11 de agosto de 2016 - 13h51
Desde que comecei a produzir cinema a minha maior dificuldade sempre foi captar recursos. Apesar de ter-se levantado agora a “facilidade” que a Lei Rouanet dá a quem trabalha com cultura, isso nunca existiu. Qualquer produtor sabe a resistência que as empresas têm em investir em cinema. Quais os benefícios? Quais as contrapartidas? Por quê?
Pensando na forma de convencer as empresas a investir e a não acharem que estão investindo somente porque “é difícil fazer cinema no Brasil”, vi que a proposta tinha que ser diferente: Vamos fazer um negócio que beneficie e dê visibilidade a sua marca através do investimento no meu filme.
E assim comecei a bolar ações dentro e fora da tela que associassem as marcas aos nossos longas-metragens. Poderia citar como exemplo diversos cases de sucesso dessas ações, mas vou exemplificar com dois.
O primeiro foi no longa Polaróides Urbanas, dirigido pelo Miguel Falabella. Desde o começo do processo tínhamos dúvidas sobre o nome do filme, que foi adaptado da peça de teatro “Como encher um biquíni selvagem”. Havia uma terceira opção de nome: O Terceiro Sinal. Com a dificuldade na escolha, sugerimos a uma empresa de telefonia parceira que perguntasse por mensagem de texto aos seus clientes qual nome eles preferiam. Na época, a base de clientes dessa operadora era de algo em torno de 60 milhões. E 5% desses clientes responderam à enquete, onde o custo de cada SMS era de R$ 0,50. Façam os cálculos do lucro da minha patrocinadora com essa ação…
O segundo case, que não trouxe resultados financeiros para a empresa, mas que teve uma repercussão extremamente satisfatória, foi uma ação de endomarketing. Eles estavam com um problema enorme junto aos seus funcionários, pois mudaram a sede de endereço, que anteriormente era central e tinha transporte público e diversas opções de alimentação na porta. A nova sede era em um bairro extremamente afastado do centro, os funcionários precisavam caminhar quilômetros do ponto de ônibus até a porta da empresa e não havia opção de alimentação perto. Criamos uma ação para entreter os funcionários: alguns deles foram sorteados e convidados para ir até o set de filmagem, em grupos e dias diferentes, passaram o dia conosco, almoçaram, tiraram fotos e conversaram com o elenco e também fizeram figuração no filme. Todo esse processo levou duas semanas. O retorno de satisfação dos funcionários foi altíssimo e contribuiu significantemente para atenuar a insatisfação deles para com o novo endereço.
Poderia escrever mais alguns exemplos com cases de product placement dentro da tela, mas a verdade é que precisamos olhar para o maior produtor audiovisual do mundo, os Estados Unidos, e ver como ele funciona há várias décadas: usando centenas de marcas dentro dos seus filmes. Sim, eu disse centenas. E na maioria das vezes elas não são percebidas, porque o intuito é que a mensagem seja subliminar. Você percebe, mas não se incomoda, porque as marcas, além de parte do contexto, fazem parte do dia a dia de todos. Dados atuais atestam que quase a metade dos orçamentos dos filmes americanos são financiados por product placement.
Se você olhar ao redor, quantas marcas têm perto de você? Os produtos e o modo de viver americano estão espalhados e enraizados em todo o mundo e o principal responsável por isso é o cinema. Por trás de tudo isso está o governo americano que sempre teve o entendimento da importância do cinema como maior divulgador do “American way of life”. É isso que o cinema faz: insere as marcas organicamente com credibilidade dentro da nossa realidade. Ou até mesmo quando é fantasia. Mas isso é papo para uma outra oportunidade.