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Opinião

5 recomendações para quem ainda estiver de braços cruzados

Só vão sobreviver os que souberem se mexer agora


5 de junho de 2020 - 15h48

(Crédito: StudioThreeDots/istock)

Chega a dar pena folhear um jornal impresso em dias de pandemia. Raros anúncios, classificados clandestinos. Poucas páginas. Conteúdo desinteressante, que, definitivamente, não vale o investimento do leitor. A culpa é única e exclusiva dos gestores das empresas de comunicação, que há cinco anos resistem à necessidade de reinventar o produto, de entender o convívio digital, de alterar o modelo de negócios, de desenvolver uma estratégia para recuperação de relevância com a audiência.

A atitude suicida parece uma piada — não fosse real. “Vamos reduzir 20%”, e lá se vão mais cabeças. O corte na carne resolve problemas de caixa imediato e compromete qualquer chance de recuperação futura. Ou seja, é como um remédio que interrompe a dor sem curar a doença. O quebra-quebra já começou no Brasil. E, lamentavelmente, ainda vai longe.

É difícil, muito difícil, esperar que quem sempre atuou de uma mesma maneira mude, repentinamente, sua estratégia. Sem uma ajuda externa, sem desconectar o futuro do presente, não se vai a lugar nenhum. Isso já era uma realidade nos últimos cinco anos, só que agora o coronavírus veio para acelerar a necessidade de mudar. E a maioria dos gestores segue de braços cruzados, esperando o milagre. Que não vai acontecer. Depois da pandemia, nada será igual. E só vão sobreviver os que souberem se mexer agora. É duro, mas é a verdade que precisa ser dita.

Em 1º. de Maio, Dia do Trabalhador, o publisher argentino Jorge Fontevecchia (CEO do grupo Perfil) anunciou: “A situação atual nos obriga a uma reinvenção”. Novos produtos, novo modelo de negócios, nova estratégia. Ser criativo agora para colher o sucesso a partir do ano que vem. A pressa na busca por resultados compromete a grande aposta.

No Brasil, poucos arriscam. São lerdos e serão responsáveis pelo maior movimento de quebra das empresas. No século 21, ensinam as startups, as decisões precisam ser rápidas. Não há tempo. Há mais de 50 anos Roberto Marinho, artífice do enorme desenvolvimento do Grupo Globo, ensinou: é preciso ter, no mínimo, 51% de inspiração e, no máximo, 49% de racionalidade. Mas os teimosos líderes de hoje apostam em 80% de racionalidade. E quebram.

Há cinco recomendações necessárias para qualquer empresa de comunicação que quiser ser diferente — e sair com maiores chances da pandemia e suas consequências:

1. Aceitar que 2015 acabou: É inaceitável que que os diretores responsáveis pelas receitas ainda acreditem que vão convencer aquele ex-anunciante a voltar, que vão aumentar outra vez a base de assinantes do impresso, que tudo será como antes. Isso é mentira. É ilusão. É irresponsabilidade. É como o avestruz, que enterra a cabeça no chão para não ver a realidade.

2. Entender os novos interesses informativos da audiência: Para isso é preciso conhecer a audiência, saber quem são os leitores. Falar com eles. E (surpresa!) vai se descobrir que aquela separação clássica de editorias morreu. Uma das pragas das redações é dividir em muitas editorias e isentar-se das responsabilidades, permitindo que cada uma funcione como um pequeno gueto. Isso é um tremendo erro.

3. Desenvolver estratégias de conexão com as pessoas: Não basta entregar produtos prontos, como se fazia antes. Quando se conhecem os hábitos da audiência, é possível montar uma estratégia que contemple a distribuição de conteúdo da maneira como a própria audiência quiser.

4. Não ter medo da mudança: Mudar não é fácil. Mudar altera lógicas, horários, hábitos. E se todos estão acomodados, é ainda mais difícil. Mas insistir na situação atual de crise extrema é burrice. Não funciona, nem vai funcionar.

5. Acreditar, investir na mudança e não jogar a toalha: Quando se promovem mudanças, os obstáculos são enormes. E todos eles pretendem que a mudança seja interrompida. Um líder fraco desiste ao primeiro susto. Aí, além de perder a estratégia, o tempo de estudo, o ânimo, perde também o respeito de seus liderados. É preciso começar, lutar, insistir, terminar e, só depois, comemorar os resultados.

O tempo está correndo. Quanto mais tardar o começo da grande transformação, pior para os números. O coronavírus só acelerou o que todos viam, mas preferiam não enxergar.

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