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Mídia

A próxima onda da Netflix após o fim do oceano azul

Conforme ex-parceiros como Disney e Warner Bros. viram concorrentes, conteúdo original e licenciamento tornam-se cada vez mais centrais para a plataforma de streaming


16 de julho de 2019 - 6h00

 

Produção original, inovação na comunicação e em formatos ainda são grandes diferenciais da Netflix (Crédito: Farkonot_Architect/istock)

Desde que revolucionou a maneira de consumir conteúdo, via streaming, a Netflix tornou-se um dos maiores exemplos do conceito de oceano azul, quando uma determinada empresa ocupa sem concorrentes um mercado promissor. Esse cenário, no entanto, deixou de ser realidade há algum tempo e, em 2019, terá mudado de forma definitiva.

Em artigo publicado na Forbes, o analista Stephen McBride afirmou que os “dias de glória da Netflix acabaram” e não necessariamente pelo aumento da concorrência, mas pelo fato de que a maior parte dos concorrentes eram — ou ainda são — parceiros cujas produções contribuíram para que a plataforma crescesse e angariasse assinantes.

Stephen aponta que, do ponto de vista financeiro, os investidores estão preocupados com os eventos emblemáticos deste ano como o lançamento do Disney+, em setembro, e o anúncio, na semana passada, do  HBO Max. Na ocasião, a HBO informou que Friends e as séries da DC passam a ser de sua exclusividade deixando o catálogo da Netflix. O mesmo ocorreu com a Disney e algumas séries da Marvel quando a empresa anunciou seu serviço de streaming em 2017.

“No caso da Disney, ela respondia por 20% da oferta de conteúdo da Netflix, e este percentual vinha decrescendo ao longo do tempo” Marcelo Coutinho

“Até recentemente, a Netflix era o único serviço de streaming com oferta consistente. Desfrutava de praticamente zero competição. Muitas das maiores e mais poderosas empresas de mídia do mundo ajudaram a empresa a construir seus negócios. No início de 2010, a plataforma assinou acordos com fabricantes de filmes e TV, como Disney e NBC. Por uma pequena quantia, comprou os direitos de divulgar conteúdo popular como os filmes da Marvel e de comédias como The Office e Friends”, escreveu Stephen.

Em sua análise, Stephen reforça que a “Netflix construiu seus negócios com base no conteúdo de outras empresas. “E funcionou incrivelmente bem. No entanto, um por um, os concorrentes acordaram. Eles estão terminando seus contratos com a Netflix, retomando o controle de seu conteúdo e lançando seus próprios serviços de streaming que concorrerão com a Netflix”, apontou, reforçando que a saída da empresa em meio a tantos concorrentes continua sendo a produção de conteúdo original. No ano passado, a Netflix investiu US$ 12 bilhões em conteúdo original e outros US$ 15 bilhões estão previstos para 2019.

Marcelo Coutinho, coordenador do mestrado profissional em administração da FGV, explica que a Netflix vai sofrer com a retirada do conteúdo das outras empresas em um primeiro momento, mas nada que inviabilize sua força como player líder. “No caso da Disney, ela respondia por 20% da oferta de conteúdo da Netflix, e este percentual vinha decrescendo ao longo do tempo. Claro que existe um inventário enorme, mas, à medida que este inventário ‘envelhece’, o importante é a entrada de novos conteúdos. Sob este aspecto, a Netflix não só está investindo mais, aproveitando os baixos juros do mercado americano para financiar produções próprias e de terceiros”, explica.

Apesar de todos os outros lançamentos, o mais esperado e emblemático deste ano, capaz de mudar os rumos do mercado de streaming, é o Disney +. Além de suas animações, a empresa é dona de franquias como Marvel e Star Wars e o preço de início do serviço será de US$ 6,99 nos Estados Unidos, metade do pacote de entrada da Netflix. De acordo com o The Wall Street Journal, o programa mais visto no Netflix é o The Office que pertence à NBC que também está lançando seu próprio serviço de streaming. Na semana passada, no entanto, em seu Twitter, a Netflix afirmou que Stranger Things 3 já é o conteúdo mais visto da plataforma.

Thiago Romariz, jornalista especializado em conteúdo e head de conteúdo da fintech Ebanx, a Netflix se baseou em quantidade durante muito tempo, o que fez parte da mudança de comportamento do consumidor. “Com o tempo, a quantidade (devido a acordos e concorrência) deu lugar a qualidade de suas produções. Não por acaso ela assinou com grandes nomes de Hollywood nos últimos anos, procurando a experiência e know how da indústria para contar histórias. O equilíbrio entre quantidade e qualidade para eles me parece ser um desafio que também se traduz não só pela quantidade de lançamentos, mas também pelo tempo que o usuário usa o serviço”, afirma.

“O fenômeno de jogos como League of Legends, Minecraft e Fortnite com certeza influenciaram a plataforma a se posicionar também nesse mercado testando formatos” Lucas Patrício

Romariz explica que as produções locais da plataforma são um ativo importante. “Além de ser um ganho mundial, já que expandem catálogo e fomenta o mercado local, esse tipo de lançamento estreita a relação do público com a plataforma. As histórias são mais pessoais, originais e vindas de um contexto que faz o espectador se sentir parte daquilo. A qualidade do serviço deve aumentar, o preço deve ser tornar um ponto dentro desta competição e aos poucos a gente vai ver os agregadores voltarem a discussão. Com tantos VODs a disposição, é possível que tenhamos vencedores naqueles que entendam como entregar o maior número de serviços em um lugar só”, afirma.

Sobre novas maneiras de inovar em formatos e linguagens e o olhar estratégico da plataforma faz com que o cenário de concorrência seja algo bem mais amplo do que somente outros serviços de streaming. Lucas Patrício, CEO da agência GMD, conta que a Netflix entendeu que a competição não é somente com TV e plataformas de streaming. “O fenômeno de jogos como League of Legends, Minecraft e Fortnite com certeza influenciaram a plataforma a se posicionar nesse mercado. Talvez até como uma estratégia defensiva em assegurar que suas marcas estão conversando com esse público antes dos concorrentes”, explica.

 

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