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Havaianas quer tirar comunidade LGBTQIAP+ da invisibilidade

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Havaianas quer tirar comunidade LGBTQIAP+ da invisibilidade

Marca realiza estudo demográfico inédito no Brasil e disponibilizará os dados gratuitamente em plataforma interativa


19 de julho de 2022 - 14h57

Por Lídia Capitani

De acordo com o IBGE, 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais se declaram lésbicas, gays ou bissexuais no Brasil. Os dados foram coletados em 2019 e divulgados em 2022. Este é o primeiro levantamento realizado pelo governo para identificar orientação sexual da população brasileira.

Trata-se de um primeiro passo para coletar dados sobre a população LGBTQIAP+, mas ainda há um longo caminho a se percorrer para reunir informações reais e expressivas sobre essa parte da população. A pesquisa não aborda, por exemplo, identidade de gênero e outras questões pertinentes ao cotidiano da comunidade, informações essenciais para desenvolver políticas públicas e projetos de apoio a esta parcela vulnerável da sociedade.

A fim de saciar o vazio de dados mais representativos sobre o público LGBTQIAP+ no Brasil, a Havaianas, em parceria com o DataFolha e a Media.Monks, está realizando a “Pesquisa do Orgulho”, projeto com o intuito de coletar informações sobre a comunidade. 

ESCASSEZ DE DADOS

A Havaianas começou a se posicionar como aliada à luta LGBTQIAP+ em 2020, quando lançou a sua linha Pride. A campanha começou com um drop e hoje faz parte do portfólio global permanente da marca. Além do lançamento, 7% do valor líquido das vendas desses produtos são revertidos à organização não governamental All Out, movimento global de defesa dos direitos da comunidade. Ao todo, são 30 produtos da linha, e em dois anos já foram repassados mais de R$ 2,7 milhões. 

“Desde então, começamos a nos aproximar mais da causa. Vimos que os dados sobre essa parcela da população são limitados e decidimos fazer algo”, comenta Maria Fernanda Albuquerque, VP Global de Marketing da Havaianas. “Essa escassez de dados e a ausência de um estudo com informações atuais e verdadeiramente representativas sobre a população LGBTQIAP+ no Brasil é um dos entraves para a expansão de políticas públicas e privadas que contribuam diretamente com esta comunidade”, explica a executiva.

 

Maria Fernanda Albuquerque, VP Global de Marketing da Havaianas (Crédito: Rafa Cusato)

A pesquisa contempla questões sobre orientação sexual e identidade de gênero, além dos elementos demográficos sobre profissão, renda, educação e idade. Para aprofundar a análise, tópicos mais sensíveis também foram incorporados. São temas como sensação de segurança, respeito, representatividade nos meios de comunicação, relação com a família e amigos, garantia de direitos igualitários, relação com o mercado de trabalho e outras questões enfrentadas no dia a dia. 

O desenvolvimento do questionário foi realizado com apoio da All Out e da consultora em criatividade e comunicação Cristina Naumovs.

“Acredito que os dados serão importantes para desmistificar a comunidade e combater o preconceito. Com números é possível entender as reais necessidades e trabalhar em projetos que tragam mudanças efetivas para a população LGBTQIAP+”, destaca a executiva.

De acordo com a empresa, as informações estarão disponíveis em setembro numa plataforma online interativa que poderá ser acessada por qualquer pessoa. “Não queremos que esses dados fiquem só com Havaianas, queremos que outras marcas interessadas em fortalecer a sua relação com a comunidade e se tornarem aliadas à causa também tenham acesso”, explica a VP.

A pesquisa pretende expandir e aprofundar os conhecimentos sobre este público para além dos dados fornecidos pelo IBGE. Na última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), o órgão adicionou perguntas sobre orientação sexual pela primeira vez, mas as informações ainda não refletem totalmente a diversidade que existe no Brasil, sobretudo por excluir dados sobre identidade de gênero.

“Acredito que o grande diferencial da Pesquisa do Orgulho é que vamos além dos dados demográficos sobre orientação sexual, trazendo também informações sobre a identidade de gênero e abordando questões importantes presentes na vida da comunidade. A gente espera alcançar um resultado que traga um retrato mais real dos LGBTQIAP+, que já vem de um histórico de sub-representatividade”, diz Maria Fernanda.

SUBNOTIFICAÇÃO

Em 2019, pela primeira vez, a pergunta “Qual é a sua orientação sexual?” foi feita durante a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo IBGE. A pergunta fez parte do bloco de questões consideradas sensíveis, incluindo perguntas sobre violência física e sexual e atividade sexual. A organização destaca que o estudo tem caráter experimental, o que significa que podem haver mudanças na metodologia no futuro e subnotificações.

A pesquisa revela que existem 50,8 milhões de heterossexuais no Brasil, o equivalente a 94,8% da população adulta. Já os 1,8 milhão de brasileiros homossexuais correspondem a 1,2%, enquanto 0,7% ou 1,1 milhão se declara bissexual. Uma pequena parcela referente a 0,1% ou 100 mil responderam que se identificam com outras orientações – pansexual, pessoa cujo gênero e sexo não são fatores determinantes na atração; ou assexual, quem não sente atração sexual.

Entretanto, o IBGE informa que o número de LGBTQIAP+ pode estar subnotificado. A explicação estaria na existência de preconceito e estigma na sociedade, o que pode fazer com que as pessoas não se sintam seguras para declarar a própria orientação sexual. Outro fator da subnotificação estaria relacionado à falta de familiaridade da população com alguns termos. 

O estudo é um passo inicial do governo para identificar e mapear dados sobre a comunidade LGBTQIAP+ no Brasil, ainda de caráter superficial. Já a iniciativa da Havaianas contribuirá para fornecer um retrato mais fidedigno e profundo sobre a diversidade de identidade de gênero e sexo no país.

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