“Inovação deve estar no dia a dia de todos”
No 4º episódio da série Transições, André Foresti, fundador da Troublemakers, fala sobre o papel da mentalidade ágil na resolução de problemas
No 4º episódio da série Transições, André Foresti, fundador da Troublemakers, fala sobre o papel da mentalidade ágil na resolução de problemas
Luiz Gustavo Pacete
22 de agosto de 2019 - 6h00
Após sete anos atuando como diretor de planejamento da F/Nazca Saatchi & Saatchi, André Foresti decidiu, em 2018, trilhar o caminho do empreendedorismo, desenvolvendo dinâmicas que ajudassem os clientes a resolver problemas complexos. Essa motivação deu origem à Troublemakers, empresa focada em metodologias de inovação. “Percebemos que, no dia a dia, todo mundo tem algo para mudar, mas ninguém tem tempo para isso. Nos inspiramos em práticas de startups e plataformas de tecnologia para espalhar um novo jeito de fazer que abrace os métodos ágeis e a cocriação”, explica. Desde então, a empresa já realizou trabalhos para empresas como Sodexo, Unilever, Ben & Jerry’s, Revista Trip, Peppery e La Baraque.
Hoje, Foresti reforça a importância de pensar a inovação além de uma ferramenta associada a grandes companhias e aplicá-la para vários outros projetos. Para ele, o único modo de se conquistar isso é sendo “mais experimental e ter no dia a dia a cultura da mudança e inovação”. No 4º episódio da série Transições, Foresti explica como vem contribuindo para que empresas desenvolvam soluções a partir de métodos ágeis.
M&M – Como foi o processo de decisão e transição do mundo corporativo para tornar-se um empreendedor?
André Foresti – Minha busca nunca foi ser empreendedor. Sei que tem todo o hype disso e todo mundo quer ser “founder” de alguma coisa, tanto faz o quê. Eu queria apenas trabalhar de outro jeito e não achava nenhum lugar perfeito com as coisas que eu queria fazer. Simples assim. Estava cansado do jeito de trabalhar egocêntrico e pouco produtivo do mercado publicitário, os vícios, as perdas de tempo, as relações pouco empáticas, a reputação junto ao cliente. E por outro lado, vi que as empresas estavam precisando mudar e, ao mesmo tempo, apavoradas com as mudanças. Conectei esses pontos. Então o que me motivou foi o trabalho em si, tornando a decisão muito mais fácil.
“Esse papo de ‘o mundo mudou’ é tão chato. Sempre mudou, agora a questão é mais sobre a velocidade em si e a fragmentação pós-revolução digital”
O que o motivou a criar a Troublemakers?
Queria apenas trabalhar diferente. Nem precisei tomar a decisão, ela fluiu naturalmente pois eu não queria mais fazer o que fazia. Sobre a transição, um dos mitos de inovar é que você precisa chutar o balde, ter um ato heroico de largar tudo. Isso é bobagem pois muitos empreendedores fazem pilotos em meio ao emprego que dá possibilidade de testar modelos e aprender. Foi o que fiz. Passei mais de um ano aprendendo e fazendo pilotos da Troublemakers enquanto ainda estava na agência (óbvio que sem conflito de interesses e prejudicar meu trabalho). Fiz pilotos pois queria saber se era bacana trabalhar com agile, se os métodos funcionavam, queria até melhorar meu posicionamento e produto inicial. Inclusive eu tinha que me testar, pois é uma mudança de escopo gigante. Na Troublemakers preciso ser bem mais completo do que eu era nos vários anos de carreira em estratégia.
O que te levou ao ecossistema de inovação, por que esse tema te chamou a atenção?
As coisas estão borbulhando e as redes sociais nos dão acesso em tempo real a todos os movimentos. Como uma pessoa minimamente curiosa e afim não vai querer participar dessa festa? Antes inovação era coisa de empresas incríveis, que se antecipavam a tempo de mudar o mercado. Hoje qualquer cafeteria da esquina precisa inovar sempre. Inovação é dia a dia e para todos. Esse papo de “o mundo mudou” é tão chato. Sempre mudou, agora a questão é mais sobre a velocidade em si e a fragmentação pós-revolução digital. E essa fragmentação, open source, consumidor empoderado e novas tecnologias obrigam as empresas a se moverem mais rápido. E só tem um jeito de fazer isso: ser mais experimental e ter no dia a dia a cultura da mudança e inovação.
“As coisas estão borbulhando e as redes sociais nos dão acesso em tempo real aos movimentos todos. Como uma pessoa minimamente curiosa e afim não vai querer participar dessa festa?”
De que maneira seus aprendizados como executivo em agência têm sido aplicados no dia-a-dia?
Dentro das agências aprendi a conviver com gente diferente e talentosa, aprendi a trabalhar com paixão, no que acredito, aprendi a ser gestor de pessoas, a celebrar as coisas, a me desafiar todos os dias. Conheci muitas pessoas que hoje são fundamentais para os primeiros passos da minha nova empresa. Além disso, muitas experiências que fiz com times e entregas de planejamento eu trago para projetos atuais. Por outro lado, nem todos os aprendizados nascem de coisas boas. As agências também me ensinaram sobre como “não fazer”. De tanto ver coisas sendo repetidas, trouxe os erros para corrigir o modelo já que tenho a chance de começar do zero. Coisas que não fazem mais sentido como a separação entre cliente e agência, a cultura enraizada do “nós e eles”. Os processos de criação lineares em que um departamento passa a bola para o outro. Hierarquias, egos e relações tóxicas. O rabo preso com os formatos, o que muitas vezes faz os processos serem um grande show, mas no fim tudo acaba em ideias que a agência faria no seu dia a dia normal.
Agora o oposto, quais ensinamentos você teve nessa nova realidade que aplicaria na publicidade?
O maior aprendizado que levaria para uma agência é repensar a questão da produtividade. Não é mais legal virar noite, ficar em sala de reuniões horas e horas, brainstorm sem foco, refação por falta de informação e alinhamento, falatórios que não constroem nada. As pessoas querem fazer tudo ao mesmo tempo e gastam muito mais tempo para, de fato, produzirem. Os métodos ágeis são sobre foco. Estar ali de alma e cabeça, como no mindfulness. De que adianta pedir pro cliente 15 dias de prazo, mas trabalhar realmente, pegando de verdade o projeto, nos últimos três dias? Sem contar que mata a energia criativa do time, que está sempre no limite e não tem tempo para refletir, arejar, ler, estudar, circular… viver, eu diria. Outro coisa que não funciona mais é ter equipes fixas num cenário que os problemas são muito diferentes. Cada projeto requer um tipo de profissional diferente. Não pelo cargo ou skill técnico, e sim pela experiência, paixões, referências, estilo. Todo profissional é ótimo para um projeto e péssimo para outro.
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