Com 50,9% dos votos, Lula é eleito no ambiente mais polarizado da história
Definição da eleição, no entanto, não deve pôr fim, no curto prazo, a problemas como a polarização intensa da sociedade e a disseminação de fake news
Com 50,9% dos votos, Lula é eleito no ambiente mais polarizado da história
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BuscarDefinição da eleição, no entanto, não deve pôr fim, no curto prazo, a problemas como a polarização intensa da sociedade e a disseminação de fake news
Roseani Rocha
31 de outubro de 2022 - 6h00
Na eleição que está sendo considerada por muitos como a mais polarizada de todos os tempos no País e após campanhas acirradas para o segundo turno – que nos estados muitas vezes refletiram a polarização entre os dois candidatos à presidência – Luiz Inácio Lula da Silva sagrou-se vencedor do pleito, com 50,9% dos votos válidos. Conforme foram sendo divulgados os dados da apuração pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), neste domingo, 30, perto das 20h de Brasília Lula já era considerado vencedor contra o atual presidente, Jair Bolsonaro. Assim, receberá a faixa de presidente, em Brasília, dia 1º de janeiro de 2023.
Para muitos analistas, a definição do novo presidente não deverá minimizar a polarização política da população, pelo menos em curto prazo. E essa é a visão até de profissionais de fora daqui, como Jon Cook, CEO global da VMLY&R, que enxerga paralelos entre o cenário no Brasil e nos EUA no aspecto polarização e o quanto isso impõe mais cautela para a atuação das marcas. “Independentemente de quem ganhar as eleições, a polarização estará presente e as marcas terão de se conscientizar”, disse Cook, antes de sair o resultado da disputa.
Um movimento icônico no sentido da conscientização das marcas, aspecto citado por ele, foi a entrada da Natura no intervalo comercial do debate da Globo, no 1º turno, para cobrar diretamente que os políticos em busca de conquistar ou manter o poder no Brasil se comprometessem com a causa ambiental. Na ação, criada pela agência Africa, a mensagem, personificando a floresta amazônica, dizia: “Candidatos (as), eu perco mais de 350 mil árvores só no tempo desse debate. Será que dessa vez vocês vão falar dos planos pra me proteger?”.
Às vezes, até sem querer as marcas se viram envolvidas na polarização. Foi o caso da Heineken, por exemplo. No dia 29, após receber denúncia, a Justiça Eleitoral interveio para exigir que um supermercado de São Carlos, no interior paulista, retirasse adesivos com o número 22 que estavam sendo colados nas garrafas das cervejas, que além da característica garrafa verde leva, na marca, uma estrela vermelha. Ao portal UOL, a Heineken disse que “não apoia ou tem qualquer envolvimento com candidatos e/ou partidos políticos”.
Rafael Pedroso, gerente da área de public affairs da consultoria Ágora, destaca que os relatórios feitos pela empresa deixam claro que houve uma mudança na polarização em torno das eleições. A polarização em si, diz ele, existe no País desde 2006, quando as preferências do eleitorado passaram a se distribuir em padrões de renda e de região. “Essa polarização, saudável para a democracia, não é a que vemos hoje. Desde 2018, essa divisão se transformou no que tem sido chamado de ‘polarização afetiva’, que transborda o período eleitoral e deve continuar nos próximos anos”, pontua.
Ele cita dados da Quaest que mostram que um a cada três eleitores de Bolsonaro ou Lula afirmam que se sentiriam infelizes ou muito infelizes caso tivessem filho ou filha casado com alguém do grupo oponente – média próxima dos Estados Unidos e bastante acima do padrão mundial. E a polarização incide principalmente sobre questões culturais e de costumes, intensificando diferenças geracionais, de gênero, raça e orientação sexual. “Este cenário, aprofundado pela disseminação da desinformação, traz desafios para as empresas na forma como se comunicam com o consumidor final, que monitora atentamente o posicionamento das marcas neste contexto”, explica Rafael Pedroso.
Ao longo da campanha, alguns estudos chamaram atenção para a questão da desinformação, como, por exemplo, o da empresa de cibersegurança Avast, segundo o qual 79% dos brasileiros tiveram contato com notícias falsas sobre as eleições pelas redes sociais. Mais da metade dos eleitores (57%), não acredita ou não tem certeza se essas plataformas são fontes confiáveis de informações e 86% acreditam que as redes sociais devem ser responsáveis por remover notícias falsas. Erivam Bandini, sócio-diretor da agência de marketing digital Box Ideias alerta ao fato de que embora as campanhas políticas na internet sejam essenciais para alavancar o conceito político de um candidato, a estratégia de disseminação de fake news pode atrapalhar diretamente essa mesma campanha.
A polarização política atrapalhou até relacionamentos pessoais. O app de relacionamento Happn, que globalmente tem mais de 50 milhões de downloads, avaliou o tema entre seus usuários: 71% dos solteiros brasileiros que utilizam o aplicativo não querem um crush que tenha uma visão política diferente da sua; e 73% acham que a política deve ser mencionada no primeiro encontro. Michael Illas, especialista em relacionamentos do Happn, enfatizou como os dados de 2022 foram diferentes de pesquisa semelhante realizada há dois anos. Naquela ocasião, 76% dos solteiros brasileiros estariam abertos a ter um relacionamento com alguém com visões políticas diferentes. Ou seja, a intolerância ganhou terreno nesse meio tempo.
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