Carrefour é retirado de grupo antirracista
Na TV, CEO da rede no Brasil, Noel Prioux, diz que morte de João Alberto é “tragédia de dimensões incalculáveis” e promete “combater o racismo estrutural”
Na TV, CEO da rede no Brasil, Noel Prioux, diz que morte de João Alberto é “tragédia de dimensões incalculáveis” e promete “combater o racismo estrutural”
Alexandre Zaghi Lemos
22 de novembro de 2020 - 16h16
O assassinato do cidadão negro João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, por dois seguranças de uma loja do Carrefour, em Porto Alegre, na noite de quinta-feira, 19, desencadeou protestos em todo o País e abriu uma crise na empresa varejista que envolve os comandos da empresa no Brasil e na França.
Após fazer compras no supermercado, João Alberto se desentendeu com uma funcionária do Carrefour, foi conduzido para fora da loja por dois seguranças da empresa que prestava serviços à varejista na capital gaúcha e brutalmente agredido até a morte. As imagens chocaram o mundo.
Principais envolvidos no espancamento e morte por asfixia, como apontam as análises iniciais, o policial militar Giovane Gaspar da Silva, de 24 anos, e o segurança Magno Braz Borges, de 30 anos, ambos brancos, foram presos em flagrante por homicídio triplamente qualificado e tiveram a prisão preventiva decretada pela justiça. A polícia investiga outros envolvidos por omissão de socorro. A empresa de segurança Vector, que prestava serviços ao Carrefour, distribuiu comunicado oficial dizendo que “não tolera nenhum tipo de violência, especialmente as decorrentes de intolerância e discriminação” e informou que desligou os dois funcionários envolvidos.
Autoridades e entidades da sociedade civil denunciam o crime como ato de racismo. Desde sexta-feira, 20, data que marca o Dia da Consciência Negra, vários protestos aconteceram em diversas cidades brasileiras. Algumas lojas do Carrefour foram fechadas na sexta e no sábado. A Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, movimento formado por empresas e instituições que lutam pela superação do racismo no ambiente corporativo, decidiu desligar por tempo indeterminado o Carrefour das atividades do grupo. “É criminoso um ambiente empresarial em que um cidadão entre para fazer uma compra e saia morto. E é conivente todos aqueles que se omitiram e não tomaram as medidas para que essa morte fosse evitada. Inclusive os que se calam”, diz a nota oficial do movimento.
Em comunicados divulgados na sexta-feira, o Grupo Carrefour classificou a morte como “brutal”, “ato criminoso” e “inexplicável episódio”, disse que romperá o contrato com a empresa de segurança e demitirá o funcionário que estava no comando da loja no momento do “incidente”. Além disso, a empresa afirmou que todo o resultado de suas lojas no Brasil da sexta-feira, 20, será destinado a iniciativas de combate ao racismo no País. No mesmo dia, o presidente global do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard, se pronunciou em sua página no Twitter. Disse que “as imagens postadas nas redes sociais são insuportáveis” e que “os valores do Carrefour não compactuam com racismo e violência”.
Outra nota divulgada pela empresa no sábado, 21, diz que “o dia 20 de novembro, que deveria ser marcado pela conscientização da inclusão de negros e negras na sociedade, foi o mais triste da história do Carrefour” e prometeu reforçar o treinamento antirracista com todos os funcionários e terceiros. Além disso, na noite de sábado, o Carrefour veiculou na TV e na internet um pronunciamento do CEO no Brasil, Noel Prioux, de um minuto e meio. “O que aconteceu na loja do Carrefour foi uma tragédia de dimensões incalculáveis, cuja extensão está além da minha compreensão como homem branco e privilegiado que sou. Então, antes de tudo, meus sentimentos à família de João Alberto e meu pedido de desculpas aos nossos clientes, à sociedade e aos nossos colaboradores”, diz Prioux.
O vice-presidente de recursos humanos do Grupo Carrefour, João Senise, também fala na mensagem: “o que aconteceu (…) não representa quem somos e nem os nossos valores”. Segundo suas palavras, 57% dos colaboradores da empresa no Brasil são negras e negros e mais de um terço dos gestores se autodeclaram pretos e pardos. Entretanto, ressaltou: “Estamos conscientes que precisamos de mais ações concretas e efetivas para o fortalecimento da nossa cultura de diversidade”.
Prioux continua o filme dizendo que “se uma crise como essa está acontecendo conosco é porque temos a responsabilidade de mudar isso na sociedade”. “A morte de João Alberto não pode passar em vão. E é por isso que assumimos hoje o compromisso de ajudar a combater o racismo estrutural. Comunicaremos nos próximos dias todas as nossas iniciativas e o comitê dedicado exclusivamente a esta causa”, promete.
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