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Opinião

É um adeus, mas você ainda vai ter que me aguentar

Durante todos esses anos, pude editorialmente expressar, sem um único instante de restrição, minha visão de mundo e dos nossos negócios


1 de setembro de 2020 - 9h00

(Crédito: Benjamin Toth/ iStock)

Depois de 42 anos, saí do Grupo Meio & Mensagem.

Saí, mas não vou embora.

Explicando.

Entre idas e vindas, estou no grupo e me relaciono com o M&M desde que ele nasceu e foi nele também que eu mesmo nasci para a profissão da minha vida, que é o jornalismo.

Meu amigo, irmão mais velho e patrão de araque, porque sempre foi muito mais meu amigo e irmão mais velho do que meu patrão, seu Salles Neto me acolheu quando eu ainda estava na faculdade, cabeludo, barbudo e maconheiro de esquerda, sabe-se lá por quê.

Quer dizer, acho que sei sim.

Eu e meu outro amigo irmão mais velho, Sergio Borgneth, na época editor do jornal Meio & Mensagem, que há alguns anos foi torcer pro Flamengo em grande angular lá do alto de um drone divino, éramos, ele e eu, aqueles jovens intrépidos que poderiam, de alguma forma, assegurar um padrão de jornalismo no qual ele, seu Salles Neto, mais do que ninguém, ninguém, neste mercado, já acreditava. Acho que foi por isso.

Mal ou bem, deu certo.

Bom, para mim, deu mais do que certo.

Durante todos esses anos, pude editorialmente expressar, sem um único instante de restrição, minha visão de mundo e dos nossos negócios.

Pude me transformar num mané com algum reconhecimento na indústria e isso é, certamente, noventa por cento da minha história profissional até agora.

Fica feio falar bem do M&M num contexto assim? Tô achando, soltão aqui, que não. Então, lá vai.

Fazer jornalismo sério e idôneo neste mercado não é lá coisa muito fácil. Somos uma indústria da bem aventurança, do otimismo e das boas novas. Um setor do positivo e em que nem sempre as coisas mais duras que precisam ser ditas são, de fato, ditas às claras e publicamente.

Pois o M&M, para além de ter feito ao longo dessas mais de quatro décadas a melhor, mais ampla e profunda cobertura dos fatos e acontecimentos do setor de marketing e comunicação do Brasil, foi também aquele que soube analisar sem amarras a cadeia de negócios da qual é elo, por vezes assumindo posições e defendendo reflexões nem sempre de agrado de todos.

Eu mesmo, por vezes também, escrevi coisas que não foram lá muito bem aceitas por todos da cadeia, que, em algumas ocasiões, devem ter pensado seriamente em me mandar para a cadeia.

Pois nem o M&M nem eu jamais fizemos isso por outra razão que não tenha sido a de contribuir para que nossa indústria enfrentasse de frente desafios que precisava enfrentar para seguir se desenvolvendo, liberando-se de amarras que pudessem estar atravancando, em nossa ótica, sua maior e melhor expansão.

Paga-se algum preço por isso. Mas, olhando em perspectiva esses meus 42 anos e a mesma coisa para o Meio & Mensagem, sigo entendendo que fizemos não só o que nossa limpa consciência nos orientou fazer, como também pudemos exercer o papel translúcido do espelho que, defrontado, mostra nada menos do que nossa imagem real, sem tirar nem por.

Foram anos intensos e de aprendizados sem fim.

Mas tudo na vida se transforma e essa relação, M&M e eu, passa agora por uma transformação mega importante para mim.

Fui embora do Grupo M&M, mas sigo aqui como colunista do Meio & Mensagem, do qual fui editor por dez anos. Quer dizer, isso enquanto os caras do M&M — e vocês, leitores — me aguentarem.

Da minha parte, sigo com uma holding company de startups que, ao longo dos anos, pude construir com outros investidores, a Macuco Tech Ventures, hoje com 15 startups. Macuco é o nome do bairro do cais do porto em que nasci na cidade de Santos, filho de estivador da Companhia Docas e de revendedora da Avon. É uma forma de homenagear minhas origens e jamais me esquecer delas. Viro também sócio da Pipeline Capital, empresa de tech M&A focada, em grande medida, em nossa indústria e, dessa forma, poder seguir contribuindo, agora na prática dos negócios, para a sua modernização e diferenciação. Além de me tornar também colunista da Exame, do Startse e da MIT Technology Review.

Ou seja, saio, mas fico.

E fico com o espírito de seguir contribuindo para o desenvolvimento desta indústria, que fez e continuará fazendo parte relevante da minha vida, como o seu Salles Neto sempre me ensinou.

*Crédito da foto no topo: Reprodução 

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