Fernanda Ribeiro: A importância da autonomia financeira para as mulheres
Fundadora do Afrobusiness conta sua história de empreendedorismo
Fernanda Ribeiro: A importância da autonomia financeira para as mulheres
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Giovana Oréfice
14 de março de 2022 - 7h13
Caçula de uma família de cinco mulheres, Fernanda Ribeiro tinha o sonho de fazer parte do mundo com aviação, a exemplo do trabalho de seu pai, que era funcionário da Embraer. A vontade a guiou para a formação em turismo, que fez com que a executiva trilhasse carreira corporativa em empresas como a aposentada Varig e Tam (atual Latam), ocupando cargos relacionados a vendas e relacionamento com o cliente. Um burnout fez com que Fernanda abandonasse a carreira em grandes empresas para se dedicar a um ano sabático, que durou apenas cerca de nove meses devido à inquietude que ela carregava consigo.
E assim nasceu a Afrobusiness, uma rede de empreendedores e profissionais liberais negros que visa fazer circular o chamado black money. “Obviamente existem diversos desafios no processo de empreender, mas sem dúvida alguma, quando falamos de empreendedorismo negro, para além desses desafios, tem os desafios ocasionados pelo racismo”, diz. Identificando gaps na área financeira, ela fundou ao lado do marido e sócio Sérgio All a Conta Black, a fim de trazer novas possibilidades e abrir portas para os afroempreendedores, sobretudo mulheres. “Gosto de ver as coisas com o copo meio cheio. Com o passar do tempo, à medida que surgem redes de apoio tanto para mães quanto para mulheres negras, isso tem modificado bastante esse panorama”.
Ao longo de sua carreira, Fernanda foi contemplada como vencedora do prêmio Empregueafro Talento da Diversidade e Prêmio CITI Jovens Empreendedores na categoria Organização Social Mais Transformadora, além de ser reconhecida na lista dos 50 profissionais Hustlers a serem seguidos segundo a Gama Academy, entre outros. Como uma mulher em uma fintech, a executiva classifica que negócios do tipo chegaram para bagunçar ecossistemas financeiros e trazer novas possibilidades, rumo à revolução feminina no segmento.
Confira entrevista completa a Women to Watch:
DESAFIOS DO AFROEMPREENDEDORISMO
“O primeiro é a questão do acesso ao crédito. Sem dúvida alguma é um dos principais desafios das empreendedoras, tanto por falta de formação, no sentido de saber passar as informações de uma maneira objetiva. Muitas vezes o negócio é super promissor e ela não consegue enxergar isso. É a famosa síndrome da impostora que assola também as empreendedoras. Depois, eu acho que talvez um dos grandes desafios é o fato de elas não terem uma visão global dos seus negócios, no sentido de entender os números. Muitas vezes elas não querem falar de dinheiro, sempre terceirizam essa função. Lidar com os números e com a parte financeira também é um desafio. Gosto de ver as coisas com o copo meio cheio. Com o passar do tempo, à medida que surgem redes de apoio tanto para mães quanto para mulheres negras, isso tem modificado bastante esse panorama.”
MULHERES X DINHEIRO
“Nós avançamos bastante casas. Eu enxergo que cada vez mais as mulheres estão se apropriando desse conhecimento financeiro muito em uma perspectiva de autonomia. Cada vez mais as mulheres querem liderar os negócios, tomar as decisões principais e obviamente essas decisões sempre passam por esse viés financeiro. Mas, fazendo um contraponto a isso, entendemos também que existem muitas mulheres que hoje vivem um processo de independência financeira. Muitas delas estão em relacionamentos abusivos e violentos, exatamente porque são dependentes financeiras. À medida que essa mensagem vai tomando corpo, aumentando cada vez mais, as mulheres se veem chamadas para que isso não aconteça com elas. […] Esse movimento de queda de paradigmas é muito motivado também pelo fato das mulheres começarem a acreditar é que sim, elas podem ser donas do seu dinheiro, com autonomia para isso — também motivadas pelas mulheres que elas veem liderando esses movimentos. Se nós observarmos o mercado financeiro de anos atrás, ele tinha um estereótipo de homens brancos, de quarenta anos, de terno, gravata e tudo mais. Hoje, cada vez mais a gente vê mulheres inseridas nesse contexto e liderando iniciativas.”
O RECONHECIMENTO PELA REPRESENTATIVIDADE
“Qualquer tipo de reconhecimento é um norte bom pra você entender que seu trabalho está indo pelo caminho certo. Mas, além disso, mostra para outras mulheres que é possível. É fácil? Não é fácil, sem dúvida alguma, mas é possível. A representatividade tem exatamente esse papel de construir novas narrativas. Quando olhamos para o mercado de trabalho, quem imaginaria mulheres ocupando determinados cargos? Então, é super importante alguém se posicionar nesses locais, ser reconhecida e essa mensagem boa de alguma forma inspira outras mulheres, mais jovens, exatamente a continuarem esse legado.”
EMPREENDEDORISMO FEMININO NO BRASIL
“Nós [mulheres] empreendemos desde sempre. Falando do empreendedorismo com recorte de raça, se nós observarmos nosso contexto histórico, as mulheres negras começaram a empreender para comprar alforria de outros escravos. Elas começaram a popularizar a culinária, o acarajé, por exemplo. Elas faziam esse tipo de iguarias para vender e com o dinheiro arrecadado elas compravam as alforrias de homens e pessoas mais novas. Acho que esse processo de empreendedorismo feminino só ganhou um nome nos últimos tempos, porque a gente sempre empreende. Eu vejo o empreendedorismo feminino atualmente de uma forma positiva e cada vez mais essas mulheres não estão empreendendo por necessidade. Elas enxergam gaps no mercado e vão empreender.”
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