Funk supera preconceito e alcança o mainstream
Em três décadas, gênero se transformou de ritmo marginalizado por públicos e marcas em uma indústria que movimenta milhões, com grande presença em todas as plataformas de mídia e festivais
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Thaís Monteiro
26 de maio de 2020 - 18h25
O funk brasileiro como o conhecemos completou 30 anos em 2019 como o gênero nacional mais ouvido fora do País e emplacando espaços em discos de artistas internacionais, como Madonna, e festivais no exterior, como o Coachella. Em 2009, uma pesquisa realizada pelo FGV Opinião, instituto de pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, constatou que o funk movimentava R$ 10 milhões por mês no Rio de Janeiro. Em pouco mais de dez anos, passou a gerar mais de R$ 40 milhões, segundo estimativas de Afonso Marcondes, head of music da Sync Originals e fundador da escola de negócios Musicness, e Müller Santos, diretor da GR6.
O caminho trilhado para chegar a esse número foi árduo. O funk surgiu no Brasil no final dos anos 1960, influenciado pelo funk norte-americano e expoentes como James Brown. Nos anos 1970, começaram a surgir na zona sul e periferias do Rio de Janeiro os bailes. “Não houve receptividade, cantavam nas favelas, comunidades, bailes clandestinos e rádios piratas”, conta Marcondes. Também nessa época, surgiram importantes produtoras que são referência até hoje, como Soul Grand Prix e Furacão 2000.
Mas foi só nos anos 1980, influenciado pelo ritmo Miami Bass, com batidas eletrônicas erotizadas e mais rápidas, que o gênero começou a ganhar expressão e características brasileiras. Até então, as músicas tocadas nos bailes eram clássicos americanos remixados e adaptados com algumas palavras em português. Um marco desse período foi o lançamento do LP Funk Brasil, do DJ Marlboro, em 1989. O disco vendeu mais de 250 mil cópias e marcou o nascimento do funk no Brasil como um gênero mais melódico, num mix com forró, samba e outras influências, e com a introdução da bateria eletrônica.
Mas não foi de imediato que o funk foi aceito pelo público em função de sua origem e popularização em classes econômicas mais baixas, canções que retratavam a realidade violenta das favelas, preconceito, letras eróticas e com palavrões. A democratização do acesso à internet, redes sociais e plataformas de streaming, no início dos anos 2000, foram três fatores que culminaram na ampliação de alcance e na aceitação do funk, que se tornou sucesso além das comunidades de baixa renda.
De acordo com Silvio Essinger, autor do livro Batidão: uma história do funk, essa “mudança de jogo” aconteceu a partir dos anos 2010. “O funk era e ainda é algo bem marginalizado. Começou a mudar há cerca de seis anos, quando músicas como Bum Bum Tan Tan, Baile de favela, Olha a Explosão e outras entraram no top 200 global dos principais parceiros de streaming”, afirma Sergio Affonso, presidente da Warner Music Brasil.
Um pouco antes, na década de 1990, o gênero começou a conquistar espaço na TV com músicas em trilhas sonoras de novelas e aparições de DJ Marlboro e Mr. Catra em programas como o da Xuxa. “O funk passou por um processo de transformação, acompanhando a evolução social, tanto da música quanto do comportamento artístico e do público. Ele está vivendo um grande momento, com novos artistas surgindo e renovando o cenário. Hoje, o funk é, sem dúvida, um dos principais representantes da música brasileira”, analisa Juliana Costantini, gerente de conteúdo musical do Multishow.
A íntegra desta reportagem está publicada na edição semanal de Meio & Mensagem, que até o fim de maio pode ser acessada gratuitamente pela plataforma Acervo, onde também está disponível a consulta a todas as edições anteriores que circularam nos 42 anos de história da publicação. Também está aberto a todo o público, gratuitamente, o acesso à versão digital das edições semanais de Meio & Mensagem, no aplicativo para tablets, disponível nos aparelhos com sistema iOS e Android.
Funk é o tema do terceiro capítulo do projeto especial Music & Branding, publicado por Meio & Mensagem a partir da edição 1909. Além das quatro reportagens no jornal, o especial inclui uma série em vídeo também com quatro episódios. O terceiro deles (veja abaixo) apresenta o universo da música gospel e seu desafio de atrair marcas.
Crédito da imagem do alto: divulgação
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