Brasil no beat da música eletrônica
Empresas como Entourage, Artist Factory e Box Talents investem no potencial do gênero e em parcerias com marcas
Empresas como Entourage, Artist Factory e Box Talents investem no potencial do gênero e em parcerias com marcas
Victória Navarro
26 de abril de 2019 - 15h41
Para Marcelo Arditti, um dos sócios da agência de representação e gerenciamento de artistas e produção de eventos Entourage, apesar de existirem locais em que o mercado é mais maduro, como Estados Unidos e Europa, o número de pessoas que consome esse gênero no Brasil cresce a cada ano. “Basta olhar para DJs que levam o nome do Brasil mundo afora, sendo muito bem recebidos e valorizados em festivais importantes. Além disso, temos recebido muitos festivais estrangeiros, o que fomenta ainda mais o cenário eletrônico nacional”, adiciona Gabriel Lopes, CEO das empresas Artist Factory (direcionada a administração de profissionais do segmento, relação com marcas e realização de eventos) e Box Talents (de venda de shows).
A Entourage, fundada em 2008, produz mais de 70 eventos anualmente, como Só Track Boa, Kaballah e Time Warp. “Nos anos 2000, o mercado de música eletrônica no Brasil era incipiente, quase tudo era feito de forma amadora. Essa lacuna inspirou os sócios a enxergarem uma grande oportunidade de negócio, cujo preço seria se arriscar em uma aventura baseada naquilo que até então era o hobby de cada um”, conta Marcelo. A empresa possui 40 colaboradores, divididos entre as áreas eventos, bookings nacionais e internacionais, management, marketing, criação, captação, logística, financeiro, jurídico e recursos humanos. Por sua vez, a Artist Factory existe há dois anos. A união de dois de seus sócios também deu origem à Box Talents. “Fomos motivados justamente quando percebemos que, para construir uma carreira de sucesso, não basta vender o artista. É preciso planejamento, estratégia, relacionamento com gravadoras e parceiros, e essa expertise de ações só é possível quando realizado um trabalho completo de gestão artística”, diz Gabriel. Juntas, as companhias contam com 26 profissionais, distribuídos pelos setores de vendas, eventos, gerenciamento e agenciamento de artistas, marketing, financeiro e recursos humanos.
“O amplo território geográfico do País contribuiu para o nascimento e crescimento de diversos segmentos de música eletrônica” — Marcelo Arditti
O sócio da Entourage explica que, há dez anos, muito do que era feito no Brasil replicava o exterior. “Hoje, estamos ditando tendências, tanto do ponto de vista musical como da produção de eventos. O amplo território geográfico do País contribuiu para o nascimento e crescimento de diversos segmentos de música eletrônica, desde as boates fechadas nas zonas urbanas até festas a céu aberto nas zonas rurais”, fala. “O que toca hoje pode ser que não esteja tocando mais com a mesma frequência amanhã. E, isso é ótimo. Há alguns anos, existiam apenas festivais de trance, as raves. Esses festivais foram crescendo, atraindo mais gente e, por consequência, ampliando o estilo de música”, clarifica.
O setor nacional de música eletrônica é atrativo a novos artistas e produtores de eventos, explica Marcelo, uma vez que ainda existe uma demanda pelo gênero que precisa ser suprida. “O Brasil, por estar inserido no contexto de ampla diversidade, é relativamente flexível e aberto a novas ideias e formatos”, fala. No entanto, Gabriel aponta que fatores como legislação, altas taxas de câmbio e elevada carga tributária dificultam a atuação de empresas no setor brasileiro de música eletrônica. “Para novos entrantes no mercado, que ainda dispõem de poucos recursos, contratar artistas internacionais com as atuais taxas de câmbio, obter alvarás e pagar todos os impostos envolvidos na operação se torna, muitas vezes, uma tarefa muito difícil”, complementa o sócio da Entourage.
Diálogos com marcas
Uma das parcerias da Entourage este ano é com a Cervejaria Paraense Cerpa, que se tornou patrocinadora do Só Track Boa. “O mercado de música eletrônica conta com uma base de fãs altamente conectada, que interage de forma ativa com os ambientes que frequenta. O público não só assiste aos artistas, mas também compartilha com suas redes sociais as experiências que vive nos eventos. A tendência no trabalho com as marcas, dentro dos eventos, é criar espaços e ativações que sejam relevantes e despertem o desejo destas pessoas em compartilhá-las”, diz Marcelo. A empresa não trabalha com agências e todo seu conteúdo é desenvolvido internamente pelos times de marketing e criação.
Segundo Marcelo, a empresa cresceu 22%, em 2018, contratando 1.067 artistas e trazendo 145 shows internacionais para o Brasil. “A projeção de crescimento para 2019 é de 20%. A Entourage espera um crescimento de 115% nos patrocínios de 2018 para 2019, e aposta na capilaridade dos eventos para isso”, fala o profissional.
A Artist Factory começou 2018 com mais de dez artistas e tem projeções positivas para este ano. Já começou com o Lollapalooza, por exemplo, quando o palco eletrônico foi um dos destaques. Além disso, a Artist Factory e a Box Talents terá um de seus artistas, Alok, como foco do palco principal do Rock in Rio. “Ele será o primeiro DJ brasileiro a tocar nesse palco e isso, sem dúvidas, reforça a cena eletrônica nacional e abre portas para os próximos artistas”, diz. Gabriel conta, ainda, que tem percebido uma procura cada vez maior de marcas que se associam a imagem de alguns artistas de música eletrônica. O Liu, por exemplo, foi garoto propaganda do Bradesco para o Lollapalooza e, recentemente, estreou uma campanha do desodorante Axe, da Unilever, e um comercial para Volkswagen, entre outras ações.
*Crédito da foto no topo: divulgação
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