O etarismo e as barreiras no e-commerce
De olho nesse desafio, potências da tecnologia têm ajudado profissionais de desenvolvimento a checarem o nível de acessibilidade de sites e aplicativos e a eliminarem suas barreiras de acesso
De olho nesse desafio, potências da tecnologia têm ajudado profissionais de desenvolvimento a checarem o nível de acessibilidade de sites e aplicativos e a eliminarem suas barreiras de acesso
14 de fevereiro de 2022 - 15h50
Há algo de novo entre os mais velhos. Desde que surgiu no Brasil ao final da década de noventa, a internet rapidamente conquistou ondas de adeptos. Inclusive entre os que têm mais de 60 anos, nas suas buscas por informações. Essa mesma terceira idade – quando se viu obrigada a arriscar alternativas de abastecimento em sucessivos lockdowns, ou ante o temor do contágio pela Covid-19 em estabelecimentos físicos -, aderiu ao e-commerce, ao lado de outros milhões de consumidores, embora não fosse formada por nativos digitais. Superou a sua insegurança com o uso do cartão de crédito em compras online, ou com a entrega das mercadorias.
Desmistificados os primeiros temores, esse grupo de consumidores é hoje uma oportunidade ímpar ao varejo online.
A verdade é que o Brasil, há muito, deixou de ser um país de jovens. Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), quase 38 milhões de brasileiros e brasileiras – o equivalente ao dobro da população chilena – são pessoas com 60 anos ou mais. Nesse universo, uma em cada cinco pessoas trabalha; 75% contribuem para a renda da família, seja por meio da remuneração de suas ocupações, seja por meio de suas pensões. Aliás, esse potencial econômico não é exclusividade do Brasil. Nos EUA, a riqueza acumulada entre quem nasceu entre 1946 e 1964 – os chamados baby boomers – chega a mais de US$ 60 trilhões, segundo dados do Federal Reserve, o banco central americano, ou seja, 53% da riqueza acumulada pelas famílias dos EUA.
Quem ignora essa faixa da população não apenas comete uma forma de ageísmo, ou etarismo, que é o preconceito contra as pessoas mais velhas, como também perde oportunidades econômicas importantes. Já é hora de o mercado entender sobre quem é este novo perfil sênior. Inclusive porque seus hábitos são muito diferentes das gerações anteriores, a exemplo de sua adesão às compras virtuais.
E, ao falarmos do uso da tecnologia pela terceira idade, a acessibilidade ganha relevância. O conceito no universo digital engloba vários aspectos, como qualidade do conteúdo, a velocidade do carregamento de um site, bem como a descrição do conteúdo das imagens, facilidade de cliques… só para citar alguns. Na prática, o tamanho da fonte utilizada em um site pode ser determinante para uma boa ou péssima interação de uma empresa com visitantes da sua página. No caso de pessoas idosas, letras sem contraste são um outro fator limitador para uma boa experiência de compra.
Conforme envelhecemos, é natural que nossos sentidos e mobilidade fiquem mais comprometidos. Assim, as empresas não podem mais achar que acessibilidade é um recurso adicional e que pode ser ou não incluído em seu produto digital.
De olho nesse desafio, potências da tecnologia têm ajudado profissionais de desenvolvimento a checarem o nível de acessibilidade de sites e aplicativos e a eliminarem suas barreiras de acesso. O Google, por exemplo, oferece o Google Lighthouse, ferramenta que audita o desempenho, acessibilidade e otimização de mecanismo de pesquisa de páginas da web.
E é aqui que o recurso de busca por voz tende a evoluir rapidamente para facilitar a vida de quem passou a realizar compras e buscas por meio do seu smartphone. Afinal, venhamos e convenhamos: o teclado do celular e suas letrinhas miúdas é, no mínimo, desafiador. Para muitas pessoas idosas, chega a ser uma barreira importante.
Mas de que vale o Google incluir em seu buscador um botão de uso bastante intuitivo para busca por voz se o site não estiver preparado para interagir com esse recurso? As tecnologias precisam estar integradas para funcionarem em harmonia. Não é responsabilidade de apenas um dos lados.
No caso das lojas virtuais, o desafio é ainda maior, uma vez que há integração de diversas tecnologias em um único site de compras. Basta uma delas não estar de acordo com as diretrizes de acessibilidade digital para que a loja virtual não seja acessível e não dê boas-vindas a milhões de potenciais clientes.
Outro ponto fundamental a se considerar é que acessibilidade não se faz de forma automática ou apenas incluindo um pacote de ferramentas para narrar o conteúdo, ampliar as letras, mudar o contraste etc. É preciso um trabalho integrado entre programação, conteúdo e design.
E quando tudo isso estiver de acordo com as diretrizes internacionais de acessibilidade, estará também em harmonia com as ferramentas de busca, melhorando consideravelmente o desempenho de SEO. Isso quer dizer que todo mundo ganha com acessibilidade: sua loja virtual ranqueará melhor nas buscas, mais clientes terão acesso aos seus produtos e serviços e a web se tornará um ambiente muito mais inclusivo.
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