Dia da visibilidade trans: mercado de trabalho ainda precisa avançar
Apesar das melhorias, ainda há desafios a serem superados quando o assunto é a inclusão de pessoas trans e travestis no mercado de trabalho brasileiro
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Amanda Schnaider
29 de janeiro de 2024 - 14h00
Há 20 anos, um grupo de ativistas travestis, transexuais e transgêneros se uniram em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, para lançar a primeira campanha contra a transfobia do Brasil, a “Travesti e Respeito”. Desde então, todo dia 29 de janeiro é comemorado o Dia da Visibilidade Trans, como um movimento marcado por orgulho, resistência, conscientização e existência da comunidade trans e travesti.
A participação de profissionais trans nas empresas não chegam a 1%, segundo dados do Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022 (Crédito: Marcos/AdobeStock)
De 2004 para cá, a luta desse grupo cresceu e ganhou força no Brasil. Apesar disso, o País continua, pelo 14º ano consecutivo, sendo o que mais mata pessoas travestis e transexuais no mundo, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais.
Outro dado alarmante em relação a essa população é a sua baixa participação no mercado de trabalho brasileiro. Duas pesquisas, que fazem parte do estudo Diversidade, Representatividade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022, revelam que a participação de profissionais trans nas empresas não chega a 1%. As pesquisas entrevistaram mais de 26 mil pessoas, entre 2019 e 2021.
Além disso, essa população já enfrenta dificuldades nos processos seletivos dos empregos. Uma pesquisa da AlmapBBDO e do Instituto On The Go mostra que 80% das pessoas transexuais enfrentam discriminação nas seleções de emprego.
“A pesquisa destaca um desafio significativo enfrentado por pessoas transexuais nas seleções de emprego, evidenciando a discriminação que muitas ainda enfrentam”, salienta Carla de Bona, diretora de inovação e cofundadora da {reprograma}, iniciativa de impacto social, que ensina programação a mulheres em vulnerabilidade, priorizando negras, trans e travestis em seus processos seletivos.
Apesar de existirem algumas pesquisas que revelam a lacuna da participação dessa população trans e travesti brasileira no mercado de trabalho, a falta de dados sobre essa comunidade, no geral, ainda é um problema na visão de Ariel Nobre, cofundador e diretor-executivo do Observatório da Diversidade na Propaganda. “Antes de dizer sobre serem contratadas ou não, temos poucos dados e isso já é um dado”, complementa o diretor.
Para se ter uma ideia, somente no último trimestre deste ano, o IBGE soltará, pela primeira vez, um mapeamento sobre o tamanho da população trans, travesti e não binária no país. E isso somente será possível, porque a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS 2023), que começou a coleta de dados em outubro de 2023, passou a perguntar aos entrevistados sobre sua identidade de gênero, oferecendo seis respostas: mulher, mulher trans, homem, homem trans, travesti, não binário, e outros, além de um espaço para observações.
“Isso sobre o Censo tem algo simbólico muito grande, porque, para mim, é a primeira vez que o Estado brasileiro vai considerar a gente ser humano. A população negra teve esse marco também. Esse marco vai possibilitar pressionarmos por mais políticas públicas e privadas”, reforça Nobre.
Por falar em políticas públicas e privadas, isso é que falta para que a inserção de pessoas trans e travestis no mercado de trabalho brasileiro melhore de fato e para que saia dos 1%, na opinião de Gautier Lee, diretora e roteirista queer, negra e uma das fundadoras do Macumba Lab, um coletivo de profissionais do audiovisual negro no Rio Grande do Sul.
Para esse cenário de fato mudar, Gautier ressalta que é necessário um comprometimento real com a empregabilidade trans, além da formação de mais profissionais de RH que entendam não apenas sobre diversidade, mas também sobre como criar um ambiente digno e acolhedor para funcionários trans.
Neste sentido, Carla de Bona frisa que apesar de diversas empresas já estarem reconhecendo a importância da diversidade e implementando políticas e práticas que visam criar espaços mais acolhedores para todas as identidades de gênero, ainda há desafios a serem superados.
Carla enfatiza que ao promover uma inclusão mais efetiva, algumas medidas podem ser consideradas, como: realizar treinamentos regulares para equipes de recrutamento e gestores, abordando a importância da diversidade, inclusão e respeito às identidades de gênero; implementar políticas claras de diversidade e inclusão que incluam explicitamente a proteção contra discriminação com base na identidade de gênero e garantir que sejam compreendidas por todos os colaboradores; implementar técnicas e ferramentas para reduzir viéses inconscientes durante o processo seletivo; garantindo uma avaliação mais justa e imparcial; criar ambientes de trabalho que promovam a aceitação, apoio e inclusão de pessoas trans; e realizar avaliações periódicas para medir a eficácia das políticas de inclusão.
Além disso, Gautier Lee reforça que é preciso ter políticas públicas voltadas para a população trans. Um estudo feito pelo Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (GEMAA) mostrou que pessoas trans são apenas 0,3% dos estudantes de graduação nas universidades federais. “Sem uma política de cotas voltada para uma população que é marginalizada a ponto do Brasil ser o país que mais nos mata, essa realidade nunca vai mudar”.
Como cofundador e diretor-executivo do Observatório da Diversidade na Propaganda, Ariel Nobre diz que deve ser otimista. “Hoje, com mais perspectivas, eu tenho o dever de ser otimista. Criar narrativas para nós mesmos é um desafio criativo, porque as travestis, as mulheres trans fazem isso por uma questão de saúde, porque a geração passada morreu de aids. Então, realmente é um nada que precisamos imageticamente ocupar”, pontua.
Neste sentido, Nobre ressalta que o Observatório da Diversidade na Propaganda, tem a meta de assegurar 1% de profissionais trans dentro do mercado de agências até o final de 2024. “Se prestarmos atenção mais especificamente e criar soluções de forma mais específica é a única coisa que, para mim, está faltando, porque esse mercado sabe tudo, temos que saber primeiro no monte de coisa. Então, se pegarmos todo esse potencial e olharmos especificamente para esse problema, vamos avançar, com certeza”, complementa o diretor.
Gautier também se diz otimista em relação às perspectivas futuras. “Mesmo a passos lentos, a sociedade civil está sendo educada acerca das diferentes identidades e expressões de gênero e isso, às vezes, se reflete no ambiente corporativo através da adoção de práticas mais equitativas”.
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