Roseani Rocha
1 de abril de 2022 - 11h34
A agenda de João Adibe Marques, CEO da Cimed, anda movimentada, uma vez que em apenas 50 dias o laboratório farmacêutico que comanda, ao lado da irmã Karla Marques Felmanas, estruturou um evento no qual espera receber sete mil pessoas que trabalham para a companhia, com nove horas de conteúdo, e atrações tão ecléticas quanto Boca Rosa, Larissa Manoela, Thelma Assis, Simaria, Thiago Nigro, Tallis Gomes, padre Fabio de Melo e o espiritualista Tiago Brunet.
João Adibe Marques espera levantar US$ 2 milhões com leilão de NFTs até setembro e destinar recurso a pesquisas científicas (Crédito: Arthur Nobre)
O “Fly Now – Meu sangue amarelo” será neste sábado, 2 de abril, no Ginásio do Ibirapuera e nele a Cimed anunciará a criação do Fly Now Club, uma plataforma por meio da qual serão leiloados 100 NFTs, com artes de astronautas, que irão, depois, compor uma bandeira, que será levada à Lua. Até setembro, a empresa pretende levantar US$ 2 milhões nesses leilões que serão destinados ao apoio de projetos científicos até de outras organizações, como faculdades, com o objetivo de fomentar ciência e inovação no País – a Cimed é um laboratório 100% nacional. Além disso, quem adquirir um desses NFTs poderá ter mentorias com executivos da empresa, visitar fábrica e outras experiências exclusivas a membros desse clube. “Não queremos ganhar dinheiro com isso, mas nos apresentar como uma empresa diferente. Eu não vou para o espaço, mas por que não podemos estar conectados a essas grandes organizações, como Space-X, Nasa, ISS, a Estação Espacial Internacional? Podemos!”, diz João, empolgado.
Essa aproximação, na verdade, começou em 2021, com o lançamento do Cimed X, projeto no qual se tornou a primeira farmacêutica da América Latina a investir em pesquisa espacial. A primeira “missão”, foi apoiar o envio de proteínas do vírus Sars-Cov-2, causador da Covid-19, para estudos feitos no módulo japonês da ISS. O projeto é feito com a empresa de logística Airvantis e Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações e a razão de fazer isso no espaço é a de que ambientes de microgravidade melhoram a qualidade dos dados experimentais. Se tudo correr como planejado, os cristais formados por essas proteínas no espaço, ao voltarem à Terra, serão analisados no Sirius, acelerador de partículas do CNPEM, em Campinas (SP), que tem capacidade de gerar imagens tridimensionais em resolução atômica.
Os contatos da Cimed com esse universo inspiraram até a companhia fazer publicidade da vitamina Lavitan X na Estação Espacial Internacional. Uma vez que a ISS tem “data e hora para acabar”, conta João Adibe, seus controladores começaram a vender espaço de publicidade do lado de fora da estação. Todas as empresas que de alguma forma já participaram dos seus estudos têm direito a ter uma placa externa na estrutura. Daqui seis meses essa placa volta para a Terra e passa a ser um objeto da empresa. “Podemos dizer que somos a primeira marca de vitamina a fazer propaganda no espaço”, diz João Adibe.
Do espaço de volta ao encontro deste sábado no Ibirapuera, nele também será lançado, em comemoração aos 50 anos do CEO, completados em fevereiro, o livro “Meu sangue amarelo” (Ed. Agir) sobre sua trajetória. O nome faz alusão à identidade visual da farmacêutica, que é a terceira maior brasileira em volume de vendas. O trabalho previsto para ser feito com apoio de um ghost writer em três meses, acabou levando um ano. “Foi uma mega terapia. Eu ficava mal, chegava em casa triste. Vai mexendo, mexendo, o cara te desafiando, vasculhando. O livro traz insights, inspirações, conta trajetória, fala do esporte, de sequestro, sucessão que é um tema forte que sempre me perguntam, porque tenho cinco filhos e minha irmã, três. E a gente não tem dificuldade nenhuma de lidar com isso. Somos muito do presente, e intensos. Veio a calhar com o evento que faremos, que é um mega desafio”, comenta o CEO.
Estando em um dos setores que, direta ou indiretamente, mais se destacaram na pandemia, o executivo comenta quais serão, para ele, as três grandes tendências para o segmento de saúde no pós-pandemia no País:
Prevenção – O brasileiro entendeu como é boa a máscara, o álcool gel, o distanciamento, quando você está doente. Antigamente, quando viajava e você via um chinês ou japonês de máscara, achava que o cara era um louco – “melhor não chegar perto dele”. E a pandemia mostrou que a máscara trava bastante coisas, tomara que o brasileiro use esse ensinamento não só para Covid, mas para qualquer coisa. Ao mesmo tempo, isso muda o ciclo da indústria farmacêutica, porque vivemos de “curativo”; 70% do que é vendido pela indústria farmacêutica no Brasil é curativo e não preventivo.
Longevidade – Uma vez que a prevenção virá mais forte, o grande trabalho da indústria na prevenção estará ligado à longevidade. É um grande dever e uma grande corrida. Toda as pessoas querem envelhecer com qualidade de vida. Mas para isso é preciso prevenir.
Tecnologia – Falamos muito sobre tecnologia, porque nosso setor é muito old school. Tem coisa mais arcaica que consultório médico? Desde quando você nasceu é a mesma coisa: uma mulher lá para abrir a porta, agendar consulta, perguntar se você tem plano de saúde. É um setor que não inovou em tecnologia. Agora com a pandemia é que vieram consultas online, porque até então não podia. E as receitas? Tem algo pior que ter que ir ao médico para pegar um papel? Então, temos um desafio grande no nosso negócio – e brigamos muito internamente – de saber do que precisamos para nos tornar uma health tech. Quer coisa mais antiga que uma bula de remédio? Aí o governo mete uma legislação que a gente tem que aumentar as letras das bulas, que viram uma Bíblia. E o que aconteceu é que tem produto que a bula é mais cara que o remédio. Isso é certo, num mundo de tecnologia que temos, num país pobre como a gente é? Por que não um QR Code? O problema é que nosso setor não é unido. O varejo não conversa com a indústria, que não conversa com a distribuição. Mas desde o início falei que meu propósito é acessibilidade. Quanto mais eu baratear meu produto, mais crescimento vou ter no Brasil, porque nosso país é muito pobre. Isso aqui (fala do escritório na Av. Faria Lima, em São Paulo) é a bolha da bolha da bolha. Quando vai para o Brasil profundo – e dependendo da capital em 30 km você já está nele – como é que faz? Esse é um grande trabalho que temos à frente.