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Como as mudanças climáticas têm impactado o varejo?

Especialistas explicam de que maneira inverno com pouco frio, ondas de calor intenso, enchentes e queimadas altera dinâmicas do varejo


8 de outubro de 2024 - 6h00

Varejistas sofrem com mudanças climáticas e buscam soluções sustentáveis (Crédito: Marina-Kuzub / shuttestock)

Varejistas sofrem com mudanças climáticas e buscam soluções sustentáveis (Crédito: Marina-Kuzub / shuttestock)

O mês de setembro, que, em sua quase totalidade, transcorre durante o inverno, ficou marcado por ondas de calor. Nas últimas semanas, algumas capitais brasileiras atingiram médias de 40ºC. Em 2024, na estação que deveria ter sido a mais fria do ano a procura por blusas e cobertores andou lado a lado da busca bebidas frescas e ventiladores.

Apesar das ondas de frio que surgiram em meio aos termômetros elevados, a instabilidade climática impulsionou  crescimento de 10% na cesta de bebidas, em agosto, segundo dados da Scanntech. A busca por cervejas, refrigerantes e vinho tiveram alta de 7,7% no faturamento do varejo alimentar no período.

A empresa também indica que houve incremento na cesta básica alimentar, no setor de mercearia, de 8,1%, impulsionado pela alta de preço em itens essenciais como arroz e café. Sendo que o primeiro item sofreu uma influencia direta das enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul neste ano.

Para Marcelo Antoniazzi, CEO da Gouvêa Consulting, empresa da Gouvêa Ecosystem, tanto as enchentes quanto as queimadas, somadas às mudanças climáticas que o mundo vem enfrentando, são pontos que alteram a dinâmica de consumo e, por consequência, a forma como o varejo tende a se comportar. “No varejo, há um impacto no aumento dos custos, especialmente no varejo alimentar, na matéria-prima em si. Outro ponto é um aumento dos fretes e dos seguros”, diz.

Consolidando o imprevisível

Esses fatores acabam mudando a previsibilidade que as empresas têm em relação ao comportamento do consumidor, além de afetarem diretamente a cadeia de produção. Como consequência disso, pode haver uma antecipação ou postergação do pico de vendas de determinados produtos, ou mesmo a escassez desses elementos nas gôndolas.

“Evidentemente, em períodos de seca e calor intenso identifica-se um aumento na compra de bens duráveis associados exatamente a mitigar os efeitos desse ambiente, tais como: ventiladores, umidificadores e aparelhos de ar-condicionado”, avalia Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar) e professor da FIA Business School.

Para o executivo, pode-se registrar alterações significativas nas escolhas de bens de consumo corrente, como alimentos, bebidas e protetores solares. “O segmento de vestuário também se movimenta na direção de uma oferta maior de produtos adaptados ao calor intenso”, diz.

Essa observação já se reflete no comportamento de consumo do brasileiro. Dados colhidos de 8 a 16 de novembro de 2023 pela Nuvemshop apontaram crescimento de 66% na procura de produtos como protetor solar, bronzeador, chapéu, boné, óculos de sol e camisetas regatas, na comparação com o ano anterior.

Como consequência disso, os preços também sofrem grandes alterações. Um levantamento realizado pelo Procon Goiás, que avaliou 17 estabelecimentos, percebeu elevação no preço de 65% no ventilador Mondial com 40cm, que pôde ser encontrado tanto por R$179,90, quanto por R$298. Já o ar-condicionado sofreu variação de 36,60%, segundo a entidade.

“O varejo é uma atividade essencialmente sazonal. Quando esses ciclos não ocorrem ou se dão de forma muito distante do previsto, os impactos sobre a operação varejista são evidentemente muito complexos”, complementa Felisoni.

Pensando no futuro

Em meio a tantas mudanças no clima e na forma de consumo, as varejistas precisam encontrar novos caminhos para um desenvolvimento sustentável. O café, por exemplo, foi um dos produtos da cesta de itens essenciais mais afetados em relação ao preço.

A matéria-prima desse produto sofre influencia diretamente das condições climáticas tanto no Brasil quanto no Vietnã, conforme dados da Scanntech. Por isso, já gera uma preocupação em relação ao seu desenvolvimento sustentável.

Na JDE Peet’s, dona de marcas como Pilão e L’or, por exemplo, já há uma preocupação com estruturas sustentáveis. O programa global Common Grounds, visa impactar três pilares da produção de grãos de café e chá. Começando pelo fornecimento responsável que fomenta práticas de agricultura regenerativa, minimizado a pegada ecológica, através de uma cadeia de suprimentos positiva, e conectando pessoas que apoiem o bem-estar e igualdade.

A adoção de produtos e práticas sustentáveis deve ser uma tendência também entre os consumidores. O relatório global de sustentabilidade da Bain Company indicou que 80% dos brasileiros se declaram muito preocupados com a sustentabilidade. Desses, 70% adotam hábitos de mudanças. No entanto, apenas 20% declaram que a sustentabilidade é um dos dois principais critérios para fazer uma compra.

Esse comportamento também se reflete na forma como os produtos são feitos. Paula Misan Klajnberg, co-fundadora da Electy, chama atenção, por exemplo, para soluções de energia verde que podem ser adotadas por empresas. “O mercado de energia pode contribuir ofertando uma diminuição de custo na conta de luz, existem soluções que permitem pagar mais barato e consumirem energia limpa, a energia limpa e renovável é o que permite gastar menos na conta de luz”, avalia.

Esse tipo de consumo tem ganhado a atenção de entidades na alteração dos processos de produção e diminuição dos custos de produção, já que é uma energia mais barata. No entanto, a executiva afirma que ainda é preciso massificar esse processo. “Ainda falta informação para incentivar as pessoas a entenderem como podem mudar o perfil de consumo”, completa.

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