Meio & Mensagem
12 de maio de 2011 - 12h03
O baixo nível de interlocução nas áreas de marketing é uma das reclamações mais recorrentes das agências hoje no dia a dia da relação com clientes. Se por um lado, os profissionais jovens injetam energia aos setores de marketing, por outro, às vezes, podem errar a mão no afã de atingir metas. Ou então, não estão ainda devidamente preparados para as responsabilidades que lhe são precocemente impostas.
É emblemática a imagem do jovem (ou da jovem) recém-saído de um dos milhares de MBAs disponíveis hoje no mercado nacional e no exterior, ter por volta de 25 anos, e reprovar uma campanha inteira na qual a alta cúpula de sua agência passou os últimos dias trabalhando.
Muitas boas campanhas, às vezes, não são compradas porque quem está sentado do lado do cliente no balcão não tem critérios para avaliar um insumo tão complexo como é uma ideia. Ou seja, uma decisão tão estratégica assim acaba sendo delegada a profissionais que ainda não adquiriam a quilometragem necessária para ter critérios e repertório para essa avaliação. Como resultado, além do mal-estar evidente, há um inevitável desgaste na relação e trabalhos refeitos.
Esse é um problema que não está circunscrito ao universo dos clientes. Nas agências, em especial na área de atendimento, exatamente aqueles que fazem a intermediação com os anunciantes, a contratação de pessoas com pouca experiência é prática recorrente.
Diante disso, Meio & Mensagem perguntou a profissionais de destaque em anunciantes e agências se a juniorização é uma tendência sem volta e como lidam com esse processo.
Pelas respostas obtidas, no entanto, parece difícil optar entre o potencial de desenvolvimento de quem ainda não está completamente formado ou abrir mão dele em nome de um talento já reconhecido, mas que pode tender à estagnação — ou não.
Cliente
"A chamada juniorização é um processo sem volta e ocorre não só nos clientes, mas também nas agências. Vivemos em uma época de pleno emprego no Brasil, com um ciclo de desenvolvimento explosivo. Os jovens estão chegando ao mercado de trabalho cada vez mais preparados, entendem do negócio, mas não de negócios. Não têm ainda a vivência do todo, porque não tiveram a quilometragem necessária. Mas, por conta de uma pressão que vem de cima — pois as lideranças adoram apagar incêndio com gasolina —, são rapidamente colocados em posições nas quais espalham medo e pânico, pois estão em uma relação de dominância. Nas agências também, isso ocorre o tempo todo, há um alto índice de turnover, pois um profissional que tem lá seus 40 anos não tem mais paciência para fazer o dia a dia no atendimento com o cliente, atribuição que acaba recaindo para alguém em início de carreira. Nosso mercado é muito ingrato com a idade, parece futebol. Quantos profissionais em posições-chave de grandes empresas e marcas têm mais de 45 anos?"
Agência
"Estamos aqui falando da juniorização como um todo. Digo isso porque este não é um problema novo e não está restrito somente aos anunciantes. Um profissional júnior por natureza é alguém que está em formação, que precisa de coaching, orientação e direcionamento. Mas, não podemos nos esquecer de que os maiores e mais brilhantes nomes de hoje, foram júnior um dia. Isso forma um paradigma: o ponto número 1 deste paradigma é o que todo mundo fala: lidar com alguém que não está ‘pronto’ significa ter um processo ineficiente, retrabalho, falta de profundidade. Mas, o contraponto é: um profissional júnior talentosíssimo, futura estrela do mercado, tem a grande chance de crescer nos dias de hoje. O problema maior é a distância entre ele e o chefe que é de fato o decisor (na agência e cliente). E, se esse júnior se enfiar de cabeça na oportunidade que tem nas mãos, ele pode rapidamente preencher esse gap. Esse paradigma mostra que, dependendo do nosso ponto de vista, podemos ver ameaças e oportunidades nesse cenário. Se seu cliente é júnior, mas é talentoso e você quer ajudá-lo de fato a se formar, você ganhará muito no futuro. Nosso mundinho é muito pequeno, restrito e dá muitas voltas."
Agência
"Algumas empresas ‘juniorizaram’ apenas no sentido de diminuir custos. Outras, muito mais inteligentes, promoveram um ‘rejuvenescimento’ da área. Rejuvenescer no sentido de mesclar a nova geração de profissionais, mais afeitos à tecnologia digital, ao mobile e às mídias sociais, com os demais profissionais mais acostumados aos veículos tradicionais. Essa segunda tendência combina exatamente com o que estamos fazendo na JWT. Portanto, podemos atestar que essa mistura é muito salutar para as duas empresas: cliente e agência. Não acho que a juniorização ou não juniorização seja o fator mais determinante no resultado da comunicação de uma marca ou produto. A agilidade e qualidade do trabalho dependem muito mais do conhecimento e da confiança entre as empresas. Quando não há segredos entre cliente e agência, quando o entrosamento entre as equipes é total — tudo isso cria ambientes propícios para ideias criativas e consistentes, de acordo com a realidade do negócio do cliente."
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