“Profissionais de marketing, foquem no problema”
No 9º episódio da série Transições, Gabriela Onofre, CMO da Acesso Digital, fala sobre a importância da tomada de decisão baseada na resolução das dores do consumidor
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Luiz Gustavo Pacete
26 de setembro de 2019 - 6h00
Ao deixar a Johnson & Johnson, em maio deste ano, após um processo de reestruturação, a então diretora global de marketing para a marca Sempre Livre, Gabriela Onofre, que também passou pela P&G, enxergou que o mundo de inovação e empreendedorismo era também uma realidade para ela. Em agosto, Gabriela assumiu como CMO da startup brasileira Acesso Digital, fundada em 2007 por Diego Martins, Rui Jordão e Paulo Alencastro, com a atividade principal de digitalizar documentos.
“Muitas vezes nas grandes empresas começamos pelo problema do cliente ou do consumidor mas nos apaixonamos por nossos produtos e soluções e eles viram o centro das atenções”
“Tenho 20 anos em empresas grandes, onde fui muito feliz e aprendi muito, mas o mundo está mudando pelo impacto da transformação digital e essa velocidade é difícil de acompanhar dentro de uma empresa grande. Do ponto de vista pessoal, eu queria acompanhar essa transformação e viver uma nova cultura de trabalho.” Essa certeza veio após um processo de coaching onde Gabriela entendeu que sua motivação estava no empreendedorismo e na inovação. “Fui atrás de VCs (Venture Capital), falei com pessoas que tinham feito esta mudança, me inscrevi em processos de seleção de algumas startups, até que o Diego Martins me achou por uma indicação”, relembra.
No 9º episódio da série Transições, Gabriela Onofre fala sobre a importância do profissional de marketing tomar decisões baseadas em resolver dores e as principais diferenças de uma startup e de grandes empresas de consumo.
Meio & Mensagem – O que te levou ao ecossistema de inovação, por que esse tema te chamou a atenção?
Gabriela Onofre – Meu trabalho anterior foi liderar Sempre Livre globalmente, uma marca que precisava se conectar de novo com seu público adolescente. Isso só pode ser feito através de um resgate do propósito da marca, de uma nova linguagem e muita inovação em comunicação. A marca voltou a ter liderança de equity, o share voltou a crescer, mas todo o processo foi mais moroso do que precisaria. Isso me fez olhar para fora e entender onde o processo de inovação é valorizado, onde errar e aprender é permitido, e o mundo das startups tem tudo isso. Em paralelo, fiz um processo de coaching. Entendi que o desafio de crescimento me move, que eu tenho uma veia empreendedora, que me adapto bem ao caos e mudanças, além de adorar trabalhar com inovação. Daí para o mundo das startups foi um pulo, o pulo de um novo networking a ser criado. E isto foi o que mais levou tempo. Fui atrás de VCs (Venture Capital), falei com pessoas que tinham feito esta mudança, me inscrevi em processos de seleção de algumas startups, até que o Diego Martins, fundador da Acesso Digital me achou por uma indicação.
“As startups são muito focadas em resolver o problema, e para isso o entendem, prototipam a solução , experimentam, fazem de novo, e todo este processo é muito rico”
De que maneira os aprendizados como executiva em anunciante estão sendo aplicados e sendo úteis no dia-a-dia?
Eu cheguei na Acesso Digital em um momento em que ela está escalando seu crescimento. Trago uma visão forte de negócio, o conhecimento em liderança de pessoas e em estruturar áreas, além do conhecimento técnico na área de comunicação e construção de marca. Como eu vim para montar a área de marketing e comunicação, a primeira coisa do dia a dia foi conhecer as pessoas, os produtos, ir visitar muitos clientes e entender suas dores e como nós estamos, ou não, resolvendo seus problemas. A partir daí estou montando a estratégia do negócio, enquanto monto o time, defino entregas e agências com que vamos trabalhar.
Agora o oposto, quais ensinamentos você está tendo nessa nova realidade que você aplicaria no marketing?
O primeiro para mim, que não deveria ser surpresa para nenhum profissional de marketing, é focar no problema. As startups são muito focadas em resolver o problema, e para isso o entendem, prototipam a solução , experimentam, fazem de novo, e todo este processo é muito rico. Muitas vezes nas grandes empresas começamos pelo problema do cliente ou do consumidor mas nos apaixonamos por nossos produtos e soluções e eles viram o centro das atenções. O segundo é toda esta ideia de MVP (Minimum Viable Product), criar uma solução, que não precisa estar 100% redonda, testar com o usuário para entender se resolvemos o problema, usabilidade, etc e ir melhorando com a interação do usuário. Nas grandes empresas se busca uma certeza de tudo, e isso não existe. E por último, há uma cultura de dono fortíssima, e não é só entre os fundadores.
“Nas grandes empresas se busca uma certeza de tudo, e isso não existe”
Veja as outras entrevistas das Série Transições:
“Experimentar é a base da inovação”
Leandro Ribeiro, cofundador da martech Match, fala sobre a importância do intraempreendedorismo
“Inovação é sobre cultura e mindset”
Stephanie Peart, criadora da insurtech Komus, fala como levar os conceitos de marca e marketing para um ambiente regulado
“Cultura de compartilhamento fortalece a inovação”
Renato Dias, CEO do Taqe, ressalta a importância do entendimento da estrutura de grandes empresas para o dia a dia das startups
“O publicitário vai muito além da propaganda”
Gal Barradas, fundadora da Gal Barradas Brand&Venture, fala da construção de marcas por meio do propósito
“Inovação deve estar no dia a dia de todos”
André Foresti, fundador da Troublemakers, comenta o papel da mentalidade ágil na resolução de problemas
A tecnologia exigirá maior proposta de valor do marketing
Alexandra Mendonça, chief revenue officer da Winclap e ex-Mercado Livre, analisa os desafios das martechs
Os desafios de não transformar inovação em commodity
Daniel Chalfon, sócio da Astella Investimentos, fala sobre o equilíbrio entre conhecimento e suporte a novos empreendedores
Os aprendizados de uma marca community-driven
Jéssica Gomes, ex-Mutato e creative content da startup Sallve, comenta a responsabilidade na desconstrução de estereótipos
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