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Não é apenas sobre a bandeirinha de arco-íris ao lado do nome

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Opinião

Não é apenas sobre a bandeirinha de arco-íris ao lado do nome

É sobre muito mais do que um emoji ao lado do nome em uma rede social corporativa. É sobre todas as vezes em que eu me senti insegura por ser eu mesma no trabalho


4 de maio de 2022 - 8h21

(Crédito: ProStockStudio/ Shutterstock)

Tenho 33 anos, cerca de 12 anos de carreira de propaganda, e apenas no último mês decidi colocar a bandeira do orgulho LGBTQIAP+ no meu perfil profissional no LinkedIn. Coincidentemente, semana passada vi um post na mesma rede social celebrando a importância simbólica de colocar o emoji da bandeirinha de arco-íris ao lado do nosso nome e parei para pensar sobre como levei tanto tempo para que eu conseguisse, de fato, assumir isso tão abertamente no ambiente corporativo. 

Por isso, decidi usar esse espaço de privilégio que me foi dado para falar sobre a importância desse gesto, tanto para o mercado, quanto para inspirar outros profissionais LGBTQIAP+. 

Como ponto de partida, acho importante reforçar que não é só sobre um emoji no nome. Definitivamente não é apenas sobre isso, pois reduziria demais o ato. É preciso reforçar que já estamos melhores do que há 10 anos, mas também muito aquém do que poderíamos estar. 

Já entrei em reunião com um prospect que perguntou à agência sobre sua política de diversidade e contou como isso era um dos critérios da empresa na hora de selecionar fornecedores. Isso são sinais de novos tempos. Mas, por outro lado, o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas da comunidade LGBTQIAP+ no mundo. Então, na minha posição de líder em uma agência de propaganda e do mercado de games, queria usar esse espaço para ajudar e inspirar mais pessoas a tornarem o mercado de comunicação mais diverso. 

Voltando ao tema que inspirou o texto: não é só sobre o “selinho da diversidade”. A verdade é que ser gay impactou todo o meu desenvolvimento como pessoa e profissional. Fui criança e adolescente ao longo dos anos 90/2000 e inserida no contexto social da época. Vejo que muitos amigos gays, que cresceram na mesma época que eu, também tiveram dificuldades de se sentirem naturalmente inseridos no ambiente social e cultural do colégio, da faculdade ou outros. E, quando você passa o período de desenvolvimento da sua personalidade e autoestima – que pode demorar anos! – se sentindo diferente de 99% das pessoas ao seu redor, isso te impacta. Você cresce com o sentimento de que há algo de errado em você e é preciso muito de si para desconstruir isso. 

Quando comecei na propaganda, há mais de 10 anos, foi a mesma coisa. Sim, eram outros tempos e nem vou falar por mim porque sei dos meus privilégios e de ter tido acesso a muita coisa, mas de todas as pessoas LGBTQIAP+ que iniciaram suas carreiras em tempos mais duros e experimentaram a sensação de começar suas vidas profissionais em ambientes e contextos pouco inclusivos. 

Hoje, para mim, é impensável esconder quem eu sou. Mas já tive momentos em que disse ter namorado ao invés de namorada por que não senti determinado ambiente acolhedor, ou por que senti que era mais importante ser aceita do que ser quem eu era. Também já me senti menor por não estar vestida de forma totalmente feminina ou da forma como era esperado que eu me vestisse. Só para dar alguns exemplos.  

Nosso mercado de trabalho é muito baseado em relações interpessoais, o famoso QI (Quem Indica). E, para quem está de fora, começando a carreira, nem sempre é fácil entrar e ser aceito na panelinha. Começamos nossa vida profissional inseguros por sermos diferentes ou por não pertencermos à maioria. Entretanto, ao longo dos anos, conforme vamos ganhando confiança profissional, vemos que nosso diferencial é justamente aquilo que nos torna diferentes. É a sua essência e a sua diferença que te torna único nesse meio.  

Então, de fato, é sobre muito mais do que um emoji ao lado do nome em uma rede social corporativa. É sobre todas as vezes em que eu me senti insegura por ser eu mesma em um contexto de trabalho. E, se eu puder encorajar e inspirar outros profissionais LGBTQIAP+ a encarar quem eles são como motivo de orgulho e diferencial, esse artigo terá valido a pena. 

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