Brasil, a pátria gamer
Um terço da população brasileira joga videogames; se você ainda acha que isso é um nicho, game over para sua marca
Um terço da população brasileira joga videogames; se você ainda acha que isso é um nicho, game over para sua marca
17 de dezembro de 2019 - 18h01
Há 75,7 milhões de jogadores hoje no Brasil. É o que diz a Newzoo, consultoria especializada na indústria de games em um estudo chamado Brazil Games Market. Para você ter ideia, o número de jogadores é maior do que o número de adeptos em diversos esportes no Brasil:
– 4 milhões de praticantes de corredores de rua
– 8,5 milhões de praticantes de skate
– 11 milhões de praticantes de natação
– 11 milhões de praticantes de futsal
– 15,3 milhões de praticantes de voleibol
– 30,4 milhões de praticantes de futebol
– 38,8 milhões de praticantes de esportes
1983, o ano que viramos gamers
O primeiro videogame da minha vida foi um Telejogo 2, em 1977. Desde aquela época, achava intrigante um aparelhinho daquele ser feito pela Philco Ford. Mas acabei descobrindo que o ano que realmente viramos gamer foi em 1983.
Vi outro dia um recorte do O Estado de São Paulo sobre um torneio de videogame que iria acontecer no shopping Eldorado naquele ano. Me senti um arqueólogo dos e-sports lendo aquilo. Os consoles desse torneio eram o Atari, da Polyvox, e o Odyssey, da Philips. Que também foram lançados no mesmo período.
Lembrando da minha infância, tinha dez anos nessa época. Me divertia com os Game & Watch da Nintendo (meu primeiro contato com Mario Bros. e Donkey Kong) e dos Casio Game Watch que eram os objetos de desejo dos gamers daquela época. Tem gente vendendo uma dessas belezinhas por R$ 4 mil no Mercado Livre.
Rever o passado vale não só pelo saudosismo. Daí vem uma geração de pais e mães que começaram a jogar desde a década de 1980 e podem tanto nunca ter parado de jogar quanto ter resgatado seu passado gamer por conta dos filhos.
Digital por natureza
O Google realizou um estudo em 2017 que diz que 56 milhões de brasileiros consomem conteúdo online de games no Brasil.
Os motivos que fazem uma pessoa assistir a esse tipo de conteúdo são vários. Se voltamos aos anos do Atari, a moçada se reunia em torno dos dois que estavam jogando para ver quem ia ganhar, quem era o melhor, o mais rápido, o mais hábil. Muitas vezes para ver a reação de quem estava ganhando ou perdendo, os trejeitos com o controle e por aí vai. Mas nem todo mundo estava ali para jogar necessariamente.
Os gamers souberam como ninguém criar plataformas de relacionamento com seus fãs. Mantêm diálogos (e não monólogos) com seu público diariamente. Criaram linguagem e formatos próprios e sabem o que funciona junto ao seu público ou não.
Mais do que inovadores no processo criativo, são especialistas no que fazem. E isso é muito sério. Lembre-se que o Brasil é 13º. mercado consumidor de games no mundo. Em dindin, US$ 1,5 bilhão.
Eles testam produtos, entendem de narrativas, necessitam de produtos e serviços que possam garantir que eles possam produzir vídeos e conteúdo ao vivo todos os dias.
Entre outras coisas, precisam de computadores que não pifam, softwares que não dão pau, internet realmente boa, 4G que seja 4G, baterias mais duradouras, serviços financeiros que não lhes tome muito o tempo, companhias aéreas pontuais, serviços de delivery eficientes e com mais opções. São reais empreendedores individuais.
Tem criadores para todos públicos, gostos, marcas e identidades. Entra no youtube.com/gaming e você vai ver.
Todo dia, mulheres e homens se dedicam integralmente a ser parte vital da indústria de games no Brasil e no Mundo. Não é por acaso que os números de consumo desse tipo de conteúdo só crescem no Brasil e fazem das plataformas digitais um lugar essencial nessa indústria.
Se um jogo bombou, não tenha dúvida que muito desse sucesso vem por conta dos produtores de conteúdo especializados em games.
Por onde minha marca começa?
Entenda que o mundo de games é tão grande, rico, diverso e extenso como o da música e dos esportes, citando apenas dois exemplos, em termos de conteúdos e oportunidades para as marcas.
Ninguém patrocina música, mas, provavelmente, um evento, artista ou um gênero musical específico. Assim é com música eletrônica, sertanejo ou Carnaval — esse último exemplo com características distintas se comparamos o evento em São Paulo com o de Salvador.
Ninguém patrocina esportes, mas acaba buscando em uma modalidade diversas possibilidades de ativação de marca.
Vale para compra de mídia, brand content, naming rights, licenciamento de produtos, patrocínios, ações com comunidade e tantos outros exemplos onde o Brasil já tem diversos cases que mostram nosso dom para a coisa.
Com games não é diferente. E o gamer é um ótimo consumidor.
Divido com vocês alguns bons caminhos de marcas que estão investindo em games hoje em dia:
1. Conversas de longo prazo: uma das coisas mais bacanas que vejo nesse mundo é o respeito que os consumidores têm pelas marcas que apoiam a causa gamer. Desde que elas estejam de fato interessadas em fazer parte de forma genuína. Se você quer fazer uma ação de oportunidade, pontual, vale repensar sua abordagem;
2. Pergunte ao especialista: converse com produtores de conteúdo, como publishers de jogos, empresas especializadas em organização de eventos e transmissão de conteúdo ao vivo além de gente que está criando formatos proprietários para a plataforma. Podem te dar um belo entendimento de como entrar nesse meio;
3. Visitas: no Brasil, já temos uma agenda bem repleta de conteúdo no mundo games. Temos eventos em praticamente todas as capitais do Brasil, torneios de e-sports, bares gamers e naturalmente o próprio YouTube para você entender melhor como isso está ocorrendo. Se puder, visite eventos como E3, Blizzcon e Esports BAR (EUA), Gamescom (Alemanha) além de campeonatos organizados por empresas como ESL e Dreamhack em todo o mundo;
4. Deleta e começa de novo: abandone todo e qualquer clichê que você tenha sobre esse ser humano intitulado gamer. Somos homens, mulheres, jovens, crianças. Somos gente que representa a diversidade de um país do tamanho do Brasil. Somos um terço da população. Portanto, impossível de dizer que existe um perfil único e limitante desse consumidor.
300 mil pessoas em lugar só para celebrar a cultura gamer
Todo mês de outubro, em São Paulo, acontece a Brasil Game Show, uma das maiores feiras de games do mundo.
É o grande momento de celebração da cultura gamer no Brasil. Ali empresas, fãs, consumidores, criadores de conteúdo, cosplays, plataformas digitais, equipes de e-sports e tantos outros representantes se encontram para consumir conteúdo, produtos e serviços relacionados aos mundos dos games.
Marcas de diversos mundos estão presentes, como YouTube, Banco do Brasil, TNT, Cup Noodles e Lojas Riachuelo. Alguns exemplos de como empresas estão entendendo que boa parte do tempo de seus consumidores passa por telas onde o videogame é protagonista.
Um evento imperdível que mostra, mais do que nunca, porque o Brasil é a pátria gamer.
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