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Opinião

Sentados e observando

Estejam as condições favoráveis ou não, uma hora será inevitável se jogar de volta ao mar


30 de julho de 2018 - 16h39

Neste momento, sentar e observar é a atitude padrão das grandes empresas no Brasil, especialmente as multinacionais. (Crédito: Dimitris66/iStock)

Nos primeiros meses de 2001, pairavam dúvidas sobre a capacidade de a economia do Brasil manter o ritmo de crescimento registrado no ano anterior, de 4,31%. Os números do ano 2000 eram em boa parte fruto da baixíssima base de comparação estabelecida pelos resultados ínfimos do Produto Interno Bruto em 1999 (0,34%) e 1998 (0,48%). Eu trabalhava no marketing da Rip Curl, marca australiana de surfwear, e tinha acesso aos relatórios de orientações para estratégias e investimentos dos executivos globais para o escritório brasileiro. A recomendação da sede no primeiro trimestre de 2001 era bem clara: o ambiente de negócios era instável e seria preciso mais tempo para uma compreensão melhor do cenário que se consolidaria nos meses seguintes. “Sit and watch”, dizia o texto.

“Sentar e observar”, no jargão de negócios, significa não tomar nenhuma decisão, da qual possa se arrepender depois, enquanto o cenário para investimentos não está bem definido.

A cautela sugerida pelos australianos era um tanto quanto frustrante, mas se mostrou correta em fundamento: o País cresceu apenas 1,39% em 2001, ano marcado pela “crise do apagão”, que culminou com o maior racionamento de energia oficial da história brasileira, iniciado em julho daquele ano e encerrado apenas em fevereiro de 2002.

À espera de uma conjuntura mais definida da corrida presidencial e enquanto o governo atual definha em seus últimos seis meses, ninguém arrisca, ninguém se mexe

Sentar e apenas observar era algo complicado para os meus 24 anos, na época. Remetia às primeiras viagens sozinho com meu irmão mais velho para a praia, no começo da adolescência. Mal colocávamos os pés na areia, e eu já queria me jogar direto no mar. Meu irmão colocava a prancha de lado e sentenciava: “Vamos nos sentar e olhar um pouco.” A observação era necessária para uma análise das mais diversas variáveis a influenciar um dia de surf: quanto tempo havia entre as séries de ondas; qual onda era a maior e qual a melhor da série; qual o fluxo e a força da correnteza; qual o melhor caminho para varar a arrebentação, levando o menor número possível de vagalhões na cabeça. Quanto pior as condições das ondas, mais observávamos. Quanto maiores, também. Distraído, eu olhava, olhava e não via nada: tudo o que aquele contemplar me propiciava era ansiedade e, em dias de grandes ressacas, medo.

Quando finalmente entrávamos na água, meu irmão partia a largas braçadas pelo caminho rumo ao fundo, traçado em sua severa observação, enquanto eu agonizava em meio à zona de impacto com minha ausência de estratégia. Ao finalmente atravessar a arrebentação, o esforço tinha sido tamanho que chegava no pico com os níveis de energia e concentração tão baixos que minavam minhas já parcas chances de sucesso. E então, quando a ação para valer realmente começava, muitas vezes só me restava sentar na prancha e olhar.

Neste momento, sentar e observar é a atitude padrão das grandes empresas no Brasil, especialmente as multinacionais. À espera de uma conjuntura mais definida da corrida presidencial e enquanto o governo atual definha em seus últimos seis meses, ninguém arrisca, ninguém se mexe. Essa postura basicamente trava os negócios na área de comunicação e em todos os setores ao represar o caminho natural do capital privado.

Nas conversas de bastidores com os executivos e líderes das principais agências do País, a expectativa de que esse quadro seja revertido nas próximas semanas é praticamente nula. Até porque os políticos ainda estão em movimentação intensa para fechar os acordos finais para o primeiro turno da eleição — sem contar que o líder das pesquisas até aqui segue fiel à ideia de levar a sua candidatura até o último segundo que a Justiça eleitoral permitir, fator que anuvia ainda mais uma disputa com tantas nuances.

É compreensível que as empresas se sintam inseguras para investir grandes volumes de dinheiro enquanto não conseguem traçar um panorama minimamente confiável do que deve ser o ambiente de negócios para os próximos anos.

Mas é preciso que essa observação seja deveras estratégica e não paralisante: estejam as condições favoráveis ou não, uma hora será inevitável se jogar de volta ao mar.

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