“Brasil ainda não tem um case no Carnaval”
Apesar do sucesso da festa pelo país, ainda falta um local que associe as dimensões econômica, cultural e o impacto social que o evento pode alcançar, aponta consultor
Apesar do sucesso da festa pelo país, ainda falta um local que associe as dimensões econômica, cultural e o impacto social que o evento pode alcançar, aponta consultor
Teresa Levin
28 de fevereiro de 2020 - 6h00
O Carnaval tomou os diversos cantos do País ao longo da última semana, com as mais variadas manifestações, de desfiles de escolas de samba a blocos e festas de diferentes portes. Mas se ele de fato já é um motor econômico – segundo um estudo da Fecomercio apenas em São Paulo ele movimentaria R$ 906 milhões este ano -, ainda não há um case de sucesso deste evento, que integre suas múltiplas dimensões. Quem aponta é João Figueiredo, coordenador do mestrado de Economia Criativa da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio (ESPM-Rio). Em sua visão, para que alcance o posto de exemplo de festa carnavalesca, é necessário unir as dimensões econômica, cultural, neste caso com a tradição da festa, ao impacto social que ela gera.
“E hoje não temos isso acontecendo em nenhum lugar do Brasil. Em algumas cidades a cultura e a tradição são fortes, mas oscila a questão econômica, em outras há um olhar exclusivo para este lado e não se pensa no aspecto social. Ainda temos que caminhar em busca de um caso de sucesso”, avalia.Para ele, isso será alcançado quando forem considerados o impacto econômico da festa; reconhecida sua importância como cultura, tradição, que respeita a diversidade, e ao lado da devida valorização do impacto social. “Afinal o Carnaval nasce das populações de baixa renda, não podemos achar que agora nele tudo é dinheiro. Essa visão mais complexa com a qual poderíamos ter um case de sucesso ainda não temos”, opina.
Sobre a participação das marcas na festa, Figueiredo avalia que algumas já conseguem fazer um posicionamento mais institucional a respeito dos seus valores, como a Uber, por exemplo, aproveitando a festa. “Eles colocaram na rua uma campanha na qual mostraram para quem é a Uber e ainda disseram que, se você é contra estes valores, ela não é para você”, cita.
Mas, em sua visão, ainda hoje muitos anunciantes são mais conservadores, em por conta disso, não entenderam como usufruir deste evento sem arranhar a imagem da marca. “Além disso temos o problema recente, que vivemos dos últimos dois, três anos para cá, de alguns discursos oficiais contra o Carnaval. Com isso, muitas marcas vão ficar na dúvida se apoiam ou não, se pode gerar algum prejuízo futuro a elas em função de algumas posições mais conservadoras que emergiram nos últimos anos na sociedade brasileira”, analisa. O que é essencial perceber, reforça o consultor, é que existem muitas oportunidades de marketing no Carnaval, especialmente as que permitem um contato direto com os consumidores. “E que podem ajudar as marcas a colocarem seus valores em contato com as pessoas, é uma possibilidade para que comuniquem melhor em termos de posicionamento”, diz.
Poder estatal
Atualmente há uma variação do comportamento do poder estatal em relação à festa nas diferentes cidades. Enquanto algumas usam o evento como uma grande plataforma de turismo e de posicionamento da cidade na perspectiva da economia criativa, aponta Figueiredo, em outras o poder estatal se coloca contra o Carnaval. “Temos o poder estatal deixando uma certa lacuna no desenvolvimento do Carnaval, o que é um grande erro. É uma festa popular e tem um impacto econômico gigantesco para além dos dias da folia em si”, fala. Em sua visão, o poder estatal deveria enxergar o Carnaval como um grande evento econômico. “Mas definitivamente não estamos perto disso, temos visto recentemente, e o caso do Rio de Janeiro talvez seja o mais emblemático, cidades com posições que variam muito de apoiar ou não a festa”, pontua.
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