Livrarias: modelo de negócio ainda é válido?
Setor se readequa para lojas menores, nichadas, com curadoria e atendimento de qualidade para promover fidelização e expansão
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Thaís Monteiro
3 de abril de 2023 - 6h01
No mês passado, duas notícias mobilizaram o mercado nacional de livrarias. O juiz Ralpho Waldo de Barros Monteiro Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, decretou falência da Livraria Cultura. Na semana seguinte, a empresa conseguiu uma liminar que suspendeu o decreto em vista de um novo exame das provas que sentenciaram a falência.
O decreto não foi necessariamente uma surpresa, tendo em vista que a Livraria Cultura estava em processo de recuperação judicial, com dividendos com editoras, mas ainda assim a notícia abalou o setor
Na avaliação de Vitor Tavares, diretor de distribuidores e importadores de livros Câmara Brasileira do Livro, a Livraria Cultura é um ícone do mercado em acervo, experiência, estratégia de reposição e outros, mas enfrentou dificuldades com a grande estrutura das lojas e alto investimento em tecnologia que não tem retorno rápido, além dos desafios impostos sobre todos os livreiros (concorrência com internet, perfil do leitor brasileiro. “O fechamento de um grande player abre algumas oportunidades, mas por outro entristece”, declara.
De forma geral, o exemplo da Livraria Cultura serve para exemplificar um modelo de loja que está caindo em desuso no segmento. Conforme o executivo, as grandes lojas não tem mais espaço no mercado, pois o custo é alto e a margem de lucro livro não mantém o equipamento, software de gestão e o mantenimento do acervo.
“O modelo de megastore surgiu pela própria carência dos bons pontos de compra de livros no Brasil. Começou pela Saraiva em São Paulo. Era um encanto porque parecia o paraíso da cultura e literatura. Entendemos que era interessante porque havia venda de livros universitário e didáticos fortes, com os quais você faz caixa para manter por muitos anos. Mas mudou a experiência do consumidor. Esses livros, quase em sua maioria, não vendem em livraria e sim em plataformas e sistema de ensino”, explica.
Algumas livrarias, como a Livrarias Curitiba e Livraria da Vila, também adotaram o modelo quando ele passou a ser tendência no Brasil. A partir de 2013, o sócio-diretor da Livraria da Vila, Flavio Seibel, notou que era necessário uma readequação. Além das questões supracitadas em relação ao ticket médio do produto e o hábito do leitor, o aluguel de shoppings era alto. “[A readequação] se mostrou benéfica e hoje vendemos mais por metro quadrado”, diz.
A mudança de rota se encontrou com uma demanda do consumidor por ambientes mais aconchegantes e acolhedores, conta a diretora de varejo do Grupo Livrarias Curitiba, Rute Pedri, e que entreguem mais valor nas curadorias. Por isso, lojas nichadas também passaram a despontar, afirma. “Vemos livrarias novas abrindo com só autoras mulheres, por exemplo, ou lojas como a Martins Fontes que é charmosa. São livrarias menores e que não são de redes abrindo e ganhando espaço”, avalia. Conforme Tavares, são lojas ou até redes fazendo investimentos paulatinos e melhor estruturados.
Os números indicam um cenário melhor para o consumo de livros em 2022. O Painel do Varejo de Livros no Brasil de 2022, realziado pelo Nielsen Bookscan e Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), indicou que foram vendidos 14 milhões de livros no ano, um crescimento de 15% em relação ao ano anterior. A receita foi de R$ 661,30 milhões para R$ 567,63 milhões. “Não é uma crise do livro e nem de mercado”, afirma o executivo da CBL.
Para não dispersar esse público e não perder vantagem sobre as grandes lojas que abrigam um maior número de livros, a estratégia é apostar em um centro logístico e de distribuição eficientes. Além disso, se torna um diferencial ter entrega rápida, afirma Rute. Essa última aposta é uma tática para competir com players de comércio eletrônico.
Amazon, 25 anos: dos livros à nuvem
“Tentamos cumprir o atendimento sem entrar nessa guerra de descontos. Tentamos não dar passos maiores que as pernas. Sempre analisamos muito bem, fazemos muita conta e não damos espaço o que nos dá velocidade de manobra grande. Vamos nos adaptando muito”, conta Seibel. O e-commerce de algumas livrarias já representam uma porcentagem maior das vendas em comparação com os ponts de venda físico. Na Livrarias Curitiba, 32% das vendas ocorrem em livrarias físicas, enquanto 68% é proveniente do digital.
Nas lojas, por sua vez, o essencial é ter um atendimento de qualidade que possibilitem os colaboradores indicarem leituras para os clientes e trabalharem de forma a oferecer curadoria. “Livro é algo muito delicado e quanto mais conhecimento de produto se passa para o cliente, mais confortável é a visão do cliente”, explica o executivo da Livraria da Vila. A empresa trabalha com treinamentos internos, com editoras, questionários para avaliar o atendimento e outras ferramentas que visam melhorar o atendimento.
Programas de fidelização também são incentivados. A marca tem o “Jeito de Ler”, projeto através do qual a compra de livros gera descontos em próximas compras. Já na Livrarias Curitiba, o cliente acumula pontos que pode usar em descontos ou retirar produtos que equivale aos pontos acumulados.
Outras estratégias de marketing listadas envolvem campanhas sazionais, eventos, sessões de autógrafos, uma boa comunicação visual nas lojas e um trabalho intenso nas redes sociais para engajar o público jovem, principalmente depois do que ficou conhecido como #BookTok, movimento de indicações de livros feio no aplicativo TikTok e que tem feito livrarias criarem seções especiais dedicadas aos livros citados na rede de vídeos curtos.
Confira também: 15 livros de marketing para ler em 2023
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