Qual é o status atual e futuro das políticas de ESG no Brasil?
Em meio à cortes de políticas de DE&I nos Estados Unidos, especialistas avaliam avanço do Brasil em meio à pauta e possíveis implicações das determinações de Trump
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Giovana Oréfice
7 de fevereiro de 2025 - 6h05
Em 2023, Larry Fink, CEO da BlackRock, afirmou que deixou de usar o termo ESG devido à crescente politização do conceito ao longo dos anos.
A associação do tema a questões políticas, somada ao temor do greenwashing e performances aquém do esperado, desencadeou uma fuga de investidores em fundos do tipo. A Barclays mostra que, no primeiro semestre de 2024, investidores retiraram US$ 40 bilhões de ativos de ESG.
(Crédito: Dmitry Demidovich/Shutterstock)
E a pauta segue aquecida, sobretudo desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos, em janeiro. Nos últimos dias, Trump assinou ordens executivas de retirada dos EUA do Acordo de Paris e do conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) – posicionamentos importantes para políticas de ESG no corporativo.
Diversas companhias já têm abandonado ações de diversidade e inclusão no país. Nesta semana, o Google anunciou o fim de metas de contratação de grupos minoritários, além da revisão de seus programas ligados à agenda de diversidade, equidade e inclusão. Outras, como Meta, Walmart, McDonald’s, Harley-Davidson e Toyota seguiram o mesmo caminho. Nos EUA, o Publicis Groupe também retirou a então diretora de DE&I de seu posto, bem como cortou metade de sua equipe.
Do ponto de vista de marca, decisões do tipo refletem, para além da falta de comprometimento, na perda de legitimidade com clientes, talentos e investidores, conforme aponta Grazi Mendes, professora da Fundação Dom Cabral e executiva de diversidade, equidade e inclusão na ThoughWorks. Outras implicações envolvem a diminuição de inovação, bastante catalisada pela diversidade nos ambientes de trabalho.
Para a professora, o mercado encara agora um desgaste das iniciativas que não estavam enraizadas em uma visão de longo prazo, passada a urgência do momento frente à ampla visibilidade da pauta entre 2020 e 2021. “Empresas que tratavam a diversidade como uma tendência começam a recuar diante de desafios econômicos ou políticos. Isso prova que, para muitos, a DE&I nunca foi estrutural. Foi um ornamento. E ornamentos são retirados quando a decoração muda”, alega.
“Não há só a polarização política, mas de mercado e demais identificações. A conversa está excessivamente polarizada”, complementa ítala Herta, fundadora da DIVER.SSA. “Para termos minimamente uma conversa e diminuir a distância entre quem quer coerência e quem quer continuar incoerente, precisamos ir para o caminho do diálogo no sentido mais pragmático”.
O conceito “Go wake, go broke” dá luz às críticas direcionadas ao engajamento de marcas em causas sociais e ambientais, especialmente nos Estados Unidos. Entende-se que o alinhamento com essas pautas pode resultar na perda de clientes e, consequentemente, em impactos financeiros negativos.
A Jaguar foi acusada de se tornar uma “woke brand” ao trazer diversidade para a campanha de lançamento de seu rebranding. Um artigo de opinião no The Guardian apontou que, após a tentativa de inclusão, “pessoas de todas as origens não comprarão os carros da marca”.
Apesar disso, um levantamento realizado por pesquisadores da Saïd Business School da Universidade de Oxford, ao lado do Instituto Geena Davis, no ano passado, indicou que campanhas inclusivas podem impactar lucros, vendas e valor de marca positivamente.
A análise de 392 marcas em mais de 50 países revelou, como reflexo, um aumento de quase 3,5% nas vendas de curto prazo e um aumento de mais de 16% no longo prazo, conforme publicado por reportagem do The Guardian. Além disso, comunicações do tipo levam 62% das pessoas a escolher um produto e fidelizam 15% dos consumidores.
Virgínia Nicolau Gonçalves, superintendente de Sustentabilidade da B3, comenta que o Brasil tem sido eficiente em manter o ESG em pauta e fora da dualidade: “Vejo que a questão do anti ESG, ou anti-woke, é mais forte nos Estados Unidos. No Brasil conseguimos conter um pouco esse movimento. É ótimo que uma pauta que fala de desenvolvimento sustentável não seja confundida com uma pauta política e partidária nesse sentido”, comenta.
De acordo com a superintendente, informações relacionadas à sustentabilidade seguem importantes na tomada de decisão dos investidores. Empresas comprometidas com a agenda ESG estão também no radar dos índices de sustentabilidade, que avaliam uma série de dimensões, entre social, humano, governança, meio ambiente e negócios, aliados à composição adicional de um índice de reputação.
“Se algo acontece, mesmo ainda não tendo sido refletido, mas sendo um evento relevante que começa a aparecer muito nas mídias, abrimos um comitê de gestão de crise, e por meio de uma matriz de riscos, fazemos a avaliação daquele incidente. Não fazemos isso de forma subjetiva: consideramos o grau de impacto do ponto de vista da sustentabilidade, como foi a atuação da companhia nessa gestão, o que impactou na imagem da empresa até o momento”, descreve.
E ainda que o movimento contra políticas de diversidade, equidade e inclusão tenha ganhado relevância em empresas dos EUA, no Brasil seguem comprometidas com a pauta. O McDonald’s anunciou que manterá políticas do tipo no País, enquanto C&A e Natura, por exemplo, aproveitaram o momento para reforçar seus compromissos frente às temáticas de DE&I e sustentabilidade.
Segundo a executiva de diversidade, equidade e inclusão na ThoughWorks, um possível impacto de decisões dos EUA que minam políticas ESG no Brasil aconteceria em níveis simbólicos e pragmáticos. Primeiro, encorajaria líderes empresariais que nunca acreditaram em DE&I e ESG a reforçarem seu ceticismo e recuarem. Pragmaticamente, haveria riscos para as empresas que dependem de cadeias globais de suprimentos e que operam em mercados internacionais, diz.
É preciso, portanto, refletir mais sobre contextos e realidades, conforme alerta a fundadora da DIVER.SSA. “O Brasil é muito vanguardista em muitos aspectos do mercado financeiro, mas ainda somos uma economia que investe em outros países, não centralizamos oportunidades e negligenciamos alguns públicos”, alega Ítala. “Precisamos inverter a lente: sim estar atento aos movimentos, mas cada vez mais se posicionar como alguém que se beneficia, mas que também tem a ensinar, força criativa e inteligência para solucionar problemas”.
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