Por que as startups estão demitindo colaboradores?
Com início de um novo ciclo econômico e capital escasso, empresas precisam reduzir a queima de caixa e provar sua lucratividade
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Taís Farias
9 de agosto de 2022 - 6h00
Em abril, a notícia sobre uma onda de demissões na startup de venda e aluguel de imóveis QuintoAndar gerou discussão. Nas redes sociais, os usuários questionavam o fato de meses antes a companhia ter sido patrocinadora do Big Brother Brasil. Em comunicado, o QuintoAndar afirmou que as demissões geraram uma redução de 4% da equipe.
Dois meses depois, a empresa de análise Empiricus demitiu 12% do quadro de funcionários, número que pode representar mais de 70 profissionais. No mês seguinte, a plataforma de compra e venda de imóveis Loft também reduziu 12% do seu quadro.
Ainda que emblemáticos, esses são só alguns dos casos de startups que anunciaram grandes demissões nos últimos meses. Outros nomes como Ebanx, Kavak, Facily, Vtex, Favo e Liv Up somam-se a essa lista.
Ainda que pareçam medidas isoladas, há um fator que une os cortes e momento vivido pelas startups: o início de um novo ciclo econômico. Basicamente, para superar a fase mais crítica da pandemia da Covid-19, os países fizeram uso de estímulos monetários, como uma injeção de liquidez e a baixa nas taxas de juros. Por liquidez, entende-se a facilidade com que um ativo, seja bem ou investimento, pode ser convertido em dinheiro. Estão incluídos nesses estímulos, os auxílios financeiros que foram dados à população.
Desde o fim do ano passado, o que temos visto não é só o fim desses estímulos, como outros fatores agravantes como a guerra na Ucrânia, que gerou uma crise energética, e pressões na cadeia de suprimentos. Somados, esses fatores representam mais inflação – ou seja, aumento geral no preço de bens e serviços – taxas de juros mais altas e menos liquidez. A economia esfria. “O que estamos vendo é a volta desse ciclo expansionista”, define Dan Yamamura, cofundador da Fuse Capital, gestora de venture capital.
A mudança no mercado afeta diretamente as startups. No momento de abundância de capital, é mais fácil para essas empresas captarem investimentos e sustentarem um modelo agressivo, que privilegia o crescimento. No entanto, quando o cenário é instável, esses mesmos investidores deixam de aportar seu dinheiro em investimentos arriscados para buscar ativos mais seguros, como a renda fixa, que ganhou valor com a alta dos juros.
Com recursos mais escassos, a estratégia de crescimento acelerado, por meio de rodadas de investimento, se torna mais difícil. Dessa forma, as companhias serão cobradas a comprovar sua lucratividade, apresentar uma gestão eficiente do uso de caixa e comprovar a sustentabilidade do negócio. Gustavo Gierun, CEO do Distrito, defende que o crescimento acelerado em detrimento de um caixa sustentável não é necessariamente uma falha, mas algo que fazia sentido no cenário de alta liquidez.
“Os investidores sabiam e escolhiam entrar nessas empresas porque a lógica das startups já prevê certa velocidade. O que pode se tornar uma falha é demorar a perceber essa mudança de mercado, e seguir projetando queima de caixa para crescimento. Em pouco tempo, o dinheiro pode acabar e a operação se tornará insustentável”, aponta o executivo.
Para contornar esse cenário, o confundador da Fuse Capital afirma que as startups vão precisar dominar a “arte de frear”. Isso é entender como continuar operando, mas com menos queima de caixa. Ou seja, gastando menos dinheiro. “As startups que não sabem gerenciar esse cenário vão sofrer”, afirma o executivo. Em contrapartida, ele lembra que companhias tradicionais já passaram por diversos ciclos econômicos e conseguiram se adaptar e sobreviver.
Nesse sentido, além dos cortes de custo, incluindo em equipe, essas empresas passam a rever o quanto estão dispostas a investir para conquistar um cliente, na comparação com o que esse mesmo usuário vai gerar de receita ao longo do tempo. Na prática, a pressão para monetizar os clientes, o que até então não era uma prioridade, se intensifica.
Ainda assim, Thiago Soares Zaidan Maluf, managing director da Igah Ventures reforça que o mercado vai continuar avançando no sentido da tecnologia. “Esse segmento vai continuar crescendo”, aponta. Despontam ainda opções alternativas de investimento, como modelos de crowdfunding, leilão aberto e a emissão de ações para startups do mercado primário.
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