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Mídia

Veículos apertam negociação com plataformas

Em torno da News Media Alliance, veículos exigem de governo maior proteção à propriedade intelectual e share de receitas de Google e Facebook


14 de julho de 2017 - 7h00

No início desta semana, veículos de mídia americanos anunciaram uma nova força-tarefa  para fazer frente às plataformas digitais como Google e Facebook. Por meio da News Media Alliance, entidade criada em 1992 que reúne 2 mil organizações de notícia nos Estados Unidos e Canadá (desde regionais até grandes publishers como New York Times e Washington Post), os veículos vão formalizar um pedido ao Congresso Americano para aumentar sua margem de negociação com Google e Facebook, plataformas que em 2017 devem responder por 60% da receita publicitária no digital.

De acordo com a News Media Alliance, seria preciso uma isenção da lei antitruste para que veículos pudessem negociar como um grupo. Entre as reivindicações, estão também proteções mais fortes à propriedade intelectual, suporte a modelos de inscrição e o compartilhamento da receita publicitária das plataformas.

“Os veículos investem para produzir conteúdo de qualidade, que tem um custo altíssimo, e depois este conteúdo é compartilhado nas mídias sociais (às vezes com distorções), as quais faturam em cima desse compartilhamento, sem que os veículos que gastaram dinheiro para que esse material pudesse existir sejam devidamente compensados”, avalia Carlos Eduardo Lins da Silva, pesquisador da USP e ex-ombudsman da Folha.

 

“Os veículos investem para produzir conteúdo de qualidade, que tem um custo altíssimo, e depois este conteúdo é compartilhado nas mídias sociais”

A escassa autonomia das operações locais dos gigantes digitais é vista como o principal desafio para a criação de legislação e medidas estruturais no Brasil.  Marcelo Rech, presidente da ANJ, argumenta que, até recentemente, os gigantes digitais virtualmente ignoravam os publishers porque achavam que tinham encontrado um modelo de negócios definitivo, um cenário que só mudou após o fenômeno das notícias falsas e das bolhas nas redes sociais.

“Já tivemos várias rodadas de conversações com Google e Facebook. Os avanços têm esbarrado nas boas intenções mas falta de medidas concretas de valorização. Eles respondem a estruturas complexas, muitas vezes confusas, e distantes, que padronizam suas normas em escala planetária. As operações do duopólio aqui são fundamentalmente comerciais, com margem estreita para ações inéditas e realmente estruturais em defesa do jornalismo profissional ”, diz Rech.

Apesar dos entraves burocráticos, medidas de proteção à propriedade intelectual e o apoio a modelos de assinatura são vistos como a única salvação para o modelo de negócios dos veículos no digital.

“Alguns países sustentam parte desse jornalismo com impostos, como é o caso do Reino Unido, mas essa não deve ser a saída para assegurar informação verdadeira. Para a própria sobrevivência do modelo de negócios dos gigantes digitais, é fundamental que eles valorizem, inclusive por meio de receitas publicitárias substanciais, a necessidade de preservar o jornalismo profissional”, pondera Marcelo.

Campbell Brown, head de parcerias de notícias do Facebook, disse em comunicado que a companhia está comprometida em fazer com que o jornalismo de qualidade sobreviva na plataforma. A companhia afirma estar testando novos produtos para ajudar usuários descobrirem notícias locais no Facebook, trabalhando para combater fake news e clickbaits a favor do jornalismo.

O Google, por sua vez, afirma que quer ajudar publishers a serem bem sucedidos em sua transição para o digital. “Nos últimos anos, desenvolvemos vários produtos e tecnologias especializadas, desenvolvidas especificamente para ajudar a distribuir, financiar e apoiar jornais”, diz em posicionamento oficial. No último mês, a companhia anunciou a coalização Impacto.jor, com o objetivo apoiar o jornalismo e medir seu impacto.

A tendência, no caso de não existir o reconhecimento da complementaridade entre os modelos de negócios de gigantes e dos veículos, é o surgimento de regulações mais rígidas, semelhantes às dos meios de comunicação. “O que ocorrer no Brasil será basicamente resultado das conversações em escala mundial ou, se não avançarem, das legislações internacionais, mas há espaço para colaborações específicas aqui”, explica o presidente da ANJ.

Ascânio Seleme, diretor de redação do jornal O Globo, defende o fortalecimento de entidades nacionais para barrar iniciativas que prejudiquem os publishers.  “Temos nossos próprios canais de distribuição, quem quiser acessar notícias não precisa de Google ou de Facebook, só colocamos nosso conteúdo nessas plataformas porque queremos encontrar o leitor onde ele estiver, mas daríamos conta de fazer isso sem eles, em qualquer lugar do dia e da noite. Estas plataformas precisam muito mais do nosso conteúdo do que nós precisamos da plataforma de distribuição deles”, avalia.

 

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