Os três pilares de uma empresa pós-coronavírus
Produção de conteúdo, conhecimento da audiência e tecnologia funcional; o resto é serviços, estratégia de se obter receitas e controle de gastos
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Se há algo que nenhum diretor, gerente ou CEO de empresas de comunicação do mundo ousa discutir é que o mundo será diferente depois da pandemia. Nunca a divisão AC/DC (Antes do Corona, Depois do Corona) foi tão clara para esta geração. Imaginar que quando o vírus estiver dominado a carteira de anunciantes, por exemplo, será a mesma de antes é dar murro em ponta de faca – com a mão já bastante ensanguentada.
Sem a alternativa de “voltar ao que era antes”, a única opção é mudar. E aí se diferenciam os irresponsáveis dos ousados, os medrosos de quem enxerga alguns palmos à frente. A mudança não pode ser inocente. O momento é de movimentos bruscos. O abismo está próximo, mas, como o nevoeiro se dissipou, é possível enxergar soluções – ainda que o custo seja alto.
O primeiro ato deve ser pensar a empresa como se ela estivesse nascendo do zero – com a vantagem de já ter respaldo, história, relevância, parcerias. A estrutura de uma empresa de comunicações precisa, necessariamente, ser mais leve. Menos diretorias, hierarquias mais horizontais, responsabilidades mais concentradas.
É hora de pensar como uma “startup”. O exercício é: se fôssemos montar uma empresa hoje, como seria? A diferença entre a realidade e a projeção futura é a estratégia dos próximos movimentos. Isso envolve a matriz de receitas, o controle de gastos e o quadro de funcionários. Manter a comunicação em primeiro lugar, conectar audiências, servir aos anunciantes, aumentar a relevância em qualquer plataforma, criar formas inovadoras de monetização.
Não, não é fácil. Desprender-se da realidade de tantos anos é ainda mais difícil. O que não é difícil é entender que uma empresa de comunicações no universo digitalizado tem três pilares robustos: produção de conteúdo, conhecimento da audiência e tecnologia funcional. O resto é serviços, estratégia de se obter receitas e controle de gastos.
O coração de uma empresa de mídia é a redação. É no conteúdo que se conquista relevância. Bons jornalistas podem produzir ótimos meios de comunicação. Maus jornalistas nunca conseguirão. Por isso a estratégia descabida de reduzir custos indiscriminadamente cortando cabeças em redações é um exercício de harakiri. Não funciona e só diminui a possibilidade de melhorar o conteúdo. Isso não significa que as redações precisam ser gigantes, claro que não: mas os bons devem ficar.
O estudo da audiência é vital nas novas empresas. Conhecer o cliente, saber o que oferecer, quando e de que forma. As ferramentas permitem que se conheça mais a fundo as audiências. E isso tem um valor enorme. Para alinhar a produção de conteúdo, captar e manter clientes, ajudar anunciantes. Mas, lamentavelmente, a maioria das empresas de comunicação ainda considera essa uma área paralela, de apoio. E desdenha da necessidade dessa informação fundamental.
Tecnologia não é custo, mas sim investimento. Não significa que é preciso gastar mais do que o necessário – só que é muito importante se conhecer esse necessário. Tecnologia facilita processos, impacta nos canais de relação com a audiência, ajuda na produção de conteúdo. Insistir em soluções antigas e caseiras costuma ser o barato que sai caro.
Os tempos são outros. O coronavírus serviu para mostrar que é possível ser diferente. Isso vai bater no caixa, nas receitas das empresas. O momento de isolamento social é o melhor possível para que se planeje o futuro. A volta encontrará um mundo que sepultou os dogmas de antes da pandemia. É, mais do que nunca, mudar ou morrer.
**Crédito da imagem no topo: hh5800/iStock
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