Com Trump, áreas de RP ganham novo sentido
Presidente eleito tem entrado em embates com marcas
Presidente eleito tem entrado em embates com marcas
Mariana Stocco
20 de janeiro de 2017 - 7h00
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, toma posse nesta sexta-feira, 20, e torna-se o 45º homem a assumir um dos cargos mais importantes e influentes do mundo. Com uma campanha marcada por promessas conservadoras e polêmicas, o empresário já deixou claro suas ideias sobre protecionismo e o que pensa acerca de empresas americanas que investem em outros países.
A ideia de Trump é clara e direta: voltar o foco para o país e ampliar o número de empregos locais. E uma das estratégias que ele utilizou nas últimas semanas para desencorajar empresas a investirem em outros mercados foi a pressão criando polêmicas com as principais montadoras do País, como General Motors e Ford, e até mesmo estrangeiras, como a Toyota. Além disso, Trump disparou comentários contra a cerveja Corona. Além de derrubar as ações dessas empresas com seus comentários, Trump vem gerando uma onda de tensão nos departamentos de relações públicas, algo nunca antes visto nos Estados Unidos.
“Nós estamos encarando uma situação bem difícil”, afirma Rodrigo Padrón, fundador da Brain/AG e ex-sócio da ConceptPR. “É diferente da crise que as empresas espanholas enfrentaram com a chegada do Hugo Chávez na Venezuela, já que era um mercado consumidor muito menor. É uma situação atípica, estamos falando da maior economia do mundo, do mercado mais maduro, da democracia mais madura e essas são situações que vão surpreender”, comenta.
Segundo Padrón, situações como essa demandam a revisão dos gerenciamentos de crise das empresas no caso de tais companhias sofrerem ataques diretos do presidente eleito, algo que, antes, não estava sendo levado em consideração. “O mais importante de um plano desses é você antecipar os cenários, produzir conjecturas que conseguem trazer para a sua realidade o que pode acontecer e como reagir a isso. O que eu posso dizer, por mais que a técnica nos prepare para isso, é que essas crises trazem situações inesperadas e inusitadas”, pondera Padrón.
Os embates envolvendo o presidente estão sendo direcionados para empresas de setores distintos. Em dezembro, enquanto escolhia qual seria o modelo do jatinho presidencial, Trump criticou fortemente a Lockheed Martin, empresa fabricante de jatos, pelo elevado preço do modelo F-35. Pelo Twitter, o político informou que estaria pedindo um orçamento mais em conta para o F-18 da Boeing. O posicionamento veio um dia após o político se encontrar com comandantes militares para abordar corte de gastos, principalmente no programa do caça F-35, um programa de armamento considerando um dos mais caros da história do país. O comunicado fez com que as ações da empresa caíssem 2,03% em Wall Street, o que representou uma perda de US$ 1,2 bilhão para a companhia. Ainda no início de dezembro, Trump já havia mostrado o poder das redes sociais quando com um tuíte que indicava que encerraria o programa de F-35, fez com que a empresa perdesse US$ 4 bilhões.
Apesar de ter sido agraciada pelo presidente nesta ocasião, a Boeing já havia sofrido nas mãos do político e seu perfil no Twitter. No dia 6 de dezembro, a empresa foi criticada pelo elevado preço pelo fornecimento de um novo avião presidencial, o Air Force One. Na sua conta, Trump defendeu que o novo Air Force One que estava sendo fabricado pela Boeing devia ser cancelado, devido aos elevados custos implicados. “A Boeing está para construir um novo 747 Air Force One para futuros presidentes. Mas os custos estão fora de controle, acima de US$ 4 bilhões. Cancelar ordem”, escreveu Trump, o que levou as ações da empresa a encerrarem em baixa.
Vendo uma possível queda em seus negócios, o CEO da empresa, Dennis Muilenberg, declarou, no mesmo dia, que a Boeing já estava negociando com Trump os custos de um novo avião presidencial e que já lhe garantiu que consegue construir um por um custo menor.
Donald Trump eleito – A ressaca
A longa campanha de Trump foi muito focada em como ele faria os Estados Unidos ser bom de novo. Em uma das propostas estava a construção de um muro na fronteira do país com o México, para impedir a entrada de imigrantes ilegais, e ainda disse que o país vizinho teria que arcar com as contas. Antes mesmos de assumir, Trump já alterou o discurso: o muro passou para grade e a conta está sendo viabilizada no congresso americano.
Com muro ou sem muro, algumas empresas mexicanas já estão trabalhando com a possibilidade do presidente interferir nos negócios já existentes. A Constellation Brands, empresa que distribui a marca mexicana Corona nos Estados Unidos, viu suas ações caírem 7% no dia após a eleição do republicano. Desde então, as ações permanecem 10% abaixo do valor médio. “Uma coisa foi aquele discurso para ganhar plateia, mas não sabemos como será na prática. Temos visto o próprio Trump repensando algumas dessas decisões”, explica Padrón.
A imposição de taxas alfandegárias não parece que estará restrito apenas ao México. No começo do ano, o governo japonês teve que sair em defesa da Toyota e de sua indústria automotiva depois que Trump ameaçou a empresa com taxas se construísse uma fábrica no México, e não nos Estados Unidos. “A fabricante automotiva japonesa tem 1,5 milhão de trabalhadores nos Estados Unidos e é uma contribuição importante para a economia americana”, disse o ministro do Comércio, Hiroshige Seko, em uma coletiva de imprensa.
Já as gigantes americanas GM e Ford caíram nas graças do presidente quando apresentaram projetos para expandir fábricas nos Estados Unidos. A Ford anunciou que vai abandonar planos para construir uma fábrica de US$ 1,6 bilhão no México e que vai investir US$ 700 milhões ao longo de quatro anos em numa planta no estado de Michigan.
Na mesma onda, a GM anunciou que fará investimentos de US$ 1 bilhão nos EUA, o que permitirá que sejam criados 1.500 postos de trabalho. A multinacional vai repatriar a produção de eixos do México para o EUA, seguindo, assim, as pressões de Donald Trump para que as grandes empresas norte-americanos reforçassem a atividade no país.
Trump: mais um furo das pesquisas?
Para Padrón, o melhor caminho a ser seguido pelas empresas é cumprir com aquilo que acredita. “O aconselhamento que eu dou para as empresas é, nesse momento, ser fiel ao seu marco filosófico. Ela tem um planejamento estratégico, seus ideias e não pode abandonar isso por causa de conjecturas”, opina Padrón.
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