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Estadão muda formato e amplia conteúdo analítico

Francisco Mesquita Neto, presidente executivo do grupo Estado, fala sobre os desafios do veículo para construir um novo público leitor


18 de outubro de 2021 - 6h00

Francisco Mesquita Neto, presidente-executivo do grupo Estado (Crédito: Arthur Nobre)

A edição do Estadão de sábado, 16, foi a última publicada no formato tradicional, que marcou o jornal ao longo dos seus 146 anos de história. No domingo, 17, o veículo circulou a primeira edição no tamanho berliner, de dimensões um pouco menores.

A reformulação é parte de um conjunto de ações que visam transformar o grupo em uma newstech, de acordo com Francisco Mesquita Neto, presidente executivo e membro do Conselho de Administração do Grupo Estado.

A mudança do formato envolveu meses de pesquisas, que contou com o apoio de duas consultorias e também baseou-se no exemplo de outros veículos que já haviam passado por mudança em seu formato impresso. “É uma mudança de formato em que, em um primeiro momento, pode até passar a impressão de que está perdendo alguma coisa porque ele é menor que o formato standard. Na verdade, é algo entre o formato tradicional e o tabloide, mantendo a visão vertical do produto, mas mais moderno e mais adequado à vida das pessoas. No café da manhã, que é um momento em que as pessoas leem bastante o impresso, no transporte público, por exemplo, é mais fácil para ser manuseado”, acredita Mesquita.

Em entrevista ao Meio & Mensagem, o executivo detalhou as razões que levaram o veículo a promover a reformulação e analisou os desafios do jornal em manter a relevância perante os leitores em um cenário de várias transformações. “A diferença entre o mundo analógico e digital é a capacidade de escalar. No nosso caso, ao unir conteúdo de qualidade, tecnologia e pessoas adequadas, podemos almejar ter um volume de assinantes muito maior. Se hoje o Estadão, entre impresso e digital, tem 200 mil assinantes, pensar em 500 mil assinantes não é algo impossível”, declarou.

Veja, abaixo, alguns dos principais trechos da entrevista. A íntegra está disponível na edição 1982 de Meio & Mensagem, que pode ser acessada via acervo digital.

Meio & Mensagem: O que motivou essa reformulação no Estadão e como foi o processo de preparação para essa mudança?
Francisco Mesquita: Há uns quatro anos, tomamos a decisão de avançar, de forma acelerada, no que chamamos de transformação da natureza jornalística que, por muitos anos, foi de um monoproduto (o impresso) para uma empresa multiplataforma, com todas as oportunidades que isso traz para uma empresa jornalística. Então, começamos a analisar todas as frentes que uma empresa em transformação tem que ter, tanto no sentido de estar em novas plataformas como no aprimoramento do processo produção, com as tecnologias necessárias para poder participar de forma bastante competitiva nessas plataformas. Também foi necessário, claro, transformar a cultura para a de uma empresa newstech. Somos uma empresa jornalística, não abrimos mão do nosso core, de tentar impactar positivamente o País, mas usando as tecnologias que hoje estão à disposição. Quando fomos analisando todas as plataformas, soubemos que não basta estar presente nesses ambientes, mas sim disponibilizar um conteúdo de acordo com essas plataformas. Se estamos no Telegram, temos que ter as características do Telegram; no Twitter, também é assim, e por aí vai. E não tinha como olharmos para todas essas plataformas sem olhar para aquela original, que é o impresso, sob essa mesma modernidade. Da mesma forma que fazemos com os produtos digitais, em que analisamos a maneira como as pessoas consomem o conteúdo naqueles ambientes, fizemos cinco pesquisas e faremos ainda outras, para analisar como os assinantes estão consumindo o Estadão e o que eles acham que poderíamos melhorar. Tivemos o apoio de duas consultorias externas com experiência nesse tipo de transformação de produtos impressos, que trouxeram muitos insights. Somamos essa visão de nosso leitor com as de pessoas experientes, que já haviam passado por esse processo de mudança de formato.

M&M: Em termos de conteúdo, quais são as principais mudanças?
Mesquita: Ao abrir o jornal, hoje, temos dois artigos na página 2 e os editoriais na página 3. Agora queremos que, ao abrir o jornal, logo na página 2, a pessoa já se depare com as notícias mais quentes em relação aos bastidores da política. Nessa mudança de formato, incluiremos um terceiro editorial, que estará inserido na parte do jornal próxima ao assunto a que ele se refere. Esse é o primeiro impacto que quisemos criar, com um início de um jornal mais quente. No decorrer das páginas, teremos sempre uma matéria na qual pretendemos ir a fundo em determinados temas, que podem ser política, economia, esportes, ciência. Sentimos muito, pelas pesquisas, que a leitura do jornal impresso, apesar de ser uma atividade informativa, é um momento de desconexão, em que o leitor gosta de se aprofundar na análise. Procuramos, então, fazer a combinação entre o conteúdo informativo e o analítico. A ideia é aproximar o conteúdo, de forma geral, do cotidiano das pessoas. O caderno de Economia, que é super forte, terá ampliação na cobertura dos temas de negócios, empresas e startups. Ainda no primeiro caderno, teremos a cobertura de Metrópole, com saúde, educação e cidades, que são temas importantes para a vida das pessoas. E teremos o retorno do Caderno 2, que desde o início da pandemia teve o nome modificado para Quarentena. Aos sábados, teremos um caderno chamado Bem-Estar, com a proposta de ajudar as pessoas a viverem melhor. Na verdade, é um rebalanceamento no conteúdo buscando chegar mais próximo às informações úteis para as pessoas.

M&M: Como o Estadão lida com o desafio de ter de, continuamente, entender e acompanhar as mudanças de consumo de mídia?
Mesquita: O mundo digital impactou todos os setores da economia e, claro, nos impactou também. Podemos olhar isso de forma pessimista, como também podemos olhar com otimismo, em relação às oportunidades que ele nos traz de sermos uma empresa melhor e mais relevante à sociedade. Ao longo da história toda do Estadão sempre foram aparecendo novas maneiras de as pessoas se informaram, com o rádio, a televisão, o cinema, a TV por assinatura, etc. E nós tivemos poucas oportunidades de entrar em cada um desses setores. Já o digital permite que todos possam participar de forma mais competitiva. Vemos nossa transformação para uma empresa jornalística multiplataforma com a mesma oportunidade de fazermos o papel que fazíamos no impresso de uma maneira mais próxima da sociedade, inclusive com uma capacidade maior de atuar de forma nacional sem as barreiras dos altos custos de logística da operação impressa. Podemos escalar a quantidade de leitores sem fronteiras.

M&M: E quais são as principais oportunidades dessa conjuntura?
Mesquita: A diferença entre o mundo analógico e digital é a capacidade de escalar. No nosso caso, ao unir conteúdo de qualidade, tecnologia e pessoas adequadas, podemos almejar ter um volume de assinantes muito maior. Se hoje o Estadão, entre impresso e digital, tem 200 mil assinantes, pensar em 500 mil assinantes não é algo impossível. Não é fácil, porque isso requer investimentos, verbas, talentos novos, aplicação de recursos. Mas é possível, inclusive com preços de assinatura menores, o que permite ter uma empresa muito rentável.

M&M: Considerando o meio impresso, ainda é possível ampliar a base de assinantes?
Mesquita: Sim, mas de forma limitada, inclusive geograficamente. Não é mais viável entregar jornal em qualquer lugar do País ou até mesmo do Estado de São Paulo porque os custos de logística são muito altos. Agora, quando olhamos o raio do entorno da cidade de São Paulo, temos uma população muito grande, com alto poder aquisitivo e alto nível de educação. Então, se tivermos um produto adequado e com preço certo, existe até a chance de crescer. Mas achamos que há um teto limitado, provavelmente pela idade das pessoas. As novas gerações não foram criadas consumindo produtos impressos e sim digitais.

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