Gucci divide opiniões em desfile “estranho”
Marca inclui discussão sobre apropriação cultural no centro de sua estratégia e gera opiniões controversas
Marca inclui discussão sobre apropriação cultural no centro de sua estratégia e gera opiniões controversas
Luiz Gustavo Pacete
28 de fevereiro de 2018 - 7h45
Modelos segurando suas próprias cabeças, criaturas medievais sendo carregadas em um cenário que remetia a uma sala de cirurgia. O recente desfile da marca Gucci, realizado em Milão, na semana passada, gerou vários questionamentos sobre a real intenção do diretor Alessandro Michele.
De acordo com a marca, o desfile foi inspirado no livro Manifesto Ciborgue, da autora norte-americana Donna Haraway. Em meio a um ambiente que parecia estar desconectado, a marca inseriu um elemento que é fruto de controvérsias no mundo da moda. Uma modelo branca utilizando um turbante. Nas redes sociais, sofreu críticas diretas sobre apropriação cultural.
O comunicado de imprensa da marca sobre a coleção afirmou que o desfile conversa com a filosofia cyborg de Donna Haraway e cita um pensamento do filósofo francês Michel Foucault sobre como a identidade é socialmente posicionada dentro de um sistema binário, forçando as pessoas a serem categorizadas como normais ou anormais.
O que parecia um deslize, no entanto, foi algo pensado e exatamente feito para gerar discussão, afirma Mariana Santiloni, especialista em tendências da WGSN. Ela lembra que a discussão sobre apropriação cultural na moda tem crescido a cada dia e está no radar das grandes marcas.
“O diretor criativo da Gucci, provavelmente estava ciente da controvérsia que seria colocar estes elementos em sua coleção. As marcas devem estar mais atentas nos elementos culturais que podem ser trabalhados, pois serão cada vez mais questionadas por seus consumidores, que, por sua vez, atualmente, possuem mais voz ativa”, afirma Michele.
Ricardo Sales, consultor de diversidade e pesquisador na ECA/USP, afirma que pessoas negras estão há tempos questionando a apropriação comercial de seus símbolos de luta e resistência, sobretudo quando não há outras pessoas negras envolvidas nos processos de produção e por esse motivo, o tema é tão delicado. “Se foi uma provocação, ela foi pobre. As marcas têm a oportunidade de participar das conversas mais relevantes do momento, mas para isso acontecer é preciso ouvir diferentes vozes e chamá-las a participar de seus projetos criativos, afirma Sales.
Diante de polêmica, C&A defende diversidade
Para Bruna Nogueira, COO da Ahoy! Berlin, a marca aborda a identidade dentro de uma sociedade que não deve ser binária de sim ou não, homem ou mulher, preto ou branco. “Existem muitos espaços entre um e outro e não devemos excluir. Ela é uma moda que engloba, que aborda gênero, e religião em um único lugar.” Para Silvia Nascimento, diretora de conteúdo do site Mundo Negro, o turbante é um caso clássico porque é um adorno de grande simbologia para várias culturas. “O ponto mais sensível na questão da apropriação cultural é ver pessoas brancas usando acessórios em homenagem a uma etnia que sofre discriminação justamente por uso desse acessório. No caso da Gucci isso é bem explicito, uma pessoa loira na passarela usando esse acessório mostra uma falta de respeito e empatia.”
*crédito da imagem no topo: Angelha/iStock
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