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Mídia

Com 100% de capitais, TV aberta digital vai para a reta final

Cidades da região norte e centro-oeste têm switch off do sinal analógico autorizado; meta é chegar a 1.400 municípios neste ano


14 de agosto de 2018 - 11h12

Hoje, 14 de agosto, marca o início do fim do processo de digitalização da TV aberta brasileira. As últimas capitais que ainda tinham sinal analógico — Macapá, Porto Velho, Palmas, Cuiabá, Rio Branco, Campo Grande e Boa Vista — receberam autorização para seu desligamento. Até o final do ano, o objetivo é dobrar o número de municípios alcançados, chegando a 1,4 mil, principal meta da portaria ministerial que definiu o projeto.

“Todas as demais cidades que não estão no bolo deste ano, vão desligar o sinal até 2023”, relata Antonio Martelletto, presidente da Seja Digital, instituição responsável por operacionalizar o processo com ações de comunicação e distribuição de kits de conversão de sinal para famílias cadastradas em programas sociais do governo. “São cidades de menor porte que não havia tanta urgência na liberação do espectro de frequência, que terão mais tempo para as emissoras se prepararem”, diz o executivo, se referindo aos cerca de 4 mil municípios que se encaixam nessa categoria.

As capitais do Acre, do Mato Grosso do Sul e de Roraima não chegaram a atingir a meta necessária de 90% para o desligamento, mas chegaram perto e as previsões são positivas, então o desligamento nessas cidades é facultativo. “A pesquisa sobre adequação dos domicílios é realizada (pelo Ibope Inteligênciacom 15 dias de antecedência do desligamento, que é justamente o momento mais aquecido de as pessoas se agilizarem. Como a previsão estatística já apontava 91% de conversão nesses dias, o desligamento fica facultativo até 31 de outubro, quando devem desligar de vez”, explica Antonio. Para ele, o processo é inevitável, devido ao efeito viral da ideia de TV digital, uma vez que uma cidade vizinha ou uma região próxima daquela já convertida começa a ver as vantagens de se realizar a conversão. “Cerca de 10 milhões de televisores de tubo, dos antigos, são jogados no lixo por ano no Brasil, pois queimam e não vale a pena consertar. Até 2023, o índice de cidades remanescentes com analógico será marginal, quase não vai ter”, afirma o presidente da Seja Digital.

“Estamos confiantes de que o aprendizado dessa jornada bem sucedida dos últimos quatro anos vai nos ajudar a construir os caminhos para os próximos cinco” — Raymundo Barros

Estabilidade e engajamento
“O switch off do Brasil é um caso de sucesso ímpar no mundo”, afirma Raymundo Barros, diretor de tecnologia da Globo.  “Temos um país de dimensões continentais, que encontra na TV aberta sua principal fonte de entretenimento e informação, e estamos conseguindo realizar o desligamento do sinal analógico com o mínimo de impacto para o público.  A penetração da TV aberta terrestre nos domicílios brasileiros não diminuiu com o desligamento analógico e isso muito nos orgulha.” Segundo ele, esse sucesso é consequência direta do fato de a televisão ser um dos principais meios de consumo de conteúdo do País, o que não se repete em muitos mercados de perfil socioeconômico similar. O quadro brasileiro exigiu a união de emissoras, governo, provedores de tecnologia e outros stakeholders na construção de um modelo que respeitasse o comportamento de consumo local. “Isso fez toda a diferença para o engajamento da população, para a mobilização em torno do tema e para o sucesso que estamos colhendo hoje”, diz Raymundo.

Para Antonio, da Seja Digital, outra característica marcante do projeto brasileiro foi o constante apoio de diferentes governos desde os primeiros testes de sinal digital, ainda em 2007. “No Brasil, diversas implementações de política pública não terminam por causa de troca de governos. Devido ao tamanho do território e da população, ouvia-se muito que não ia acontecer, que estávamos distribuindo kits de primeiro socorros, que o projeto era um mero extintor de incêndio. Mas a partir que fomos desenvolvendo, ganhou a credibilidade necessária”, comemora.

Tecnologicamente, Raymundo acredita que o processo atual já estimula o debate sobre a próxima plataforma tecnológica de mídia dentro do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD). “A TV Digital já trouxe mais qualidade, mobilidade e interatividade para os brasileiros, e ela continua evoluindo. Parte importante dessa evolução, que veremos nos próximos anos, inclui uma maior integração com a internet, para a oferta de novos formatos de vídeo (4K, HDR, etc) e áudio imersivo, conteúdo personalizado, vídeo sob demanda, uso de dispositivos de segunda tela etc”, explica.

O executivo da Globo acredita que a experiência de construção do atual modelo, incluindo as diferentes formas de comunicação com a população, serviram de referência tanto para finalizar o projeto atual como para das os primeiros passos dos próximos. “Estamos confiantes de que o aprendizado dessa jornada bem sucedida dos últimos quatro anos vai nos ajudar a construir os caminhos para os próximos cinco”, diz. Além do papel das próprias emissoras no processo, o Seja Digital tem, entre suas prerrogativas, investimento em marketing para informar a população sobre o processo. “Dependendo da fase do projeto, nosso papel é informação básica, ou mostrar o que acontece em regiões próximas. Há até alguma dosagem de ‘ameaça’, como ‘Se não quer perder nada, mude o sinal, pois o analógico vai acabar’. A maioria se converte dentro do prazo e uma parte costuma se apressar perto do final”, relata.

A comunicação trabalha principalmente televisão, incluindo ainda rádio, jornal, mídia eletrônica e plataformas sociais. Do orçamento total de R$ 3,6 bilhões, “uma parcela significativa é marketing”, segundo Antonio, incluindo as pesquisas de verificação de alcance e de satisfação, posterior. A maior parte é direcionada aos kits: até o fim do ano, deverão ser distribuídos gratuitamente 14 milhões de conversores.

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