Ivete Sangalo: “Peguei a vaidade e joguei na gaveta”
Cantora participou do Marketing Network Brasil e falou, além de muitos temas relacionados à sua vida midiática, sobre gestão de crise e o cancelamento da turnê A Festa
Ivete Sangalo: “Peguei a vaidade e joguei na gaveta”
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Roseani Rocha
17 de maio de 2024 - 18h18
Em sua terra natal, Ivete Sangalo foi uma das atrações do segundo dia do Marketing Network Brasil (MNB), evento realizado pelo Grupo Meio & Mensagem no Tivoli Eco Resort, na Praia do Forte, Bahia.
Entrevistada por jornalistas do M&M, Ivete comentou sua relação com a criatividade e com as marcas ao longo da trajetória de três décadas, assim como gestão de crise e o cancelamento anunciado, esta semana, da turnê A Festa, em que comemoraria esse marco. Também avaliou seu papel na mídia como comunicadora e a relação com as redes sociais (incluindo a influência sobre crianças e adolescentes, sendo ela mãe de três filhos).
“Na vida da gente, sob qualquer aspecto, é preciso criatividade, para não cair no marasmo dos problemas e das situações difíceis. É preciso trazer um respiro e criar possibilidades de caminhos criativos para a gente não se perder no dia a dia”, disse. Mas também enfatizou que a criatividade é algo que pode tanto ser exercitado diariamente no âmbito individual quanto praticado em conjunto.
Ela lembrou que, no início, o universo da publicidade era algo que não conhecia, mas além de campanhas e produtos em si compreendeu cedo claramente o quanto o relacionamento com marcas também fortaleceria e impulsionaria sua carreira. “E porque tive a sorte de me associar a pessoas, grupos e marcas que tinham credibilidade junto a mim, eu era uma consumidora”, pontuou, lembrando que com algumas marcas teve relacionamentos de quase 20 anos, terminado somente quando a estratégia de comunicação dessas marcas mudou.
Para ela, as questões-chave para se associar a uma marca são como o produto se apresenta no mercado e se relaciona como o público consumidor, no que tange a reponsabilidade e qualidade. Em vez de ser a artista cujo sucesso sobe à cabeça, ela diz que gosta de entender as marcas, no sentido de assegurar que possa colaborar com elas, e não costuma querer se impor: “Sou uma pessoa muito responsável. Primeiro, comigo mesma, porque só assim conseguimos ser com o outro”. E quando assina um contrato com uma marca, depois de ter decupado todos os pormenores, explicou que aí vira como uma madrinha ou tia: “Não foi a gente que pariu, mas não vamos deixar (a criança) correr para cima de um carro, você toma conta. Eu tomo conta das marcas”.
Num ambiente em que celebridades e marcas estão cada vez mais expostas a crises – ela própria viveu ao menos duas no último Carnaval, como no episódio em que em cima do trio elétrico teve de “debater” com Baby do Brasil e de acalmar foliões em congestionamento e atrasos de trios – e questionada sobre que conselhos daria para a resolução rápida de uma crise, a cantora diz que “o grande barato de administrar uma crise é a transparência”, que pode até ser mais difícil de administrar em princípio, mas é o melhor caminho para a resolução – conselho que aplica até ao filho de 14 anos, de quem diz exigir sempre a verdade. “A condição do erro, do equívoco, do não posso voltar atrás agora isso é pra todo mundo na vida, só que a gente tem que admitir quando erra”, afirmou. Ainda mais quando isso envolve um consumidor. “Meu fã não sabe todo o emaranhado, a estratégia para chegar a ele, que não pode ser só um número, objetificado”, acrescentou, dizendo ser esse o caminho menos tortuoso a tomar.
Já sobre o cancelamento da turnê, que vinha sendo trabalhada com a 30e, Ivete ressaltou o fator responsabilidade (ou a falta dela) e o fato de não colocar a si mesma no primeiro plano, fazer e depois ver o que acontece. “Não, só vou fazer se for possível fazer. Do lado de lá tem pessoas que são importantes para mim. Essa carreira não foi construída exclusivamente com a minha vontade ‘ah, vou querer ser uma cantora, ter 30 anos de carreira e foda-se o resto’. Peguei a vaidade joguei na gaveta e disse ‘fique aí, já já eu lhe pego’”, comentou dizendo, com isso, ter seguido a razão e a responsabilidade, ignorando a vaidade, que é, segundo a cantora, uma cobra peçonhenta.
Ivete também contou estar havendo uma série de especulações e notícias falsas sobre esse cancelamento, mas que não iria entrar “nessa roda de especulações”.
Embora seja uma artista multimídia, Ivete deixou claro o desejo de desacelerar um pouco, para ter mais tempo com a família e disse que a posição de apresentadora – ela esteve à frente de quatro temporadas do The Masked Singer, na Globo – toma muito tempo, logo, é algo que ela não deve continuar fazendo.
Sobre as redes sociais, Ivete as considera “um experimento ainda muito novo” que não sabemos exatamente onde vai dar. Mas muitas pesquisas de saúde mental e de comportamento já mostram alguns resultados, envolvendo todos os personagens, o hater, o que ama, o que engaja, o que usa como terapia ou para se exibir. “Eu estabeleci uma paciência em relação a esse assunto, porque ou você sucumbe ao experimento, enlouquece junto, ou tem calma, em vez de nadar e não sair do lugar. É assim que eu sinto as redes sociais”, argumentou.
Por outro lado, diz ver também o potencial grande das redes, uma vez que já é possível que o público identifique interesse ou manipulação de algoritmo. “Mas eu dou à rede social o tamanho que ela tem que ter na minha vida”, emendou, dizendo concentrar suas redes em torno do tema música e carreira e não em comunicar sua vida familiar, justamente por não ver, do outro lado, o público apenas como um número que precisa ser engajado.
Já quando se trata da relação redes sociais e crianças/adolescentes, ela prega legislação mais rigorosa. “Só se pode dirigir com 18. A responsabilidade de dirigir é igual a da internet no que aquilo provoca: supõe-se que aquele indivíduo ainda não tem maturidade para administrar”, citou em analogia, contando que suas filhas, hoje com seis anos, não têm qualquer contato. Para Ivete, existe muita negligência dos pais em relação a esse controle e ao tempo perdido por crianças e adolescentes em telas, resultando em crianças e adolescentes adoecidos, por mais cuidado que, teoricamente, os pais tenham. “Sou a favor de leis em escolas, em teatros. Na escola não entra celular. Como é que os pais falavam com a gente? Ligavam pra escola. E esse argumento de que ‘ah, mas todos os amiguinhos têm’. Se tirar de todos, todo mundo fica do mesmo jeito”, disse, tirando risos e aplausos do público.
A cantora, que disse andar estudando a comunicação não-violenta, contou que isso tem sido uma “premissa de vida”, pois não há um único sentido positivo para a violência, ao contrário da veemência. “Trago isso da minha casa, dos meus pais, e aprendi com meu público a dominar os humores”, contou.
Ao ser questionada sobre se vê a evolução da inteligência artificial como um perigo à indústria criativa, Ivete revelou que a considera revolucionária, mas entra na categoria de mais uma das evoluções da humanidade, como o fogo, a roda, o telefone. A velocidade, reconhece, é outra e aspectos negativos existem em qualquer transformação, mas vê como positiva a tecnologia no âmbito de melhorias da forma como lidamos com o planeta e a relação negligente com a natureza – não somente no Rio Grande do Sul, mas no mundo. Defendeu, no entanto, que a humanidade se utilize da IA e não o contrário.
Ao citar o Rio Grande do Sul e o desafio, antes mesmo disso, de que causas abraçar no Brasil, ela destacou que seu Instituto foi criado tendo como foco o público infantil e muito da sua criação foi amparado na relação com marcas, por ser uma questão de responsabilidade social.
Na situação emergencial do Rio Grande, Ivete contou ter mobilizado marcas com as quais trabalha – pediu, por exemplo, que a Itaipava vendesse a ela água a preço de custo, para ser enviada aos gaúchos, além da que a própria empresa havia resolvido doar por conta própria – e com quem trabalhou – a rede fluminense Supermercados Guanabara atendeu seu pedido de vender alimentos a preço de custo e se comprometeu a enviar em dobro aquilo que seu Instituto comprasse. Quatro carretas com água e alimentos foram enviadas e outras ainda serão, prometeu Ivete. “Ligo pro cara do colchão, o do brinquedo, vou me relacionando com minhas marcas e mobilizando e não quero que seja uma relação de uma mão só, mas juntos a gente pode ampliar esse movimento lindo”, resumiu.
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