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WTW 2021 discute novos desafios da representatividade

Ana Paula Bogus, Danielle Bibas, Renata Bokel e Ana Fontes relembram trajetórias e propõem novas soluções


31 de agosto de 2021 - 19h30

Por Amanda Schnaider e Thaís Monteiro

O Women to Watch 2021, evento promovido no Brasil pelo Meio & Mensagem em homenagem às mulheres da indústria da comunicação, ocorreu virtualmente nesta terça-feira, 31. Além das homenagens para as escolhidas de 2020, o evento também abriu espaço para importantes discussões sobre a mulher no mercado de trabalho de diferentes segmentos e na sociedade nos papéis muitas vezes atribuídos a elas.

O novo mundo
Em entrevista à Bárbara Sacchitiello, editora-assistente do Meio & Mensagem, Ana Paula Bogus, global head of business da Rappi, falou sobre sua mudança de carreira de uma multinacional, a Kimberly-Clark, onde permaneceu por 11 anos, para uma startup. “O mundo está migrando para uma velocidade diferente. Estamos vendo as empresas testando modelos diferentes, sejam empresas tradicionais ou empresas já no novo mundo. Então, estar nesse setor nesse momento, me dá essa visão ampla da economia antiga, tradicional e a nova economia”, afirmou. Segundo a executiva, as empresas tradicionais podem ensinar para as startups a questão da disciplina, já as startups podem contribuir para as empresas tradicionais em dois grandes fatores: a mudança do mindset e o entendimento do digital, do dado e da informação, para devolver isso para o usuário de maneira inteligente. “As startups trabalham para fazer a vida das pessoas e empresas melhor, porque elas trabalham em cima de problemas. Esse pensamento também é levado para a inovação: uma forma de pensar diferente”, disse.

 

Ana Paula afirmou que as startups têm mais representatividade em seu board (Crédito: Eduardo Lopes)

A executiva também abordou como a transformação digital tem impactado as carreiras e como as mulheres estão buscando seu espaço dentro da indústria de tecnologia. Segundo ela, para trabalhar dentro de uma startup e gerir pessoas, ela teve que se acostumar com a complexidade de possibilidades. “Temos que nos atualizar o tempo inteiro, trazer conhecimento novo para a bagagem e saber que não sabemos nada”, reforçou. Dentro da Rappi Brasil, 50% do board é formado por mulheres, e para Ana Paula, essa é a fórmula para aumentar a representatividade feminina nos cargos de liderança. “Mais líderes mulheres vão inspirar e mostrar para toda essa geração que está entrando agora no ambiente de trabalho que é possível ser líder nesse mercado e não tem nada de diferente”, pontuou. A executiva ainda ponderou que uma mulher quer sempre ajudar a outra, mas que não acredita que as mulheres tenham que fazer esse trabalho sozinhas. “Acredito que tenhamos que fazer esse trabalho junto com todos os homens que são a grande maioria e que estão sentados nas cadeiras de liderança”, opinou.

A voz de quem dita
Em debate moderado por  Regina Augusto, jornalista e colunista do Meio & Mensagem, Danielle Bibas, VP de Marketing Avon Brasil, e a Renata Bokel, CSO da WMCcann, refletiram sobre suas trajetórias profissionais em intersecção com a evolução do lugar da mulher no mercado de trabalho.

 

Renata Bokel, Danielle Bias e Regina Augusto debateram a responsabilidade das agências e anunciantes em trabalhar melhor a representatividade (Crédito: Eduardo Lopes)

Advogada de formação, Renata lembrou que, mesmo em um escritório de direito ambiental inovador para a década de 1990, os homens presenteavam as mulheres com itens de cozinha no Dia Internacional da Mulher. Hoje, essa situação traria revolta em níveis virtualmente grandes. Na IBM, a diversidade era maior, mas ainda faltavam mulheres na liderança. Para evitar essas situações, a WMCcann promove reuniões de coletivos internos diversos e pessoas em cargos mais baixos com o board e diretorias da empresa para, assim, jogar luz sobre as ideias desses profissionais. A agência também promove bootcamps para dar ferramentas aos funcionários complementarem seu caminho corporativo. Na liderança, Renata acredita que direciona o time conforme sua experiência, mas mais aprende com eles do que contribui. Além disso, a executiva tem buscado ajuda de outras mulheres para inspirá-la em novos desafios. “Meu time traz soluções para fazer com que as pessoas se ouçam mais. Eu perdi a vergonha de pedir ajuda também. Eu peço ajuda para outras mulheres que são diferentes de mim. Isso contribui muito para fazer um grupo mais inclusivo. Não dá para fazer tudo, mas dói menos”, constata.

Danielle Bibas, da Avon, contou que a transformação de um posicionamento de uma marca depende de uma coerência de conhecimento entre todos os níveis da empresa. Assim, além do time de marketing questionar o que é a beleza e qual é a beleza que a marca quer buscar, a Avon busca educar todos sobre questões de diversidade e inclusão. Apesar de, muitas vezes, reforçar um estereótipo de beleza, a executiva acredita que a indústria de cosméticos está acumulando pontos de inflexão. Ela lembrou o momento que a jogadora Martha entrou em jogo usando maquiagem e questionou o mundo sobre o esporte ser visto como um lugar masculino. “A beleza sempre vai precisar ser aspiracional, mas ela precisa ser uma aspiração que você possa alcançar. Por muito tempo colocamos uma beleza que não existia. Só existia no computador de quem alterava ou nas modelos padrão”, diz. A proposta de Danielle é que empresas devam tornar a representatividade meta. Uma vez colocada como meta, esse processo se torna um contínuo normal. “O homem é promovido no potencial. A mulher é promovida na base da entrega. É meu papel acreditar e dar chance, dar mentoria, treinamento, grupo de apoio, estar junto e criar a oportunidade”, propõe.

Evolução do empreendedorismo feminino
“O empreendedorismo para boa parte das mulheres é um empreendedorismo por necessidade, ou seja, não é algo que ela está buscando porque enxergou ali uma oportunidade de negócio”, explicou Ana Fontes, CEO e fundadora da Rede Mulher Empreendedora, à Bárbara Sacchitiello, reforçando que empreender não é algo glamuroso como as pessoas normalmente pensam. A executiva ainda revelou que o perfil da empreendedora brasileira é composto principalmente por mulheres de 30 a 40 anos, mães e que empreendem nas chamadas áreas de conforto, ou seja, moda, beleza, alimentação, serviços e estética. Segundo Ana, as mulheres ainda empreendem mais nessas áreas devido a alguns motivos, como a identificação das mesmas com essas áreas e a falta de incentivo à presença de mulheres nos segmentos mais tecnológicos e das ciências exatas. “Temos que misturar essas coisas e mostrar para essas meninas desde cedo que o ambiente delas é qualquer ambiente”, reforçou.

 

Ana Fontes disse que disparidade de gênero em algumas áreas prejudicam as possibilidades das mulheres empreenderem (Crédito: Eduardo Lopes)

Durante a conversa, Ana também revelou quais são os principais obstáculos e ganhos que as mulheres têm durante a jornada do empreendedorismo. De acordo com ela, existem diversos desafios para se tornar uma empreendedora no Brasil hoje, mas os principais são: falta de acesso a crédito, falta de conexão com o ambiente de inovação, falta de equilíbrio com o trabalho doméstico e a falta de acesso ao mercado. “Nos Estados Unidos, há uma política muito bacana. As grandes empresas têm uma recomendação forte de comprar de pequenos negócios liderados por mulheres”, contou. Já entre os ganhos que as mulheres conquistaram até agora no empreendedorismo, a CEO e fundadora da Rede Mulher Empreendedora lista alguns, como o maior reconhecimento na área de empreendedorismo, maior procura pela inovação, maior busca por capacitação e pelo propósito, e maior independência financeira, o que possibilita as mulheres, muitas vezes, saírem de situações de violência doméstica. “Evoluímos nessas questões, evoluímos em mostrar a importância dos negócios liderados por mulheres, evoluímos em mostrar o que o impacto social desses negócios representa para a sociedade”, pontuou.

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