Nasa: uma marca americana no imaginário coletivo
Com a conquista da Lua, há 50 anos, a agência espacial impulsionou seu projeto de popularidade: primeiro, com intenso licenciamento; hoje, também via redes sociais
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Thaís Monteiro
19 de julho de 2019 - 7h36
Desde que fez a humanidade pisar na lua por meio dos três astronautas da missão Apollo 11, há 50 anos, o posicionamento da Nasa enquanto marca mudou bastante. Hoje, a agência espacial norte-americana se faz intensamente presente pelas redes sociais, estampando seu logo e outros símbolos em moletons, acessórios, brinquedos, mochilas, livros e até comida espacial.
O aspecto pop dessa presença em massa da Nasa no cotidiano é proposital. Como a agência é um órgão público, ela precisa da aprovação e aceitação da população para continuar recebendo recursos para desenvolver seu trabalho de pesquisa e exploração do espaço. Com a iniciativa privada adentrando cada vez mais o sistema solar, a força da marca Nasa se torna mais necessária.
Como é uma instituição pública, a agência não exige taxa nem ganha participação dos lucros obtidos com a venda de produtos licenciados, o que facilita a popularização da identidade visual da Nasa. Ela está em produtos de empresas como Vans, Target, Forever 21, Old Navy, Nike, Walmart, Coach e Urban Outfitters. Para a marca ter os logos da agência, ela deve entrar em contato e submeter os designs para aprovação. De acordo com Bert Ulrich, integrante da comunicação da Nasa em entrevista ao portal Racked, o número de marcas procurando lançar produtos da Nasa aumentou consideravelmente nos últimos anos por causa das redes sociais e filmes como Estrelas Além do Tempo, Interestelar, Gravidade e Perdido em Marte.
“Como todo campo que exige um investimento muito alto, a Nasa e os programas espaciais convivem com um debate constante sobre sua relevância”, diz Thomás Debeus, líder de equipe da FutureBrand São Paulo. “A expressão ‘It’s rocket science’ não poderia ser mais verdadeira: são bilhões de dólares do orçamento americano gastos em pesquisa e desenvolvimento. Nesse sentido, estar ativa é fundamental para mostrar relevância e despertar interesse no assunto. Alguns de seus papéis são fomentar a curiosidade, criar mercado, gerar demanda continuamente. Estamos vivendo um período muito interessante na exploração espacial com o surgimento de novas empresas como a Space X e a Blue Origin, ambas de capital privado.”
A presença da Nasa em redes sociais começou no final de 2008, inicialmente pelo Twitter. Seis meses depois iniciou também sua atuação no Facebook, e hoje está no Snapchat, Instagram, Youtube, Vimeo, Flickr, Tumblr, Sound Cloud, Google+ e outras. Eduardo Apolinário, diretor de relacionamento com clientes da Sprinklr, aponta que “a melhor maneira de conversar e se relacionar com metade da população mundial (3,5 bilhões de pessoas) encontrada pela agência foi pelas redes sociais”. A Sprinklr é empresa parceira da agência: a Nasa administra mais de 500 perfis em plataformas digitais.A ideia, diz Eduardo, é atingir toda a humanidade conectada de forma democrática. “As redes sociais são um meio no qual é possível ouvir o que as pessoas tem a dizer de forma direta e não pré-formatada (como um questionário, por exemplo). A resposta do público ao conteúdo publicado tem um peso muito forte sobre a aceitação do público se aquela determinada operação espacial, ou pesquisa teve sucesso ou não”, explica.
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Na visão de Thomás, a Nasa se tornou um ícone pop e patrimônio com seu papel de fomentadora da ciência e da tecnologia: “Grande parte do seu acervo é disponibilizado ao público, a agência produz ou inspira a criação de milhares de conteúdos ano a ano. Mas o que acho mais valioso é que a sua influência se dá, em grande parte, pela abertura e interlocução com outras agências espaciais, nações, polos de pesquisa, universidades, escolas. Um dos maiores méritos da NASA é horizontalizar e conseguir atingir governos ou indivíduos com a mesma potência. É liderar pela inspiração, de fato”.
No mundo da lua e além
O movimento de se aproximar do público, seja via internet ou como um ícone de consumo, vem de uma transformação de posicionamento da empresa. Thomás lembra que quando a Nasa foi criada, no final dos anos 1950, foi resultado de uma disputa política com o programa espacial soviético. “Um símbolo desse período, para mim, é o discurso do ex-presidente Kennedy sobre o desafio dos americanos de levar o homem à Lua pela primeira vez. Naquele momento, havia uma competição e a Nasa simbolizava o sonho americano”, diz.
Hoje, com o fim da corrida espacial e um protagonismo dos Estados Unidos além da órbita terrestre, a agência se coloca como fomentadora de conhecimento compartilhado sobre o espaço. “Ainda que americana e no papel de protagonista, a agência representa um ideal coletivo, e de certa forma mais humanista, sobre a nossa busca por conhecimento e o nosso papel no universo”, conclui o executivo da FutureBrand São Paulo.
**Crédito da imagem no topo: Nasa/Unsplash
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