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Marketing

Os reflexos do tarifaço de Trump na economia e aos anunciantes

Especialistas destacam principais impactos sobre os negócios e a comunicação, assim como reações possíveis às empresas e setores mais afetados


7 de abril de 2025 - 6h00

Trump com sua tabela tarifária nos jardins da Casa Branca, no último dia 2 de abril (Crédito: Chip Somodevilla/Getty Images)

Na semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, cumpriu a promessa de soltar uma lista extensa de tarifas a diversos países do mundo, no que chamou de Liberation Day, ou o dia em que seu país, teoricamente, se libertaria de um cenário comercial desfavorável. Em seu discurso, Trump pontuou que as taxações seriam uma medida para fortalecer a economia norte-americana, mas o que muitos analistas estão vendo é um jogo que pode desestabilizar a economia global e, em última instância, talvez prejudicar os próprios consumidores americanos.

Pedro Brittes, professor de Relações Internacionais da FGV, lembra que ainda somos uma economia global da qual o comércio internacional é um pilar muito importante e uma vez que existe uma integração significativa das cadeias produtivas globais a criação de barreiras para que esse comercio aconteça de forma fluida gera um custo direto às economias, tanto as exportadoras – que perderão mercado – quanto aos próprios EUA, que importam de muitos países. E isso, eventualmente, levará até ao aumento de preços.

Brittes lembra, ainda, que seria um efeito semelhante à ruptura das cadeias de suprimentos, por uma questão sanitária, durante a pandemia. Agora, por uma questão tarifária, poderá haver uma diminuição do fluxo comercial global e isso tende a tornar mais complexo um processo que já vinha sendo observado de desglobalização, ou seja, os países cada vez mais tentando construir alternativas por si próprios, fugindo da integração que marcou as duas décadas anteriores.

Fluxo e contrafluxo

O professor pontua que a depender do tamanho e extensão dos efeitos das tarifas colocadas, de fato, em prática poderá haver impacto sobre o crescimento econômico global no médio prazo e uma guerra comercial acumulada, na medida em que os países que sofrerão irão adotar medidas retaliatórias – algo que o Brasil, por exemplo, mesmo num grupo “mais brandamente” afetado, com taxação de 10%, já prometeu fazer.

Outro efeito para a economia global, apontado por Brittes, é sobre a confiança de investidores e de consumidores. “Em uma expectativa de aumento exponencial de preços em termos globais, quais consumidores vão ser incentivados a comprarem mais, a ampliar seus gastos? A tendência será possivelmente de terem medidas contracionistas, mais ocupados em poupar dinheiro, na medida em que você tem mais instabilidade e pouca previsibilidade, dado que essa guerra só estaria começando”, analisa.

A mesma coisa valeria para os mercados globais, pois os investidores, em cenários adversos, tendem a se fechar diante de certos mercados e produtos e não ampliar sua carteira e portfólio, preocupados com os resultados de medidas como essas. E tudo isso já começa a fazer instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial a cogitarem uma eventual recessão global.

Tiro pela culatra?

Além dos efeitos apontados pelo professor de RI da FGV, Jorge Ferreira dos Santos Filho, especialista em negócios internacionais e professor do curso de Administração da ESPM, também destaca outro: aumentar o custo de vida das famílias nos Estados Unidos. “Nas últimas semanas, o presidente do FED (Banco Central Americano) mencionou que as tarifas poderiam induzir a um movimento inflacionário transitório e temporário, mas alguns analistas de mercado já consideram um efeito inflacionário mais persistente na economia norte-americana”, destaca Filho.

Em todo caso, o professor avalia que a profundidade e durabilidade dos impactos dependerão do escopo de produtos atingidos e duração das medidas, assim como de se haverá nos próximos dias margem de negociação das alíquotas impostas.

Mercado anunciante

À medida em que poderá haver uma diminuição do fluxo comercial, os países e as companhias de setores mais afetados pela taxação podem diminuir investimentos em comunicação e marketing ou serem mais conservadores, analisam os dois especialistas. E, com isso, as empresas que dependem desses investimentos – leia-se agências e as de mídia – também precisarão ter mais cautela na hora de planejarem seus orçamentos.

“O mercado publicitário nos EUA já apresenta sinais de desaceleração. As projeções de crescimento do setor foram revisadas pela Madison & Wall de 4% para 2,6%. Esse dado reflete as incertezas econômicas geradas pelas tarifas e pela expectativa por uma eventual recessão na economia norte-americana”, destaca o professor da ESPM.

Para ele, num primeiro momento, isso pode implicar em redução de investimentos em grandes campanhas publicitárias e em inovação. E, no lado do consumo, mesmo num país mais rico, como o de Trump, pode levar à redução de consumo e ao chamado trade down de certos bens e serviços (migração para substitutos com preço mais acessível).

Saídas possíveis

A principal medida que as empresas de setores afetados (e as que enfrentam efeitos rebote) podem tomar, segundo o professor Brittes, é aprofundar estratégias de diversificação de mercados, ou seja, buscar outros países que possam, aos poucos, absorverem suas exportações. “É um custo, porque outros países não têm o mesmo nível de integração das cadeias que os EUA têm. Então, não é uma mudança de curto prazo, mas é a principal medida que se pode tomar e, principalmente, buscar mercados que, hoje, estejam apresentando desempenhos melhores e, com o tempo, tenham mais propensão a serem abertos a essas relações comerciais mais profundas”, pondera.

Estariam nesse rol parceiros do Leste e Sudeste Asiático e parceiros não-tradicionais, na África e no Oriente Médio, além da própria Europa, que também vai sofrer com essas taxações dos EUA e, portanto, buscar alternativas.

Filho, da ESPM, aponta que também as estratégias de marketing deverão ser adaptadas para focar no público externo, promovendo competitividade e diferenciais como sustentabilidade e qualidade superior dos produtos brasileiros. Para tal, também ressalta critério na escolha de canais e frequência de campanhas que destaquem benefícios exclusivos em relação a concorrentes e demonstrem desempenho superior dos produtos brasileiros em comparação a outros. “As marcas podem direcionar campanhas para mercados locais ou específicos menos afetados economicamente, ajustando mensagens e promoções para nichos decorrentes de mudanças no poder de compra. Essa estratégia permite que as empresas se concentrem em áreas onde o poder de compra do consumidor é mais resiliente e a demanda por seus produtos e serviços permanece forte”, acrescenta. Por fim, num cenário de possível corte de gastos publicitários por parte dos anunciantes, as empresas de publicidade e comunicação, diz Filho, podem adotar estratégias voltadas a performance, como publicidade digital e conteúdos orientados a conversão – o que permite maior controle de resultados, mesmo com margens pressionadas.

Depois de divulgada a “tabela de Trump”, a conclusão do professor da FGV é de que, no que diz respeito ao Brasil, acabou não sendo “mais grave do que se imaginava”, ainda que algum prejuízo haverá para determinados setores. Em todo caso, Brittes considera a situação “manobrável”, inclusive porque o fato de outros países estarem sofrendo taxações maiores abre espaço para o Brasil ocupar parte dos mercados que esses países mais taxados vão perder à medida que as alíquotas forem impostas.

Algo que chamou mais sua atenção foi o fato de os EUA terem taxado parceiros historicamente relevantes, como – além da União Europeia – Taiwan e o Japão. Por estarem próximos da China, os dois países asiáticos sempre foram vistos pelas administrações anteriores como parceiros estratégicos. Isso indicaria que os EUA estão reorganizando sua presença no mundo e, para as nações citadas, é algo relevante até para sua segurança.

E de volta ao caso do nosso País, ele conclui: “Acredito que o saldo acaba não sendo dos piores para o Brasil, em que pese o fato, numa perspectiva global, de que essa tendência de desconfiança e maior incredulidade sempre afete a economia”.

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