O novo som da liderança
Como é frustrante ainda nos sentirmos inseguras sobre o tom das nossas vozes, o timbre que devemos usar, o volume ideal para sermos ouvidas sem sermos criticadas
Como é frustrante ainda nos sentirmos inseguras sobre o tom das nossas vozes, o timbre que devemos usar, o volume ideal para sermos ouvidas sem sermos criticadas
18 de abril de 2022 - 0h26
Aqui em Nova York eu faço parte de um grupo de altas executivas que se reúnem em torno de assuntos comuns, desde posições que ocupam e indústrias nas quais trabalham a interesses como culinária e corrida de rua. Há sempre uma troca muito rica e sinto que aprendo a cada encontro, não importa se presencial ou virtual.
Recentemente eu organizei um evento para o qual recebi impressionantes 487 confirmações de presença. Mesmo sabendo que o corte natural nessas situações é de 30%, fiquei empolgadíssima e muito preocupada em oferecer um conteúdo de qualidade. Sabia que o tema era um chamariz e tanto: “Como usar a sua voz para conseguir o que quiser”. Quem não gostaria de uma fórmula mágica? Me peguei pensando nisso enquanto decidia o formato do encontro.
Para as quase 200 executivas que compareceram, comecei apresentando a STORY e o trabalho que tenho feito com mulheres no mundo inteiro. Em seguida, convidei uma parceira que trabalha comigo em alguns módulos para falar mais tecnicamente sobre o som. Ela é coach de atores em Hollywood, e os ajuda a trabalhar sotaques e performance de voz.
As perguntas que seguiram essa apresentação foram, na sua maioria, relacionadas às dificuldades de sermos ouvidas em indústrias e mesas de board repletas de homens, e em como lidar com o timbre e a modulação da voz sendo mulher, já que o som da liderança com o qual estamos acostumadas tende a ser grave e profundo — masculino, para ser exata. Mulheres líderes, como Hillary Clinton e Margaret Thatcher, claramente passaram por treinamentos para mudança de tom. Não é necessário ter um ouvido técnico para perceber.
Confesso ter sentido um misto de entusiasmo com frustração, ao terminar a sessão. Como é poderoso podermos nos reunir, usarmos nossa vulnerabilidade para escancarar nossas angústias e os percalços de sermos mulheres liderando empresas, grupos e movimentos! E como é frustrante ainda nos sentirmos inseguras sobre o tom das nossas vozes, o timbre que devemos usar, o volume ideal para sermos ouvidas sem sermos criticadas.
Fiz algumas reuniões com mulheres que se interessaram por continuar a conversa e nos comprometemos com 2 ações, que compartilho aqui com vocês:
– O som da minha voz é o novo som da liderança. O som da voz feminina será sempre o mais importante, em toda sala em que eu estiver presente. Vou fazer questão de me calar para escutar, e de usar a minha voz para reverberar as de outras mulheres.
– Como mulher, darei mais voz às mulheres ao meu redor. Como líderes, nosso papel deve ser o de inspirar, guiar e empoderar as vozes que ainda hoje são abafadas por preconceitos, visíveis ou não. Vozes pretas, vozes velhas, vozes jovens demais, vozes que não são emitidas pelas cordas vocais, entre tantas outras.
É nosso, o novo som da liderança. E cabe a nós deixar isso claro, usando nossas vozes e compartilhando o microfone com as mulheres que nos cercam.
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