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Edu Lyra: “Nossa luta é para que as empresas enxerguem as favelas com toda a sua potência”

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Edu Lyra: “Nossa luta é para que as empresas enxerguem as favelas com toda a sua potência”

Fundador da Gerando Falcões comenta o lançamento do livro “De Marte à Favela”, com Aline Midlej, e discorre sobre atual olhar das empresas sobre as favelas e as articulações junto ao terceiro setor


12 de dezembro de 2024 - 6h00

Um dos projetos da Gerando Falcões, ONG fundada pelo empreendedor social Edu Lyra, é a Favela 3D, que visa transformar as favelas em ambientes dignos, digitais e desenvolvidos. A iniciativa é tema do livro De Marte à Favela, escrito pela jornalista Aline Midlej, que dá vida às visões do fundador.

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Aline Midlej e Edu Lyra (Crédito: Divulgação)

A obra elucida o planejamento por trás dos esforços da Gerando Falcões em marcar presença em quatro das onze favelas em que o projeto trabalha. Ao Meio & Mensagem, Edu Lyra detalha o objetivo por trás do lançamento, discorre sobre a atual conexão das companhias com as favelas, a importância e desafios do terceiro setor para gerar transformação.

Meio & Mensagem – Fale sobre o De Marte à favela. Qual é o intuito por trás do lançamento? Aline Midlej descreveu a obra como um “manual provocativo para a construção de uma nova bússola moral”; o que isso significa?
Edu Lyra – O “Favela 3D – Digna, Digital e Desenvolvida” é uma tecnologia social de superação da pobreza desenvolvida pela Gerando Falcões e implementada em 11 territórios de favela pelo Brasil. Com o case de sucesso da Favela Marte e outras favelas, que a Aline Midlej contou brilhantemente no livro, queremos chamar atenção da sociedade, fazendo um alerta de que a pobreza não é invencível. Com um planejamento bem estruturado, a união de diferentes atores sociais e a vontade de gerar transformação em escala, os sonhos podem sair do papel e se tornar realidade. Com a história real que é abordada na publicação pretendemos estimular cada vez mais indivíduos, sejam eles oriundos de empresas privadas, terceiro setor, governo e sociedade civil em geral, a sair da sua zona de conforto e criar soluções que gerem impacto positivo e mudança real e de longo prazo.

M&M – Qual o peso e importância de apresentar o livro e abordar a temática durante um programa de alta visibilidade, como o Domingão com Huck?
Lyra – O Luciano é um grande amigo meu. Em 2022, antes do Favela 3D começar a ser implantado na Favela Marte (localizada na cidade de São José do Rio Preto, em São Paulo), ele foi até lá comigo fazer uma visita ao território e conhecer os moradores. Ele é um cara que também tem um lado social muito forte e quando contei tudo que eu queria fazer na Favela Marte, ele foi uma das pessoas que acreditou que esse projeto se transformaria em realidade. Poder estar em um programa como o Domingão com Huck para contar o desfecho positivo dessa história para milhões de telespectadores foi muito gratificante.

M&M – Muito devido ao seu trabalho junto à Gerando Falcões e outras organizações, o consumo das favelas tem sido mais debatido, e o mercado tem dado luz a esse tema. Como as marcas têm recebido isso? Há, de fato, um olhar mais direcionado para esse público?
Lyra – As favelas são um mercado com alto potencial. Com cerca de 17 milhões de moradores, movimentam mais de R$ 180 bilhões anualmente. Se as favelas fossem um estado seriam o quarto maior em número populacional e o sétimo em circulação de renda. Nossa luta é para que as empresas enxerguem as favelas com toda a sua potência, e não com um sentimento de pena. Com o passar dos anos, temos conseguido estabelecer cada vez mais parcerias com marcas e empresas privadas que estão motivadas a fazer a diferença. Claro que esse movimento não é totalitário, mas para citar um exemplo: hoje em dia, na própria publicidade nacional, temos marcas que se destacam fazendo suas ações comerciais cada vez mais com histórias e pessoas reais, além de buscar a inclusão e diversidade em suas campanhas.

M&M – De que maneira o terceiro setor tem se mostrado uma articulação efetiva para a agenda de ESG das marcas?
Lyra – O terceiro setor pode contribuir muito com as marcas que buscam potencializar suas ações ESG, orientando e chamando atenção para as principais lacunas que a transformação sistêmica precisa preencher. Vou utilizar a Gerando Falcões como exemplo. Indo além dos treinamentos e workshops que oferecemos às empresas para adoção efetiva das boas práticas sustentáveis, nós temos o conhecimento e a vivência em cada território, conhecemos as necessidades de cada favela onde atuamos e as dores dos seus moradores. Conseguimos encurtar o caminho das marcas até a comunidade e fazer com que essa conexão seja positiva para ambos os envolvidos.

M&M – Como tem sido a relação do Gerando Falcões com as empresas, sobretudo o interesse no empreendedorismo social? É um tema muito endossado pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas, com a erradicação da pobreza, por exemplo, mas as empresas têm se comprometido com isso?
Lyra – A relação da Gerando Falcões com as empresas tem sido um exemplo de como a união de forças pode gerar um impacto positivo e transformador na sociedade. Cada vez mais, vemos as empresas compreendendo que o empreendedorismo social não é apenas uma causa nobre, mas também uma estratégia poderosa de transformação e desenvolvimento sustentável. Elas têm entendido que podem alavancar seu papel como agentes da mudança, indo além do lucro e deixando um legado social. Os ODS da ONU, especialmente a erradicação da pobreza, devem ser encarados como uma bússola para essas parcerias. Hoje, trabalhamos com corporações que não apenas doam recursos financeiros, mas também investem conhecimento, tecnologia e disponibilizam pessoas para contribuir com nossos projetos. Elas têm se comprometido, por exemplo, com a capacitação de jovens e adultos nas favelas, fortalecendo as iniciativas de geração de renda, educação e inclusão. Muitas organizações têm se engajado em nossos projetos como o ‘Favela 3D’, que busca transformar comunidades inteiras, levando infraestrutura, tecnologia e dignidade. Essas empresas enxergam retorno social desse compromisso, ao mesmo tempo em que ajudam a reduzir as desigualdades estruturais.

M&M – De que maneira a atual conjuntura econômica e política influencia as decisões de marcas, financiadoras, na articulação com as entidades públicas, para levar mais dignidade às favelas?
Lyra – A conjuntura econômica e política tem levado marcas e financiadoras a entenderem que investir em projetos sociais não é só solidariedade, é estratégia. Elas têm buscado cada vez mais articulação com entidades públicas e organizações como a Gerando Falcões para amplificar impacto e levar dignidade às favelas. Esse alinhamento é vital, porque une recursos privados, políticas públicas e inovação social para transformar realidades e construir um Brasil mais justo e sustentável.

M&M – Como tem sido a evolução de captar financiamento para iniciativas como as que a Gerando Falcões promove? Existe realmente uma evolução?
Lyra – Hoje, as empresas não querem apenas doar, elas querem se engajar e gerar impacto mensurável. A Gerando Falcões tem mostrado que é possível transformar favelas em polos de dignidade e oportunidade, o que atrai investidores sociais comprometidos. A transparência e os resultados concretos têm sido grandes motores para esse crescimento. Ainda há muito a fazer, mas estamos avançando com aliados cada vez mais engajados.

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