Natura adquire operação global da Avon
Transação cria o quarto maior grupo de beleza do mundo, com faturamento bruto superior a US$ 10 bilhões
Transação cria o quarto maior grupo de beleza do mundo, com faturamento bruto superior a US$ 10 bilhões
Roseani Rocha
22 de maio de 2019 - 16h40
Reportagem publicada na edição online do Financial Times nesta quarta-feira, 22, afirmava que a brasileira Natura estava em fase final das negociações para aquisição da Avon Products Inc. (a operação global da Avon, exceto América do Norte) e essa transação seria feita por troca de ações. O veículo especializado em economia já cravava que a Natura seria detentora de 76% da companhia combinada e que o valor estimado da Avon na transação é de US$ 2 bilhões (o valor de mercado da empresa, listada na bolsa de Nova York, é de US$ 1,42 bilhão).
Com a repercussão da notícia, a Natura primeiro divulgou Fato Relevante ao mercado e seus acionistas confirmando as negociações com a Avon Products Inc. – coisa que já havia feito em março – e, dando um passo adiante, ratificou que essa operação envolvia troca de ações (all-share merger) que resultaria na combinação dos negócios, operações e bases acionárias da Natura e da Avon.
O comunicado ainda dizia que as empresas estavam negociando os termos e condições contratuais finais da transação (sujeita às aprovações regulatórias e por órgãos de administração e bases acionárias das duas partes). Apesar de encerrar a mensagem dizendo que não havia como garantir que uma transação definitiva seria anunciada “ou ainda os outros termos de qualquer eventual acordo”, no final desta quarta-feira, no entanto, a Natura soltou um press release confirmando a aquisição da Avon Products Inc. e, com ela, a formação do quarto maior grupo exclusivo de beleza no mundo e líder na relação direta com o consumidor (o modelo de venda direta era o principal tanto da Natura quanto da Avon).
As interpretações para o interesse de aquisição da Avon pela Natura seguiam duas linhas de pensamento: uma mais ligada à complementação de portfólio, já que a Avon é uma marca mais popular e, principalmente, porque o negócio seria uma forma de a Natura expandir seus negócios para novas regiões – a Avon é forte em mercados como Turquia, África do Sul e sul da Ásia.
A justificativa oficial da Natura para o negócio é que ele “amplia a capacidade da Natura & Co de atender diferentes perfis de clientes, em diversos canais de distribuição, expandindo sua atuação para novas regiões”, ou seja, um misto das duas interpretações citadas anteriormente.
Em setembro de 2017, a Natura já havia concluído a aquisição da The Body Shop, rede de origem inglesa que saiu das mãos da L’Oréal numa negociação estimada em um bilhão de euros. Antes disso, em 2013, a multinacional brasileira também havia se tornado majoritária nos negócios da australiana Aesop. Naquele ano, as três marcas juntas representavam operações em 69 países, 3.200 lojas, 18 mil colaboradores e 1,8 milhão de consultoras.
Agora, a combinação que inclui a Avon mantém o número de lojas, mas eleva para 6,3 milhões o de representantes e consultoras e para 40 mil, o de colaboradores distribuídos por cem países. Além disso, a Natura & Co passa a ter um faturamento bruto anual superior a US$ 10 bilhões, tendo como público mais de 200 milhões de consumidoras em todo o mundo.
A Natura & Co também estima que a combinação dos negócios gere sinergias avaliadas em algo entre US$ 150 milhões e US$ 250 milhões anuais que serão parcialmente reinvestidos para aumentar a presença das marcas em canais digitais e mídias sociais, pesquisa & desenvolvimento, iniciativas de marca e expansão da presença geográfica do grupo.
“O Conselho da Avon está confiante que a Natura será uma parceira poderosa para a marca, ao mesmo tempo em que oferece mais escala, operações e oportunidades ampliadas para colaboradores e representantes, além de tremendo potencial de ganho para acionistas de ambas as empresas. Temos a satisfação de apoiar essa combinação transformadora”, afirmou em comunicado Chan Galbato, presidente do Conselho da Avon.
A Natura confirmou que passa a deter 76% da companhia combinada para o que foi criada uma nova holding brasileira – Natura Holding S.A – e os acionistas da Avon, 24%. Após a conclusão do negócio, as ações da Natura Holding S. A. serão listadas na B3, com 55% do capital em circulação, e ADRs (American Depositary Receipt, recibos de ações emitidos nos EUA para negociar ações de empresas de fora do país na Bolsa de Nova York) listadas na NYSE. Os acionistas da Avon terão opção de receber ADRs negociados na NYSE ou ações listadas na B3.
Também quando estiver concluída a aquisição, o que é esperado para o início de 2020, o Conselho de Administração da nova empresa terá 13 membros, três dos quais designados pela Avon.
Em entrevista recente a um veículo de mídia nacional, Artur Grynbaum, CEO do Grupo Boticário, afirmou que o grupo paranaense não teve interesse em disputar a Avon, porque seria tirar foco de seu principal mercado para assumir uma grande complexidade. A Natura, ao contrário, parece não temer complexidades.
(*) Matéria atualizada na quinta-feira, 23 de maio, às 11h56, com a correção da informação de que a aquisição da Natura não inclui a operação da Avon na América do Norte.
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