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Opinião

Como resumir o maior festival de inovação do mundo?

Voltar do SXSW é trazer para casa um pouco de angústia com tanta informação, mas os dias vão passando e, aos poucos, tudo se conecta


12 de abril de 2022 - 12h31

Crédito: Thais Monteiro

Já faz mais de 10 dias que voltei do maior evento de inovação do mundo, o SXSW. Achei que já estaria acostumada ao overload de insights e provocações ao status quo. Chamado apenas de “SX” ou de South by, o evento ocorreu em Austin, no estado do Texas, de 11 a 20 de março. Foram mais de 1.400 palestras, 1.200 shows e 400 filmes exibidos.

Como sempre acontece, volto para casa um pouco angustiada com tanta informação. Mas os dias vão passando e, aos poucos, tudo se conecta. Estou agora trabalhando no download de tudo o que meu time e eu vimos em Austin – vamos apresentar nosso diagnóstico em um evento presencial, em breve. Penso que a experiência de ir ao SXSW é um pouco uma metáfora do caos de hoje: um fascinante mar de informações, conexões, pessoas e oportunidades. Uma vida sobrevivente de pandemia, ansiosa pela força do encontro real – a palestrante e autora Priya Parker abriu o evento falando disso.

Como resumir o SXSW?

SXSW é sobre o coletivo, sobre a troca de impressões. É preciso contar com a força virtuosa do coletivo, mergulhar no universo descentralizado da Web3.0 e, assim, conseguir resumir tudo que foi possível vivenciar no Festival. Com isso, a gente consegue enxergar os sinais de futuro trazidos por todo este conteúdo, com +10 dias de atrações ligadas a inovação, música, empreendedorismo, economia criativa e tecnologia. Dá-lhe poder de síntese e habilidades de storytelling para amarrar as narrativas e conectar os pontos. Mas vamos lá!

“Re-perceber” o mundo é preciso

Toda edição do SX tem suas atrações esperadas. Um hit é a apresentação de Amy Webb, uma das futuristas mais influentes do mundo. Ela começou com um termo que eu adorei: re-perception. A necessidade de “repercebermos” o mundo. Nunca foi tão oportuno o momento. “Re:perceber” nada mais é do que quebrar paradigmas, bandeira que carrego na minha trilha como especialista em inovação. Uma tremenda oportunidade (eu diria uma necessidade) de resetar valores e mentalidades que não servem mais.

Na toada de “re-perceber” o mundo, de colonizar melhor o futuro, fui impactada pelas muitas falas ligadas à força do coletivo, que, no meu feelset (o antídoto ao ‘mindset’), foi o tema mais experienciado. Perdendo apenas para o METAVERSO – que foi covardia – bombou o tema do creator. Falou-se muito sobre como as pessoas estão se transformando, sozinhas, em veículos de comunicação e canais de mídia cada vez mais relevantes.

Tik Tok ditando a economia do creator

Como já dava para prever, o Tik Tok foi protagonista em praticamente todas as discussões sobre a “creator economy”. As marcas estão investindo com cada vez mais frequência em criações inovadoras para expor e vender seus produtos. Por outro lado, os creators atingem mais o público mais jovem, têm a “mão” para criar peças de comunicação assertivas com custo de produção menor para as marcas e plataformas.

Em um dos painéis, foram revelados os valores de investimentos pelas plataformas: o TikTok investiu US$ 1 bilhão em campanhas direcionadas aos criadores, enquanto o YouTube tem um fundo de US$ 100 milhões reservados para creators. Facebook e Instagram também fazem um investimento pesado para não ficar atrás do TikTok. Resumindo, as plataformas desejam atrair e reter creators, pois eles aumentam a base de usuários com suas criações.

Metaverso e os aprendizados para marcas

O executivo Sebastien Borget, Co-Founder e COO da The Sandbox, um mundo virtual imersivo (uma das versões de metaverso) trouxe um discurso poderoso sobre os cinco aprendizados do metaverso para marcas, aterrissando conceitos que poderiam estar confusos depois de ouvirmos tantos pontos de vista sobre o tema durante todo o SXSW. Metaverso é sobre o poder de criação das pessoas. Todas as pessoas. Ele reforçou o poder do user generated content, o conteúdo gerado por usuários. Sebastien disse que o metaverso está sendo construído, e ele será edificado no user generated content. Ou seja, nós é que vamos construir o metaverso.

Falando em construção coletiva, acho importante falar da experiência que vivemos lá no SXSW. É humanamente impossível ver o evento por completo e, nessa dinâmica, muita coisa a gente fica sabendo por meio de outras pessoas. Olha o mindset colaborativo atuando na prática! O poder de troca que o evento gera é muito poderoso.

Futuro descentralizado e a governança da internet
Um tema de grande visibilidade no SXSW foi a Web3: a ideia de que a próxima era da internet se baseia na premissa de descentralização, permitida pela blockchain, fortalecendo ainda mais o conteúdo desenvolvido pelos usuários. E aqui se abre um parênteses importante: os riscos dessa rede descentralizada. Racismo e discriminação, avatares e produtos fake, assédios e desinformação são só alguns exemplos de problemas que podem ser amplificados em ambientes virtuais.

Em seu talk no primeiro dia de evento, Scott Galloway, professor da NYU que sempre traz provocações interessantes (sua palestra chama Provocative Predictions with Scott Galloway) disse que na verdade o processo que estamos vivendo é de “recentralização”. Segundo ele, o poder não está com o povo. O poder continua nas mãos de poucas pessoas. De acordo com o estudo “inequality in crypto”, 9% das contas concentram 80% do mercado de NFT e 2% de contas concentram 72% de bitcoins; 81% das criptomoedas são do sexo masculino e 5% dos projetos de NFT são do sexo feminino.

A humanidade é o nosso melhor

Outro tema que nosso time rastreou é o da diversão com intencionalidade. Este tema representa muito bem esse momento que estamos vivendo, saindo (espera-se) de uma pandemia que durou 2 anos. Queremos nos divertir, sem esquecer do que passamos e das lições que aprendemos nesses tempos difíceis desde 2020. A speaker de abertura do SXSW foi uma especialista em encontros, e isso já diz muito sobre o tom do evento. Priya Parker é facilitadora, consultora e autora do livro “The art of gathering” (“A arte do encontro”, em tradução livre). Em sua conversa com Hugh Forrest, chief programming officer do SXSW, destacou como a pandemia e, agora, a guerra na Ucrânia, unem ainda mais as pessoas, em vez de afastá-las (como muitas vezes pode parecer). “Momentos de crise são os melhores para reunir pessoas e para encontrarmos, juntos, novos caminhos.”

Estes são alguns dos principais pontos que costurei sobre o SXSW 2022, com a ajuda não só do meu time mas também da comunidade colaborativa que gira em torno do Festival. Como toda experiência de conhecimento, é uma construção feita aos poucos e a muitas mãos. Você pode conferir nossa cobertura nas redes sociais da Spark:off e, em breve, nosso evento.

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