itaú começou em 2011. O banco não abre os números da cidade de São Paulo, mas contabiliza 8,3 mil bicicletas que somam 20 milhões de viagens em deslocamentos no Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Salvador (BA) e cidades em Pernambuco como Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes, e também em Santiago, no Chile. Já o projeto CicloSampa é uma iniciativa da Prefeitura de São Paulo, com o apoio da Bradesco Seguros e do Movimento Conviva. A Bradesco Seguros também é, há sete anos, a patrocinadora da CicloFaixa de Lazer de São Paulo, que consiste em 120,7 km de ciclofaixa por toda a cidade e funciona aos domingos e feriados nacionais das 7h às 16h. No CicloSampa, são 17 estações interligadas aos pontos cicloviários já existentes, como o entorno da CicloFaixa.
(Crédito da foto do topo: iStock)
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