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Embalagens de Natal podem ser mais sustentáveis?

Estudo da Radar Pesquisas mostra que brasileiros valorizam embalagens recicladas, mas ainda não estão dispostos a abrir mão de embrulhos mais elaborados


13 de dezembro de 2019 - 15h00

Consumidor brasileiro ainda se divide entre a sustentabilidade e a atratividade das embalagens elaboradas (Crédito: Divulgação)

Assim como há quem defenda que uma apresentação mais caprichada de um alimento no prato pode melhorar até a percepção de sabor que se tem sobre ele, um presente de Natal com embalagem mais elaborada também parece aumentar o seu valor. Mesmo que o destino dessa embalagem, na maioria dos casos, seja o lixo, logo após a meia noite do dia 24 de dezembro.

Mas o impacto ambiental do lixo gerado pela troca de presentes começa a ser discutido. A Radar Pesquisa se debruçou sobre o tema, com o estudo “Natal Sustentável”. Entre as principais conclusões da pesquisa estão o fato de que embora 73% dos brasileiros digam se incomodar com a quantidade de lixo gerada e 86% acreditem que o uso de materiais reciclados nas embalagens agregaria mais valor ao presente, 53% das pessoas ainda não estão dispostas a abrir mão de uma decoração mais elaborada.

Na entrevista a seguir, Joana Belo, sócia-diretora da Radar comenta a iniciativa do estudo, seus resultados e possíveis impactos.

Joana Belo: boas intenções, mas necessidade de mudar hábitos (Crédito: Divulgação)

Meio & Mensagem – Foi a primeira vez que a Radar realizou pesquisa sobre esse tema? Poderia comentar um pouco a metodologia adotada?
Joana Belo – Estamos há 30 anos no mercado de pesquisas atuando com empresas de diversos setores, mas esta investigação é inédita. Decidimos fazer esta pesquisa proprietária porque queríamos medir o quanto o consumidor se atenta para a embalagem nesta época do ano, um período que tradicionalmente gera tanto lixo. Ouvimos 800 pessoas na pesquisa, por meio de questionário online, feita com grupos das classes A, B e C em todo o Brasil.

M&M – O que motivou o estudo? Vocês têm algum dado sobre o impacto das embalagens de presente de Natal, no Brasil?
Joana – Não temos dados sobre o volume de embalagens gerado nesta época. Mas era uma inquietação nossa e queríamos ver o quanto o consumidor se incomodava ou não com aquele monte de papel de presente e caixas que vão para o lixo. Até porque em alguns casos, a embalagem pode levar mais tempo para se degradar do que o próprio presente. Queríamos identificar também a importância do varejo neste processo. Por isso, essa é uma pesquisa com tema inédito no país. Para se ter uma ideia, pela primeira vez, vários respondentes fizeram comentários no questionário agradecendo a iniciativa porque nunca tinham pensado no impacto da embalagem no Natal e passaram a questionar seus próprios hábitos.

M&M – Qual sua leitura geral sobre o comportamento do consumidor brasileiro em relação ao tema?
Joana – A pesquisa nos mostrou a boa intenção do brasileiro. Quando perguntado sobre assuntos relacionados a reciclagem e os incômodos com o descarte, 73% disseram se incomodar com a quantidade gerada de lixo na época de festas. Porém, ainda existe uma lacuna entre o desejo e prática, visto que apenas 47% dos entrevistados abrem mão de decoração mais elaborada nos presentes, mesmo que isso provoque mais descarte de materiais. Além disso, somente 56% dos respondentes afirmaram reaproveitar as embalagens para novos embrulhos e apenas 1 entre 10 respondentes utilizam produtos mais sustentáveis, como papel kraft e cordão. A partir disso, podemos dizer que o brasileiro tem preocupações relevantes com o acúmulo de lixo gerado pelas embalagens no Natal, mas ainda precisa exercer seu papel efetivamente na escolha de materiais sustentáveis para empacotar seus presentes.

M&M – A partir dos resultados dos estudos, que medidas você acredita que deveriam ser tomadas pelos varejistas (ou mesmo pelos produtores de embalagens/papeis de presente)?
Joana – O varejo aparece com um papel muito importante na virada de jogo quanto ao uso de embalagens no Brasil. Por exemplo, há um comportamento automático do consumidor dentro da loja. Mas 45% dos respondentes acham que as lojas deveriam confirmar a necessidade de sacola porque nesse momento se sentem alertados. Além disso, dividir sacolas com outros produtos, por exemplo, não seria um problema para 77% dos brasileiros que até elogiaram a loja para conhecidos. Ou seja, um treinamento simples para essa abordagem já teria um efeito importante. Oferecer embalagens com materiais reciclados ou recicláveis também funcionaria como diferencial competitivo para os lojistas. A pesquisa revelou que 93% das pessoas elogiariam uma loja para amigos e familiares se percebesse que ela se preocupou em elaborar uma embalagem de presente mais sustentável. Partindo para o e-commerce, 50% acham que as empresas precisam reduzir a quantidade de material que usam nos pacotes para a entrega. Varejo e fabricantes de embalagens poderiam pensar em soluções conjuntas levando em consideração essas constatações.

M&M – Embalagem, em geral, costuma ser usada até como parâmetro de atividade econômica, a embalagem de Natal é, para você, um parâmetro de consciência ambiental?
Joana – O consumidor está mais atento com relação a questão de recursos naturais finitos e a produção crescente de lixo. Mas o Natal é a data mais importante para o varejo, a apoteose do consumo e mexe com o imaginário. É momento de celebração, de exuberância e de excessos. A pesquisa revela essa contradição, esse gap entre intenção e prática em adotar práticas mais sustentáveis nesta época com relação a embalagens. Nesse sentido, é sim um parâmetro, um retrato de um momento, um processo de conscientização.

M&M – As fabricantes de produtos deveriam entrar mais na discussão/ proposição de soluções para manter o lado lúdico das embalagens e, ao mesmo tempo, gerar menos impacto?
Joana – Este é um bom desafio para os fabricantes e os varejistas. Num momento em que todos buscam fidelizar e engajar consumidores, seria estratégico oferecer novas propostas. Os respondentes revelaram que valorizam e indicariam lojas com soluções de embalagens mais sustentáveis. Então, é o momento de todos os envolvidos na jornada repensarem seus papéis.

 

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