CEO da AP critica governo dos EUA
Em entrevista ao Meio & Mensagem, Gary Pruitt fala sobre a descoberta do monitoramento de linhas telefônicas da agência pela Justiça americana em 2012
Em entrevista ao Meio & Mensagem, Gary Pruitt fala sobre a descoberta do monitoramento de linhas telefônicas da agência pela Justiça americana em 2012
Igor Ribeiro
15 de maio de 2013 - 8h02
Por Igor Ribeiro
Atual CEO da Associated Press, Gary Pruitt está no Brasil em reuniões de negócios. Mas parte de seus pensamentos estão na sede da AP, em Nova York. Foi na sede da agência, quase concomitantemente ao seu embaque para o Rio de Janeiro, que chegou a notícia, semana passada, de que cerca de 20 linhas telefônicas da agência haviam sido monitoradas pelo Departamento de Justiça (DJ) americano entre abril e maio de 2012.
Pruitt fez pública sua indignação nessa segunda 13, quando o caso foi divulgado. Mais de uma centena de jornalistas teriam usado os telefones, cujos registros foram desbloqueados pelo DJ. Nesta terça o executivo comentou o ocorrido em entrevista ao Meio & Mensagem, antes de falar com qualquer outro veículo do mundo. "A postura do governo é alarmante", resume.
Pruitt acredita que o governo queria informações sobre a apuração de um atentado terrorista em planejamento no Iêmen, tendo em vista o aniversário de um ano da morte de Bin Laden, cujo alvo seria o presidente americano, Barack Obama. A CIA desmantelou a operação e só a AP cobria essa história. "Quando o governo nos comunicou na sexta (10) sobre a interceptação das ligações, não disse qual era a intenção e nem fez outros comentários", diz o CEO, na sede brasileira da AP, em São Paulo. "Mas essa era nossa reportagem mais delicada na época, acreditamos que procuravam por nossas fontes".
Na ocasião, quando a AP ainda não sabia que era monitorada, o próprio DJ pediu sigilo sobre o caso, para não atrapalhar as investigações. "Nós concordamos e só publicamos no fim de maio, quando o governo autorizou. Coincidentemente, foi no mesmo período em que pararam as escutas, segundo o Departamento de Justiça", afirma Pruitt.
O caso deixa o executivo especialmente indignado, já que é formado e pós-graduado em direito com especialização em Primeira Emenda – texto da Constituição Americana considerado primordial, por definir as liberdades de religião, de reunião e de expressão, com especial menção à livre atividade de imprensa. "Isso só me faz ver o quanto é ultrajante", diz Pruitt.
"Talvez não houvesse pior momento para estar longe da sede, mas a tecnologia me mantém conectado. Além disso, eu tinha uma agenda importante no Rio e em São Paulo", afirma. O CEO teve reuniões envolvendo a cobertura de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.
Na segunda, Pruitt enviou uma carta a Eric Holder, procurador-geral dos EUA, exigindo a devolução dos arquivos telefônicos, a destruição de todas as cópias e o comprometimento público de caso de exceção. "Não há exigência legal de prazo, mas esperamos que o governo assuma suas responsabilidades na maior brevidade possível", conclui Pruitt. Por ora, a agência descarta processar o governo americano.
Debate no congresso
Pressionado pelo caso, Obama não entrou em defesa de Holder, tampouco admitiu erro na condução do episódio. Mas a imprensa americana acredita que o presidente sugeriu ao líder do governo no Senado, Ed Pagano, que movimentasse a Casa no sentido de reintroduzir na pauta um dispositivo legal chamado Free Flow of Information Act, que prevê maior proteção a fontes confidenciais de jornalistas e lhes oferece melhores recursos jurídicos em caso de intimações ou quebras de sigilo.
A discussão ganhou mais força após um repórter do Washington Times ter revelado na segunda 20 que um repórter da Fox também foi monitorado pelo Departamento de Justiça. O governo quebrou o sigilo do telefone pessoal e do ramal de James Rosen na redação, além de ter acessado os registros de ligações de seus pais, dados de sua conta de Gmail e rastreado seus passos. A Fox acredita que o governo procurava informações sobre uma reportagem envolvendo planos nucleares da Coreia do Norte.
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