Futebol e tecnologia: dois mundos que se aproximam
Clubes e anunciantes fazem uso de artifícios tecnológicos para se aproximar dos torcedores e fãs do esporte
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Valeria Contado
10 de junho de 2021 - 6h00
A tecnologia, há tempos, está presente no dia a dia de marcas e consumidores, que constantemente se deparam com inovações capazes de facilitar ações cotidianas, como a realização de uma compra ou até mesmo algo mais simples, como obter informações sobre trânsito.
Fato é que, tão cotidiano quanto a utilização desses recursos, o futebol também se mistura com diversos aspectos da sociedade. Um dos esportes mais populares do mundo apresenta cada dia mais evolução. Os próprios estádios se tornaram arenas e ganham cada vez mais aparatos para fazer com que a experiência do torcedor seja mais atrativa do que a TV pode proporcionar.
Na Argentina, em 2019, quando ainda não existia a ameaça da pandemia que impedia as pessoas de frequentarem os estádios, o Estudiantes, time de futebol local, marcou o retorno ao seu estádio – depois de 14 anos sem poder usá-lo – com tecnologia. O clube colocou leão, em 3D ,de fogo, para saudar os torcedores.
🦁🔥 ¡Impactante león de fuego en nuestra casa! Una imagen que quedará grabada en las retinas y en los corazones de la Familia Pincha
🏟️ #TodosParaUNO 🇦🇹 #Volvimos ❤️ pic.twitter.com/YMNuv8iwD2
— Estudiantes de La Plata (@EdelpOficial) November 11, 2019
Dentro das quatro linhas a tecnologia também vem ganhando mais espaço para ajudar a definir detalhes importantes dos jogos. O já popular VAR é um recurso que tem ajudado os árbitros a resolver verdadeiros quebra-cabeças. A linha traçada para checar impedimentos, mesmo que milimétricos, tem como objetivo diminuir erros que ficam aquém da capacidade humana.
Alguns clubes também fazem uso de equipamentos inteligentes para diminuir o risco de lesão. Pesquisadores da Escola de Educação Física e Esportes (EEFE) já trabalhavam com essa possibilidade desde 2018. Aplicativos de leitura de dados podem prever o risco de lesão e até mesmo os comportamentos dos atletas dentro de campo.
O Liverpool, um dos clubes mais competitivos da Inglaterra, entendeu que o uso da leitura de dados através de inteligência artificial poderia ajudar a melhorar o desempenho da equipe dentro de campo. A parceria do clube com a empresa de pesquisas DeepMind virou case de sucesso e estudos no meio esportivo.
Marcas geram conexão através de Inteligência Artificial
As empresas e agências também estão procurando formas de se aproximar dos torcedores. A Adidas lançou, neste ano, uma camisa que homenageia o título Mundial do Internacional, conquistado em 2006. A tradicional campanha de lançamento trouxe a voz do e capitão da conquista, Fernandão, ídolo do clube, que faleceu em 2014.
O atleta teve sua voz recriada através de uma tecnologia projetada para fazer com que ele reproduzisse um discurso totalmente novo. A Agência EA, responsável pela produção da peça, contou com a parceria de uma com uma produtora de tecnologia chamada Bizsys, e com a participação da família do atleta e do clube.
“Quando temos um produto tão ligado a história de um clube, ele carrega consigo símbolos daquela conquista e carrega os heróis. A ideia foi, realmente, criar uma conexão emocional”, explica Thales Otsuka, diretor de planejamento da EA.
Para a agência é importante entender como essa tecnologia pode ajudar a aproximar cada vez mais os consumidores das marcas e como impactar de forma positiva esses torcedores. “Queremos que nossos clientes sejam admirados pelos clientes deles”, completa Thales.
A campanha que conta com a narração de Fernandão teve seu processo de produção realizado ao longo de um mês. Caio Thomaz, VP da EA, e Thales explicam qu,e entre o treinamento da tecnologia, o desenvolvimento das sonoras e ajustes, foram três semanas. A última semana foi de pós-produção e ajustes para que a peça ficasse da forma desejada.
A agência utiliza, hoje, a tecnologia como uma verdadeira ferramenta de trabalho. “É preciso olhar e entender qual deve ser a efetividade, que é a inovação de verdade. Não fomos pegar falas dele a vida toda e fazer um recorte, foi, de fato, um trabalho de recriar a voz”, comenta Caio Thomaz.
Ainda no campo da Inteligência Artificial, a Brahma convidou os torcedores de Grêmio e Internacional para debaterem sobre o Grenal. A ação, desenvolvida pela agência SoWhat, propõe uma experiência imersiva que usa a assistente virtual da Amazon, Alexa, para fazer com que os torcedores interajam e falem sobre o clássico gaúcho.
Para a Brahma, a experiência foi uma forma de se conectar com esses torcedores que, por conta da pandemia causada pela Covid-19, estão longe dos bares e estádios. “Esse é um projeto vivo’ e só estamos começando a trabalhar essa plataforma. Vamos ver como o consumidor vai perceber e utilizar. A expectativa é alta”, comentou Giuliana Tosi, gerente de marketing de experiência e patrocínios da Ambev.
“O futebol entra no aspecto não só do entretenimento, mas de usar a tecnologia para levar isso até as pessoas ou fazer com que elas tenham experiência dentro desse ambiente de jogo”, diz Alessandro Barcellos, presidente do Internacional.
Para interagir com a skill, basta o torcedor iniciar uma conversa, dizendo: “Alexa, abrir Grenal, o Maior Clássico”. A assistente, então, trará informações históricas e até mesmo desafios.
Agilidade a favor da comunicação
Além da conexão, o esporte abre preceito para iniciar diversas conversas com os torcedores e as marcas entendem que as redes sociais, cada vez mais dinâmicas, aumentaram a velocidade da informação e do buzz. A produção de material, no entanto, chega a ser 20 vezes maior atualmente do que há muitos anos.
Essa grande quantidade de material, somada a quantidade de conteúdo que deve ser entregue pelos clubes e marcas que queiram se engajar com seu público nas plataformas, fez com que a produtora Hogarth pensasse em criar uma solução que trouxesse agilidade para o processo de captura de cenas essenciais para abrir essas conversas com os torcedores, principalmente nas redes sociais.
A empresa presta serviços para a DAZN, plataforma de conteúdo esportivo, e para a Rolex, marca que patrocina muitas modalidades. Para eles, é muito importante conseguir ter velocidade e assertividade na concepção do conteúdo.
Rafael Nasser, diretor geral da Hogarth no Brasil, reforça a importância de estar a frente. “A velocidade da mensagem é um dos grandes pontos que faz você ser o líder ou não. Trabalhamos com clientes que querem que a gente administre redes sociais, que precisam dessa resposta rápida”, destaca.
A empresa trabalha com um software que é treinado para reconhecer imagens, que podem ser buscadas através de palavras-chave. Paulo Saias, diretor de negócios e inovações da Hogarth, explica que a tecnologia precisa ser educada e alimentada com dados. “Você ensina o sistema a interpretar e, na hora que ele tem a confiabilidade, passa a buscar isso sozinho. Tem uma frase que costumamos usar que é ‘o algoritmo só é tão bom quanto os dados com que você alimenta ele’”, pondera.
Saias explica, ainda, que essa tecnologia ajuda na sustentabilidade, em termos de material. As dificuldades em gravar, causadas pela pandemia de Covid-19, interferiram nos protocolos e nos métodos. Desse modo, encontrar materiais já feitos, que podem ser reutilizados nas redes sociais, tornou-se um salva-vidas. “Essa tecnologia tem um papel importante de indexar e achar um material que o cliente fez no passado, quase o reciclando”, completa.
Realidade ou ficção?
A internet acaba facilitando a interação entre os tornecedores e as empresas. A deepfake, tecnologia utilizada na inserção de imagens para a criação de vídeos, acabou caindo na graça dos internautas graças a montagens usando o rosto de personalidades e políticos. Através desse recurso, pode-se mudar expressões faciais e até mesmo discursos.
Eticamente, no entanto, esse movimento gerou muitas discussões acerca do que poderia ser feito, ainda mais em um cenário de tanta pulverização de fake news. A Hogarth, no entanto, conseguiu entrar na conversa e trazer uma metodologia legal para usar essa tecnologia a favor da comunicação.
“Sempre que você fala de novas tecnologias você está numa área cinza legal, em que as leis ainda não existem. Fizemos essa pergunta muito cedo: se sou uma celebridade, o que implica, para mim, disponibilizar um avatar meu para que a marca possa usar?”, questiona Paulo Saias.
Rafael Nasser avalia que é importante pensar em toda a infraestrutura por trás da tecnologia e até mesmo a forma de remuneração do talento, que cederá a imagem para a concepção da peça, e a forma como será usada.
A produtora preparou um case desse tipo para a linha de salgadinhos Lays, em que o torcedor pode acessar um site e personalizar uma mensagem para ser falada pelo jogador Leonel Messi e que pode ser enviado para um amigo. Os profissionais, no entanto, destacam que é necessária muita cautela no uso da tecnologia “Pensando na experiência do usuário, tudo bem. Mas pode existir um uso maléfico dessa tecnologia. Vamos dar ao usuário todo o poder?”, questiona Paulo Saias.
Ainda na linha das inovações, a agência EA levou os torcedores para conhecer a taça da UEFA Champions League em 2019, através de realidade aumentada. Esse tipo de tecnologia tem tido um crescimento bem relevante nos meios de comunicação.
Na ação, o usuário que estivesse tomando uma cerveja Heineken na hora do jogo poderia escanear um QR Code, que levaria direto para uma sala de realidade aumentada, e desse modo, poderia ver todos os ângulos da taça.
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