Cartier segue apostando no mercado brasileiro
Grife prepara abertura de sua terceira boutique no País e enfatiza sua atuação em acessórios
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Roseani Rocha
18 de junho de 2015 - 8h00
Há 47 anos no Brasil, a grife fundada em 1847 pelo mestre-joalheiro Louis-François Cartier abrirá em setembro sua terceira loja no País. A boutique será inaugurada no shopping Iguatemi São Paulo e, por enfatizar a crescente presença da marca no mundo dos acessórios, terá metragem maior que suas duas outras unidades locais, nos shoppings Cidade Jardim (SP) e Village Mall (RJ).
Juntamente com o México, o Brasil é um dos dois países mais importantes para a marca na América Latina, segundo Christophe Massoni, presidente da Cartier América Latina e Caribe. Prova disso é que em 2016 uma única loja será aberta na região e ela estará em solo brasileiro, embora o executivo não divulgue em que cidade exatamente. Em entrevista ao Meio & Mensagem, Massoni nega que o mercado de luxo não tome conhecimento da situação econômica do País, mas ele se mostra seguro sobre os investimentos que a marca está fazendo.
O executivo está há quase 30 anos na Cartier e avalia que nesse período alguns fatores jamais mudaram, como os valores da marca. Reconhece, no entanto, que hoje a tecnologia, usada como plataforma de comunicação, demanda muito mais velocidade na forma como as empresas se comunicam. As negociações para a instalação da terceira loja no Brasil foram longas, mas Massoni justifica: “é melhor esperar, para fazer a coisa certa”.
Meio & Mensagem – A Cartier irá inaugurar este ano sua terceira loja no Brasil, em um momento em que a economia estagnada toma parte grande dos noticiários. O universo do luxo é totalmente alheio a esses cenários?
Christophe Massoni – Não, acho que estamos vivendo em um ambiente difícil, mas a Maison Cartier tem estado presente no Brasil por mais de 40 anos. Consideramos sempre o investimento em longo prazo, não olhamos para o curto prazo. Sabemos que a conjuntura econômica é cíclica, esperamos que a economia do Brasil se recupere e estamos reafirmando nosso comprometimento com o Brasil ao abrir aqui nossa terceira loja. É uma forma de mostrar que o mercado brasileiro é importante para nós, temos raízes de nossa Maison aqui no País e continuamos comprometidos. Embora a situação no momento seja difícil estamos olhando no longo prazo. Por outro lado, sabemos que o mercado está difícil, mas uma maison como a Cartier continua tendo uma boa performance. A clientela brasileira tem uma tendência a voltar aos valores. Sabe que pode comprar uma criação da Cartier, porque traz um patrimônio valioso, um valor intrínseco. Tudo isso é muito importante em uma situação de dificuldade, porque você sabe que se compra uma joia Cartier, por exemplo, em 20 anos ela terá o mesmo valor ou mesmo mais. Isso é muito importante.
M&M – O Brasil tem espaço para uma quarta loja? Se sim, onde, e para quando?
Massoni – No curto prazo, primeiro queremos implementar com sucesso esse plano da terceira loja. Queremos seguir passo a passo. No curto prazo, acho que não vamos abrir uma quarta loja, mas no médio prazo, por que não? Sabemos que dependerá do desenvolvimento do Brasil e da dinâmica da economia, mas no futuro não descartamos a ideia de inaugurar em uma outra cidade. Sabemos que algumas têm um grande dinamismo para considerarmos uma boutique, uma cidade como Brasília, Curitiba, talvez. Mas para mim dependerá da capacidade do Brasil. Nesta etapa consideramos São Paulo e o Rio as duas cidades principais para nossas boutiques, mas no longo prazo, por que não abrir em outras regiões ou cidades? O Brasil e o México são nossos dois principais mercados na América Latina. Em 2016, inauguraremos uma única boutique na região e ela estará no Brasil.
M&M – Quão maior será a loja do Iguatemi, em relação às outras duas que já existem no País? Divulgam o investimento na abertura dessa nova operação?
Massoni – As lojas que temos, em São Paulo e no Rio têm 200 metros quadrados. Essa terá 290 metros quadrados. Será uma boutique com dois pisos, como se fossem duas lojas, por isso, tem um tamanho um pouco maior. Será uma loja com uma fachada muito importante, no coração do shopping Iguatemi, onde teremos a possibilidade de expressar a singularidade da Maison Cartier.
M&M – As negociações com o Iguatemi duraram, pelas informações que recebi, mais de dez anos. São normais, no processo de expansão da marca, negociações tão longas?
Massoni – Não. Às vezes, as discussões levam mais tempo que o necessário, mas é mais uma questão de oportunidade. Avaliamos todas as condições. Hoje, avaliamos que o Iguatemi tem condições seguras, acreditamos que é o momento certo para abrir a loja. Não é uma prática geral levar dez anos para decidir abrir ou não uma boutique. Neste caso, talvez tenha demorado dez anos, mas é melhor esperar para fazer a coisa certa. No fundo, não é uma questão de tempo, mas de definições ou dar o passo certo para o sucesso. Acreditamos que hoje temos todos os ingredientes para sermos bem sucedidos no Iguatemi.
M&M – Como, em termos de marketing, essa inauguração será trabalhada?
Massoni – Estamos trabalhando muito próximos do Iguatemi para preparar uma bela inauguração. Queremos que seja, obviamente, muito exclusiva e impactante. Também queremos celebrar… você mesma notou, demoramos dez anos nessa negociação para abrir a boutique, então, queremos um evento memorável.
M&M – E como, de forma geral, a marca busca construir uma comunicação relevante com um público que tem acesso a tudo, tanto em termos de produtos quanto de serviços?
Massoni – Trabalhamos para sempre oferecer experiências memoráveis em nossas lojas ou na forma como criamos nossos produtos. Há sempre novas maneiras de criar. Não são apenas as criações, mas também as experiências que damos a nossos clientes, para mantê-los num humor desejável, com a combinação de oferecer uma criação excepcional e em fornecer um atendimento marcante. Essa é a razão pela qual somos tão restritos com nossas boutiques, para dar a nossos clientes VIP o ambiente correto para suas compras.
M&M – Ao comentar a disposição dos produtos na nova loja, vocês afirmam que “um novo conceito de exposição das coleções de acessórios da marca permitirão que os clientes estejam mais próximos dos produtos”. O luxo tem sofrido influência do varejo normal?
Massoni – Para nós é uma questão de dar aos clientes um acesso mais próximo aos nossos acessórios, criar a ambientação certa. Criamos uma área específica para acessórios. De novo, é melhorar a experiência do cliente. Sentimos a necessidade de dar mais acesso às criações, permitir às pessoas que provem uma bolsa, um par de óculos. É para elas se sentirem mais em sintonia com os ambientes de acessórios. Até por isso precisamos de mais espaço nas boutiques que estamos abrindo, para dar mais espaço aos acessórios e que cada categoria de produto tenha o tamanho correto para oferecer suas experiências. No passado, acessórios eram muito limitados. O fato de hoje termos um conceito inteiramente dedicado a acessórios dá uma experiência diferente ao cliente. De novo, diz respeito a dar essa melhor experiência aos nossos clientes e não necessariamente responder a uma tendência ou prática de marketing. Sentimos necessidade de dar mais espaço aos acessórios.
M&M – Como o senhor definiria luxo e o que distinguiria a Cartier entre as demais marcas desse universo?
Massoni – Diferenciaria a Cartier de um ponto de vista livre da questão da competição. Primeiro, temos uma excelente habilidade, muito única, especialmente quando se fala em joalheria. Temos excelentes talentos, quanto você olha a coleção de joias que lançamos a cada ano pode reconhecer a singularidade das criações, o savoir faire além da criação, que é muito único e difícil de encontrar entre nossos concorrentes. Também temos uma história fantástica. Sempre combinamos tradição e modernidade na forma como concebemos nossas criações. É razão pela qual, no fim das contas, quando você adquire uma criação da Cartier você não está adquirindo um produto, mas também algo único, uma criação com história. Não criamos algo para um, dois, três anos. Há uma atemporalidade que é muito difícil encontrar nos concorrentes. Se pensa no “love bracelet” que criamos na década de 70, ainda é icônico, muito popular e valioso hoje. O estilo é muito moderno, contemporâneo, mas o que criamos é atemporal, criamos para a eternidade.
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