Como será a configuração dos modelos de trabalho no futuro?
Pesquisa mostra que a área deve passar por transformação de lideranças, valorização do propósito, tecnologia complementar e discussões atuais em voga
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Giovana Oréfice
30 de novembro de 2022 - 9h39
A pandemia da Covid-19 propôs uma reflexão acerca de diversas atividades, entre elas o trabalho. A popularização, ainda que forçada, do trabalho remoto trouxe à tona o valor da flexibilidade dos colaboradores, mas evidenciou inúmeros problemas. Saúde mental, problemas com lideranças e revisão de valores foram algumas das questões que ganharam mais força no período.
A pesquisa Futuro do Trabalho, idealizada por Cintia Gonçalves, fundadora da consultoria Wiz&Watcher, é realizada desde 2019 e chega em sua quarta versão. A edição propõe a ideia de re-design do trabalho na busca por novas formas e funcionalidades de solucionar problemas atuais deste universo. O estudo combinou o monitoramento de mais de 87 mil menções relacionadas ao futuro do trabalho nas plataformas digitais ao longo de 30 dias, além de promover painéis com jovens de 18 a 25 anos das classes A a C, que já estejam no mercado de trabalho.
Quando o assunto é saúde mental, 14,22% das menções relacionadas ao futuro do trabalho trazem termos como “indústria”, “alívio e equilíbrio” e “sobrecarga e burnout”. Outro ponto que surgiu no mapeamento foi o termo ‘feminino’. 17,25% das menções traz alegações de “dificuldades”, “mercado de trabalho” e “maternidade”; enquanto o ‘masculino’, se conecta com palavras como “machismo”, “cargos de liderança e meritocracia” e “divisões e papéis sociais”.
Apesar dos tópicos atuais, Cintia explica que a quarta versão do levantamento endossa a persistência das temáticas encontradas na primeira edição, anterior à pandemia. De acordo com ela, isso indica a evolução da urgência de agir sobre tais questões e fazer com que elas evoluam dentro do ambiente de trabalho.
Muitos dos questionamentos são orientados pelas novas gerações, a Z e os millenials. O trabalho não é mais visto apenas como um instrumento de sobrevivência e validação de uma vida, mas sim como um local de aprendizagem e desenvolvimento. Movidos por propósito, a pesquisa mostra que os jovens querem estar em locais onde possam ter a liberdade de ser quem são, com transparência e valorização de um plano de carreira (para as classes A e B), e reconhecimento (classe C).
Contudo, existem problemas: “Vivemos um dilema em que o jovem fala muito de trabalhar com propósito em um ambiente em que ele se enxergue, mas na realidade nos últimos anos o autoconhecimento caiu, então muitos não sabem quais são seus propósitos”, diz Sofia Esteves, fundadora e presidente do conselho da Cia de Talentos.
Apesar disso, a falta de identificação e pertencimento ainda é um problema. Pela falta de inclusão e políticas que mantenham a diversidade, por exemplo, dentro de empresas, a atração e retenção de talentos se mostra como um grande desafio no cenário do trabalho atual.
“O mercado em si e a força laboral estão passando por esse momento”, aponta a consultora Elatia Abate. “Depois da pandemia, as pessoas tiveram a oportunidade de pensar: “Mas por que eu estou fazendo isso? Será que eu estou mesmo feliz nesse trabalho? Qual é o impacto de não ser feliz? Quanto tempo que eu passo no trânsito para chegar no escritório?”. Ela explica que vem ocorrendo uma reavaliação da relação com o trabalho, de voltar para o sistema uma estrutura que não é mais tão atrativa para muita gente.
Gestores que promovam o desenvolvimento de equipes, “criam para o mundo” e dão liberdade aos funcionários são aqueles que estão aptos para ocuparem uma posição de liderança atualmente. Em um mundo de constantes transformações, a habilidade de adaptação é indispensável. Além disso, o destaque vai para a humildade de reconhecer que não é possível solucionar todos os problemas sozinho. “Deixamos de pensar na equipe dentro da organização e passamos a olhar um ecossistema muito maior conectado a empresa”, detalha Cintia.
Para Elatia Abate, esta mudança está conectada à chamada quarta revolução industrial, em que lideranças precisam mudar em termos de estrutura para se adequar ao futuro do trabalho. “Estamos saindo de uma estrutura hierárquica para um modelo que eu chamo de liderança de infinidade, onde existe fluxo entre quem é o líder hoje e amanhã, dependendo do projeto, da necessidade do cliente e daquilo que está acontecendo no mercado — o entendimento e a habilidade de ser mais flexível nas lideranças”, salienta. Ao mesmo tempo, ela dá luz a características como resiliência regenerativa, estratégia simultânea e curiosidade empática.
No estudo, o líder carrega características de alguns super-heróis – ainda que não seja mais persistente a ideia de colocá-los nesse pedestal, conforme alerta Sofia, da Cia de Talentos. O Homem de Ferro é encarado como um líder coach, que combina conhecimento com tecnologia, por exemplo. Já a Viúva Negra carrega ilustra uma forte figura feminina, resistente e ágil.
O fator que mais dá sentido à quarta revolução industrial é o emprego de tecnologias avançadas. Algumas delas são a inteligência artificial, internet das coisas e robótica, na indústria. Da previsão de sua chegada, havia o grande receio de que a máquina substituísse a força de trabalho, igualmente visto em revoluções anteriores.
“Nesse cenário, tínhamos algumas perspectivas dissonantes – algumas um pouco mais catastróficas e outras, como a da Deloitte, que mostravam que a tecnologia iria elevar o ser humano a um outro patamar”, diz Luiz Barosa, sócio de consultoria em capital humano da Deloitte.
Dessa forma, a realidade mostra que 70% das organizações já utilizavam recursos como a inteligência artificial e RPA, porém, apenas 12% delas alegaram estar fazendo substituições simples da tecnologia pelo trabalhador. As informações são de pesquisa realizada pela Deloitte em 2020. “No fundo, toda conversa sorbe os robôs, que vem de muito tempo, nos coloca de novo frente a frente nos olhando espelho”, conclui Cintia.
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