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Documentário sobre publicidade da HBO e Mixer é criticado por falta de diversidade

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Documentário sobre publicidade da HBO e Mixer é criticado por falta de diversidade

João Daniel Tikhomiroff, diretor-geral de 30 Segundos, fala sobre o projeto, que estreia nesta terça-feira, 24, e responde às críticas


23 de maio de 2022 - 14h48

Nesta terça-feira, 24, será exibido na HBO o primeiro episócio da série documental 30 segundos, cuja proposta é contar a evolução da publicidade brasileira nas últimas cinco décadas, desde a falta de recursos e a censura vivenciada em 1970 até a chegada e união do digital com os demais meios nos anos 2000. A produção é um trabalho da Mixer Films e HBO e passa a estar disponível também na HBO Max na quarta-feira, 25.

 

Série usa filmes que marcaram as décadas para contar a história do País (Crédito: Divulgação/Mixer Films)

A série conta com entrevistas com personagens que fizeram parte da história da publicidade no Brasil, como Marcello Serpa, Nizan Guanaes, Washington Olivetto, Carlos Moreno, Fernando Meirelles, Ana Carmen Longobardi, Christina Carvalho Pinto, Luiz Fernando Guimarães, Julinho Xavier, André Bukowinski, Vellas, Roberto Justus, Roberto Duailibi, Alexandre Gama, Fábio Fernandes, José Bonifácio (Boni) de Oliveira Sobrinho, Silvio de Abreu, entre outros. Washington Olivetto e Eco Moliterno, inclusive, foram consultores da produção.

Desde a divulgação do trailer, porém, a plataforma More Grls, coletivo dedicado dar visibilidade e oportunidades para as mulheres que atuam na indústria da criação e publicidade, se manifestou criticando a série pela falta de grupos politicamente minorizados na lista de entrevistados.

Ao Meio & Mensagem, o diretor geral e chairman da Mixer Films, João Daniel Tikhomiroff, afirma que a intenção da produção era entrevistar os personagens por trás de campanhas que marcaram as últimas décadas e anuncia que fará um documentário especificamente para falar das mulheres por trás da publicidade e seus desafios.

A intenção de 30 segundos é mostrar como a publicidade mudou a perspectiva da sociedade brasileira sobre alguns assuntos abordados e vice-versa. A série é composta por cinco episódios de 50 minutos cada, que serão disponibilizados na plataforma de streaming semanalmente e exibidos toda terça-feira no canal HBO, às 21h10. Após a exibição, as empresas devem doar a minissérie para escolas e universidades terem em arquivo para acesso dos alunos.

João Daniel Tikhomeroff, chairman da Mixer (Crédito: Leonardo Rodrigues)

Ao Meio & Mensagem, João Daniel Tikhomiroff deu detalhes sobre a produção e comentou repercurssão acerca dos entrevistados.

M&M – Como selecionou o conteúdo, desde os entrevistados até os comerciais?
João Daniel Tikhomiroff –
Fizemos uma curadoria muito ampla. Tivemos colaboração do Eco e Washington, que lembrou de entrevistar o Boni. Claro que todo roteiro foi feito por minha equipe especializada em documentários. Fomos buscar e tínhamos a pesquisadora Liliana Onozato que levantou peças a partir de repercussões do passado e do presente que ajudasse a contar o momento da década e ia municiando a equipe de roteirista para selecionar o que se encaixava para contar a história da década. Foi um processo bem trabalhoso e difícil mas muito prazeroso. Vão ter várias coisas que vão causar desagrado do “por que eu não estou lá?”. Tem muita gente com mérito, mas não conseguimos colocar todos, infelizmente. Tem limitação de tempo e vão ter vários filmes que não vão estar nessa minissérie. Não temos explicação. Foi uma questão da fase de criação natural e desenvolvimento. Fizemos uma seleção buscando o que para nós era o melhor para contar a história da década. A minha expectativa é deixar um legado. Nossa área não tem muitos documentos que ficam para a eternidade. Vai ser algo que vai ser arquivado para estudos e pesquisas e ficar um legado para todos que participaram do processo.

M&M – Existe um interesse do público por conhecer mais da história do Brasil pelo olhar da publicidade?
Tikhomiroff –
O público brasileiro sempre se conectou muito com a publicidade. Hoje em dia acho que a maneira de se conectar é diferente. Hoje se viraliza uma peça e milhões de pessoas acessam aquela peça. Você tinha o intervalo comercial mais forte e hoje as plataformas pensam em ter intervalos. A publicidade no Brasil teve um período áureo no final dos anos 60 até início dos anos 2000 em que a publicidade, os jargões, os personagens eram tema de conversa de bares. Isso é um lado incrível dos publicitários criativos que tinham ideias brilhantes da época e que tocavam o coração das pessoas vendendo uma ideia ou produto. Pouco depois ela passou a ser reconhecida em festivais internacionais. Fez o Brasil estar entre os 3 países mais premiados do mundo. O Boni falava que tinham intervalos comerciais melhores com os programas.

M&M – Você participou da história da publicidade a medida que foi reconhecido em premiações como Cannes Lions e Caboré. Como você se inseriu na série?
Tikhomiroff –
Eu estou nela. Tentei ser o mais cuidadoso possível, porque eu era mencionado pela boca dos próprios criadores ou publicitários e não tinha como cercear. Eu não podia penalizar as pessoas (produtores, clientes) envolvidas nas peças que eu dirigia. Eu tirei pelo menos 5 participações minhas por achar que dá para sobreviver sem isso. Mas eu fico triste porque muita gente não participou e eu tinha que ter colocado mais mulheres. Ficamos mais na história e não vimos essa percepção; e quero retomar essa linha no documentário. Vai ser outra peça muito importante para um País machista e preconceituoso. Quero ampliar em termos de gênero para ser mais interessante porque tocamos nas questões de preconceito.

M&M – A publicidade foi historicamente discriminatória e machista. Há um mea culpa sobre os erros da publicidade na série?
Tikhomiroff –
Como é uma série que conta a história do Brasil, ela fala dos costumes e da vida na época. Mesmo nos anos 80, o Brasil sempre foi machista e sempre foi um país discriminatório em termos de gênero e raça. Há pouca mulher e negro e, sim, a propaganda começou a ter mais diversidade recetemente. É um documentário e é um retrato fiel da época. As pessoas tem que entender que não é uma escolha minha, é o que acontecia no Brasil até a pouco. Agora estamos em outro momento. Quando eu terminei a série, eu decidi fazer um documentário para falar das mulheres de comunicação porque elas são verdadeiras heroínas e contar como eram as primeiras comandantes de agências, televisão, jornais. Muitas mulheres lutaram para manter sua posição e agora invertemos o papel. Quero elencar uma criativa para sentar comigo e desenvolver junto, ter o olhar fundamentalmente de mulher, e chamar uma diretora mulher para dirigir. Eu me senti em dúvida porque eu tive que reproduzir essa certa discriminação e falta de oportundade nas lideranças.

M&M – Desde que foi liberado trailer da série, alguns grupos do mercado se manifestaram criticando a falta de mulheres, negros e de pessoas de orientações sexuais diferentes entre os entrevistados. Qual é sua resposta a isso?
Tikhomiroff –
Nunca vamos conseguir agradar a todos e sempre pode ficar uma percepção equivocada porque nunca será minha intenção, minha história conta isso. Meu longa Besouro é reconhecido por grupos afrodescendentes. A Mixer sempre teve diretoras mulheres antes de ser moda, 80% da produção é protagonizada por mulheres e quase 70% das pessoas da Mixer são mulheres. A produtora executiva desse projeto é a Adriana Marques, que é grande profissional.

M&M Uma das propostas da série é não só retomar a história da publicidade, mas trazer o que ela pode ser. Baseado no que você ouviu das entrevistas, o que a publicidade pode caminhar para ser?
Tikhomiroff –
Como é um documentário, a nossa posição é não tender a qualquer caminho, mas o futuro é extremamente rico e instigante. Você não sabe mais para onde vamos. Você fala de uma tecnologia e amanhã tem outra e agora se fala da comunicação virtual e como as marcas vão se envolver. São muitos desafios extremamente interessantes no horizonte próximo ou não próximo. Há muitos desafios e um grande gás para serem mais criativos na busca de soluções originais e diferentes para se conectar com a audiência.

M&M – O que você tira de mensagem principal para a indústria a partir dessa série documental?
Tikhomiroff –
Vivemos um outro momento no mundo da comunicação. A forma que chegamos na pessoas é tão ampla e diversa e o que temos que ter sempre em vista é que não temos mais uma comunicação direta, por questões tecnológicas, então o fundamental na publicidade é a criatividade. Ela sempre tem que ser considerada o ponto principal. Se você não colocar em primeiro lugar a criatividade, as coisas não vão funcionar ou tocar as pessoas de uma forma relevante.

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