Afinal, qual é a estratégia da Alezzia?
Na contramão da bandeira de igualdade de gênero levantada pela indústria da comunicação no mundo, empresa de móveis consegue repercussão com posicionamentos polêmicos
Na contramão da bandeira de igualdade de gênero levantada pela indústria da comunicação no mundo, empresa de móveis consegue repercussão com posicionamentos polêmicos
Bárbara Sacchitiello
9 de fevereiro de 2017 - 18h50
A empresa de móveis e objetos de decoração Alezzia, com sede no Rio de Janeiro, não era conhecida por boa parte do público até o final do ano passado, quando sua estratégia de divulgação foi questionada por um grupo de consumidores.
Em dezembro do ano passado, uma jovem criticou a página da marca no Facebook pelo fato de exibir seus móveis e objetos de decoração por meio de ensaios fotográficos com modelos de biquíni, em meio a paisagens de praia ou campo. Receber críticas na internet é algo que se tornou até comum para a maior parte das empresas que atuam em um cenário de exposição e interação contínua com os consumidores. O que chamou a atenção, nesse caso, foi a maneira como a rede de móveis reagiu às acusações de machismo.
Em vez dos tradicionais pedidos de desculpa ou dos esclarecimentos de que a ação não teve a intenção de ofender –atitude comum para a maior parte das marcas que se veem envoltas em polêmicas – a Alezzia não apenas reafirmou que seu conceito era exatamente aquele como desafiou as pessoas que não concordavam com sua postura de comunicação. Como muita gente ameaçou avaliar a empresa de forma negativa no Facebook, a fabricante de móveis tentou criar uma campanha prometendo doar quantias em dinheiro para instituições de caridade se sua nota geral continuasse alta.
Desde então, a marca ganhou a atenção do público e passou a levantar a bandeira do “politicamente incorreto” sob o argumento dos direitos à liberdade de expressão e de comunicação. Nesta quinta-feira, 8, o nome da Alezzia voltou a circular nas redes sociais pelo envolvimento da marca em um novo episódio: a Alezzia demonstrou solidariedade e ofereceu um estágio a Gabriel Vaz, rapaz cuja história ganhou as redes sociais nesta semana. Ele foi demitido da Cantareira Construtora e Imobiliária, localizada na cidade de Maringá, no Paraná, após a empresa ter descoberto diversas postagens nas quais ele usava imagens de seu cotidiano no trabalho para criticar feministas e mulheres.
“Achamos o rapaz criativo e ficamos sensibilizados com a situação”, disse a marca à reportagem de Meio & Mensagem, que procurou a Alezzia para saber mais de sua controversa estratégia de marketing.
Contra o politicamente correto
Sem atribuir suas declarações a um porta-voz – com o argumento de ser uma empresa “coesa” – a Alezzia parece estar bem confortável e satisfeita com os resultados da estratégia de ir na contramão de toda a indústria global de comunicação. Desde dezembro, quando levantou a bandeira contra o que chama de “politicamente correto” e lançou o “Desafio Alezzia”, a marca afirma, em seu blog, ter ampliado em 50% suas vendas. A quantidade de visitas na página da marca no Facebook cresceu mais de 1000%. “O Brasil mostrou de forma avassaladora que o tempo do “politicamente correto” acabou e que a liberdade de expressão é o melhor caminho para fazermos um país mais justo e mais igual”, diz a marca, em seu blog.
A marca assume já ter sido alvo de críticas antes da polêmica de dezembro do ano passado, mas nada que gerasse tamanha repercussão. De acordo com a empresa, a ideia de responder a crítica da usuária do Facebook com um desafio foi casual. “Como uma visitante disse que ia baixar a nota e propôs fazer uma doação com o cupom que oferecemos a ela, nós também nos sentimos no direito de fazer uma doação para equilibrar a balança”, explica a empresa à reportagem.
Inspiração na Benetton
Defendendo valores como lealdade, disciplina, criatividade, ousadia e equilíbrio, a Alezzia diz ter como inspiração a grife italiana Benetton, cuja publicidade nos anos 80 e 90 ganhou fama mundial pelo uso de imagens impactantes e por tocar em temas considerados tabus, como direitos humanos, questão racial e HIV.
Defender o politicamente incorreto em um momento no qual o debate sobre os estereótipos de gênero e machismo estão em alta no Brasil e no mundo é uma estratégia que a Alezzia vem usando como diferencial. Sobre as iniciativas das demais marcas e empresas, que vem tentando incluir o tema da igualdade e se conectar com as discussões femininas presentes na sociedade, a marca faz uma crítica. “Nós achamos que elas devem fazer isso se é realmente o que acreditam do fundo do coração. Se estão apenas seguindo uma moda, deveriam abandonar essa estratégia”, sugere a Alezzia.
Postada nessa quarta-feira, 8, a mensagem na qual a marca oferece trabalho para o estagiário demitido por machismo já possui 8,5 mil curtidas e mais de 1300 comentários – muitos deles com elogio à postura da Alezzia. Além de dar continuidade às campanhas de doações à instituições sociais de acordo com o volume de suas avaliações positivas, a marca já tem pela frente outra missão em sua comunicação: tentar mudar as regras da atual lei trabalhista.
Em seu blog, a Alezzia defende uma série de alterações nas regras de contratação de funcionários. E por que razão uma empresa de móveis quer interferir nessa causa? “Nossa fanpage no Facebook é o canal que encontramos para conversar com os brasileiros e trocar conhecimento. De forma alguma queremos usar esse meio de comunicação apenas como uma ferramenta de vendas. Todos esses acontecimentos nos ensinaram que é importante uma empresa ser ativa politicamente e defender suas idéias”, explica a Alezzia, em seu blog.
E para as pessoas que discordam totalmente do tom e da proposta de comunicação e marketing da marca, a empresa também tem sua resposta. “Nos achamos que elas estão certas. Se é isso que elas acham tem mais é que se posicionar mesmo. Somos a favor da anarquia da comunicação. Todos falam o que quiserem e recebem as respostas seja ela qualquer.”
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