“Inovação é sobre cultura e mindset”
No 7º episódio da série Transições, Stephanie Peart, criadora da insurtech Komus, fala como levar os conceitos de marca e marketing para um ambiente regulado
No 7º episódio da série Transições, Stephanie Peart, criadora da insurtech Komus, fala como levar os conceitos de marca e marketing para um ambiente regulado
Luiz Gustavo Pacete
12 de setembro de 2019 - 6h00
Com passagens por Lew’Lara\TBWA e AlmapBBDO, Stephanie Peart entendeu cedo que sua vocação era para a tecnologia e o empreendedorismo. Recém-formada criou seu primeiro projeto, um agregador de e-commerce de moda que fracassou. Depois, fundou a Komus, plataforma de seguros com foco em mobile, projeto a que se dedica atualmente.
“Qualquer empresa que deseja inovar precisa trabalhar com cultura. Dificilmente você consegue fazer a inovação acontecer sem trabalhar o mindset das pessoas e os processos de trabalho”
No 7º episódio da série Transições, Stephanie explica a importância do storytelling para o empreendedorismo e a aplicação da tecnologia focada na resolução de problemas. “Muitas iniciativas, seja de uma marca ou uma startup, criam tecnologias incríveis, mas se não estiver resolvendo uma dor das pessoas (e não da marca), não vai vingar. O processo de inovação é muito mais sobre cultura e mindset do que sobre a tecnologia em si”
Meio & Mensagem – Como foi o processo de decisão e transição do mundo corporativo, no caso publicitário, para tornar-se uma empreendedora?
Stephanie Peart – Sempre trabalhei com estratégia, mas desde cedo me envolvi com tecnologia e sempre tive o desejo de empreender. Assim que eu saí da faculdade, em 2012, eu criei (em paralelo com a agência) um agregador de e-commerces de moda chamado Lookst. Acabamos descontinuando o projeto depois de dois anos, mas nesse processo eu aprendi bastante sobre startups e empreendorismo. Eu fiz uma especialização em design thinking, decidi que realmente queria trabalhar com tecnologia e comecei a me envolver com esse universo.
“Tem muita startup no Brasil com tecnologias e propostas muito interessantes, que ninguém nunca ouviu falar. Existem muitas oportunidades de parceria que poderiam ser exploradas pelas marcas, se elas se aproximassem desse ecossistema”
A quais projetos você se dedica atualmente?
Fundei a startup Komus e há um ano trabalho no projeto fulltime. Estamos criando o primeiro seguro para smartphones com cashback do Brasil. O mercado de seguros é extremamente regulado, por isso estamos tendo que superar uma série de barreiras para conseguir lançar. Passamos por uma série de programas de empreendedorismo até agora, incluindo o Startup Zone, do Google for Startups, e fomos acelerados pela ACE Startups. Na aceleração, validamos o negócio e terminamos de desenvolver o produto. Além disso, fundamos a Associação Brasileira de Insurtechs junto com o escritório Pinheiro Neto e as outras startups, com o objetivo de dialogar com a SUSEP, órgão regulador, para flexibilizar a regulamentação para insurtechs.
De que maneira os teus aprendizados como publicitária estão sendo aplicados e úteis no dia-a-dia?
Hoje vejo que minha experiência com estratégia tem muita sinergia com o processo de validação de uma startup: é preciso analisar o mercado para identificar oportunidades, fazer pesquisa com consumidores para identificar as principais “dores” e criar uma estratégia para resolver esse problema. A diferença é que nesse caso é voltado para produto, mas o processo de trabalho tem muita coisa em comum. Além disso, saber colocar ideias em apresentações e vender projetos me ajudou muito. As habilidades de storytelling são fundamentais na hora de empreender. Você não tem capital, então é preciso vender o sonho para achar sócios, captar investimento, entrar em programas e fazer com que todos trabalhem na mesma direção.
Agora o oposto, quais ensinamentos você está tendo do ecossistema empreendedor que você aplicaria na publicidade?
Eu aplicaria o mindset ágil e a cultura de testes, usando mais dados e feedback do consumidor para direcionar as estratégias e os investimentos de mídia. A metodologia de growth hacking, por exemplo, é algo que as agências poderiam implementar. Além disso, processos mais integrados e horizontais. Muitas startups e grandes empresas de tecnologia operam de forma horizontal, em squads autônomos, mas não vejo isso nas agências – processo de trabalho ainda é muito departamentalizado.
“Muitas iniciativas, seja de uma marca ou uma startup, criam tecnologias incríveis, mas se não estiver resolvendo uma DOR das PESSOAS (e não da marca), não vai vingar. O processo de inovação é muito mais sobre cultura e mindset do que sobre a tecnologia em si. “
Pode indicar insights que sua experiência recente lhe gerou em termos de consumo, experiência, inovação e marketing?
Uma mudança de pensamento que eu tive foi sobre a relevância do “micro”. O macro – conceito, filme e grande ação no digital são fundamentais, mas cada micro contato com o consumidor também faz muita diferença na conversão. Ilustrando com o universo de tecnologia, às vezes é um botão ou uma palavra que você muda que faz toda a diferença na performance e no entendimento da sua proposta de valor. Não adianta usar tecnologia se você não está resolvendo um problema real dos consumidores.
Veja as outras entrevistas das Série Transições:
“Cultura de compartilhamento fortalece a inovação”
Renato Dias, CEO do Taqe, ressalta a importância do entendimento da estrutura de grandes empresas para o dia a dia das startups
“O publicitário vai muito além da propaganda”
Gal Barradas, fundadora da Gal Barradas Brand&Venture, fala da construção de marcas por meio do propósito
“Inovação deve estar no dia a dia de todos”
André Foresti, fundador da Troublemakers, comenta o papel da mentalidade ágil na resolução de problemas
A tecnologia exigirá maior proposta de valor do marketing
Alexandra Mendonça, chief revenue officer da Winclap e ex-Mercado Livre, analisa os desafios das martechs
Os desafios de não transformar inovação em commodity
Daniel Chalfon, sócio da Astella Investimentos, fala sobre o equilíbrio entre conhecimento e suporte a novos empreendedores
Os aprendizados de uma marca community-driven
Jéssica Gomes, ex-Mutato e creative content da startup Sallve, comenta a responsabilidade na desconstrução de estereótipos
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