Doce, doce, a vida é um doce…
... que pode atender pelo nome de Amor, Dadinho ou Paçoquita, marcas que estão entre as preferidas no paladar do brasileiro quando se trata de derivados de amendoim
Apresentado por Renato Delmanto - Head de Comunicação Corporativa do Grupo Petrópolis, Carmela Borst - Cofundadora da SoulCode e Martech Academy e Fabricio Cardoso - Cofundador da SoulCode e Martech Academy.
... que pode atender pelo nome de Amor, Dadinho ou Paçoquita, marcas que estão entre as preferidas no paladar do brasileiro quando se trata de derivados de amendoim
Sergio Damasceno Silva
8 de setembro de 2016 - 12h52
Te dou um dado se você descobrir qual é o doce preferido do brasileiro. O brigadeiro, verdadeira instituição nacional, praticamente domina o pódio. Mas, o amendoim, cultura natural da América do Sul, também faz a festa à mesa brasileira. Sobretudo as festas juninas, nas quais reina quase que absoluto. Não é à toa que os nomes mais populares dos doces derivados de amendoim sejam marcas como Amor (como não amar?), Dadinho (do tipo de fácil acesso) e Paçoquita (metaforicamente, um símbolo da caipirice brasileira). Essa indústria, por anos atrelada à tradicional paçoca, ao pé de moleque e ao doce de amendoim, resolveu sair do armário e oferecer-se mais generosamente, em versões cremosas e ainda mais convidativas ao pecado da gula.
Na Copa do Mundo de 2014, a indústria do amendoim comemorou expansão de até 30% na venda de derivados da oleaginosa. No próximo dia 13, comemora-se, nos Estados Unidos, o Dia do Amendoim, data criada especialmente para aumentar o consumo de produtos feitos à base da semente. Naquele país, o amendoim, capitaneado pela pasta (ou manteiga) de amendoim, girou um volume de US$ 2 bilhões e tem crescido à média anual de 7%.
Na comparação, o Brasil, que não tem o dia nacional da semente, no entanto, tem ainda muito a crescer: enquanto os EUA produzem 2 milhões de toneladas de amendoim por ano, o Brasil produz apenas 220 mil. Mas, o grande produtor mundial é a China: foram quase 13,5 milhões de toneladas no ano passado. Ainda assim, o mercado brasileiro cresceu em termos de consumo: no ano passado, foram sete mil toneladas a mais (207 mil) do que o consumido em 2014 (200 mil). Por outro lado, em 2012 (antes, portanto, da Copa), o consumo foi de 214 mil toneladas. Agora em agosto, durante a Olimpíada, os players do setor tinham a expectativa de vender mais derivados de amendoim, assim como ocorreu durante a Copa. O balanço das vendas durante o período ainda não foi consolidado, mas a estimativa era de expansão média de 25%.
A reinvenção do amendoim
Afora os eventos sazonais como Copa e Olimpíada, no entanto, os fabricantes dos mais variados derivados de amendoim – paçoca, doce de amendoim, creme de amendoim, pé de moleque, snacks (como amendoim temperado, salgado, japonês) etc. – têm se reinventado para vender mais. Não existem pesquisas detalhadas que mostram a preferência do brasileiro por este ou aquele doce, mas é certo que paçocas e correlatos sempre estiveram entre os preferidos.
Embora o mercado seja formado, majoritariamente, por centenas de pequenos e médios fabricantes, algumas marcas têm lançado novidades. E uma delas são os cremes (ou manteiga ou, ainda, pasta) de amendoim. É o caso de Dadinho, da Doce Sabor, que, finalmente, chegou à versão cremosa. Também é o caso de Paçoquita. Mas, ambos têm um precursor nacional, o Amendocrem, marca da Anderson Clayton, adquirida pela Unilever em 1986. Em 2003, a Unilever venderia a marca para a Fugini (de Monte Alto – SP). Desde então, a marca sumiu de grandes redes varejistas e é encontrada com dificuldade em distribuidoras de doces.
A Paçoquita, da Santa Helena, que completa 35 anos no ano que vem, foi a primeira a sair do lugar-comum: em julho de 2014, chegou ao mercado na versão cremosa. Em março deste ano, um quadradinho de amendoim que derrete na boca chegou com sua própria versão, ainda mais cremosa que o doce original: o Dadinho Cremoso.
O Dadinho é, entre as três marcas, o mais antigo: foi lançado em 1954, ou seja, tem 62 anos de existência. O nome original era “IV Centenário”, numa referência-homenagem ao quarto centenário da cidade de São Paulo (que foi celebrado nos dias 9, 10 e 11 de julho de 1954). “Foi a primeira embalagem metalizada do Brasil porque, na festa dos 400 anos de São Paulo, houve chuva de papel metalizado”, resgata o diretor de marketing da fabricante Doce Sabor, Anderson Siqueira. Mas, a população, mais criativa, apelidou o “IV Centenário” imediatamente de “Dadinho” por conta do formato similar ao objeto. E Dadinho ficou. E pegou. Pegou tanto que virou referência saudosista de infância.
Em seguida, viria a paçoca Amor, lançada e fabricada pela extinta Sing´s. É difícil resgatar a história do produto. O que se sabe é que está há mais de 50 anos no mercado. Em 2001, foi adquirida pela multinacional Arcor. E continua a mesma. Entre as marcas de derivados de amendoim, é a única que ainda não cedeu à cremosidade. Ainda. Procurada pela reportagem de Meio & Mensagem, a Arcor declinou e preferiu não falar sobre Amor.
Cada um na sua
Com amor ou sem amor, no entanto, a maior parte dessas marcas, em comum, têm o amendoim, claro. Mas, têm também uma característica peculiar a cada uma: ainda que pertençam a uma mesma categoria, Amor, Dadinho e Paçoquita têm texturas, sabores e consistências bastante únicas, o que as torna quase que exclusivas. A paçoca Amor, por exemplo, tem um leve acento de sal e uma consistência em que, à menor pressão dos dedos, esfarela. Dadinho, em versão drops, é macio, mais do que uma bala e não chega, efetivamente, a ser uma paçoca. Já a Paçoquita tem gosto acentuado da legítima paçoca. Dadinho e Paçoquita em versões pasta, portanto, diferem uma da outra.
Por categoria, a Paçoquita Cremosa concorre com aquela outra, a famosa marca de creme de avelã, cuja abrangência tem escala global. Sim, a Nutella. Inclusive, ambas são encontradas lado a lado em gôndolas das principais redes varejistas. “Segundo a Nielsen, somos líder em pasta de amendoim no Brasil, com cerca de 30% do mercado. A Paçoquita, assim como a Nutella, é um produto de consumo de ocasião, de impulso: o consumidor vê e compra. Por isso, acabamos falando – Nutella e nós – com o mesmo consumidor. Mas, somos mais complemento da Nutella – para rechear uma tapioca, por exemplo – do que um concorrente”, afirma Eduardo Rizzo, gerente de marketing da Santa Helena, proprietária de Paçoquita.
Aliás, os fãs de Paçoquita, que causaram rebuliço na internet em meados de 2014, quando do lançamento da versão cremosa, podem ficar atentos e com água na boca: a empresa prepara, até o final deste ano, uma nova versão da Paçoquita Cremosa. Ainda segundo estudos externos, a marca é sinônimo de paçoca no Brasil. A Santa Helena, baseada em Ribeirão Preto (SP), tem 74 anos de existência e lançou sua marca mais famosa, a Paçoquita, em 1982. No ano que vem, para comemorar os 35 anos do doce, fará uma grande campanha para mídias online e off-line. A empresa também tem outras marcas como a Mendorato, Crokatto, Gibi, Molecão, First (direcionada ao público fitness) e Cuida Bem (linha saudável, com mix de amendoins e castanhas, barras de cereais, biscoitos de tapioca e pastas à base de amendoim).
Rizzo concorda que os eventos sazonais, principalmente os relacionados às festas juninas, são responsáveis por forte consumo de amendoim no Brasil. “É uma festa que cresce ano a ano e chegamos a ter 30% de aumento de vendas nesse período. Quanto a eventos esportivos pontuais como Copa e Olimpíada, o consumo de petiscos ou snacks com bebidas é uma compra por impulso e é difícil construir uma estratégia de marca. Nesse caso, trabalhamos no ponto de venda, com barracas, para dar mais visibilidade”.
Igualmente interessada na expansão de derivados de amendoim e para explorar a marca Dadinho, a Doce Sabor fez pesquisa antes de lançar produtos como o próprio Dadinho cremoso e também waffle recheado e waffle coberto com chocolate (bombom). Siqueira, diretor de marketing da Doce Sabor, lembra que Dadinho é um case: “Ficamos sem comunicar durante anos. Confio muito no poder da embalagem que, em alguns momentos, pode ser a única forma de comunicação. A marca sempre teve design e recentemente fizemos uma mudança sutil, melhoramos a embalagem, com a linha nova, e a revitalizamos. Dadinho se comunicava na mídia de massa – nos anos 1980, esteve no Fofão, na Xuxa. O desafio agora é trazer as novas gerações. Por isso, lançaremos a campanha online Geração Dadinho, no final deste mês, com a proposta para o público criar receitas com Dadinho”.
Agora, é aguardar a nova versão de Paçoquita Cremosa, a campanha de Dadinho e torcer para que Amor vire um creme também. Afinal, se a rapadura é doce, mas não é mole, pelo menos a paçoca tem que ser macia, né!
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